Histórias

Uma jovem comprou uma velha mala num mercado de pulgas e encontrou dentro cartas que não deveriam ser lidas

A Anna adorava feiras de antiguidades. Ela era fascinada por objetos carregados de história, itens que guardavam memórias e vidas alheias. Naquele dia, ela passeava tranquilamente pelos corredores quando avistou algo – uma antiga mala gasta, esquecida entre outras peças sem utilidade. Era feita de couro escuro, com fechos em ferrugem, o que conferia uma certa beleza única a ela. O vendedor contou que a mala havia sido encontrada no sótão de uma casa prestes a ser demolida. Sem pensar muito, Anna decidiu comprá-la, sem nem ao menos verificar o que havia dentro.

Em casa, enquanto abria o fecho, ela esperava encontrar roupas velhas ou tralhas inúteis. No entanto, dentro havia apenas um maço de cartas, amarradas por uma fita desbotada e desgastada pelo tempo. O papel estava amarelado, e as tintas, em alguns pontos, haviam se borrado. Seus dedos tremeram – eram cartas pessoais. Não deveriam estar nas mãos de estranhos. Mas algo dentro dela a impulsionava a descobrir de quem era a história que estava escondida naquelas páginas fechadas na mala.

Com delicadeza, Anna desdobrou a primeira carta. “Meu querido, espero por você todos os dias…” – começava. As palavras estavam carregadas de saudade e ternura. A mulher escrevia sobre o verão, como as macieiras floresciam no jardim, como os pássaros voltavam com a primavera, mas, acima de tudo, sobre a imensa espera por uma resposta. A carta seguinte tinha a mesma caligrafia, porém um tom mais inquietante. “Por quê você não me responde? Já se passaram três meses… Não sei se você chegou a receber alguma das minhas cartas.”

Havia muitas cartas. Em cada uma delas, a esperança inicial lentamente dava lugar à melancolia. Nas últimas páginas, a mulher escreveu: “Não sei mais se devo continuar escrevendo para você. Talvez você nunca leia estas palavras.” O coração de Anna apertou com tristeza. Ficava claro que essas cartas jamais chegaram ao seu destino.

Decidida, Anna resolveu descobrir a quem pertenciam. Durante dias, ela mergulhou em antigos arquivos da cidade, conversou com moradores mais velhos e mostrou fotografias dos envelopes na biblioteca da comunidade. Por fim, uma senhora mais idosa reconheceu a caligrafia. “Foi a Marie quem escreveu. O noivo dela foi para a guerra e não voltou. Ela o esperou por toda a vida. Dizem que ela continuava a escrever cartas para ele, mesmo após saber que ele não responderia mais. E então a mala simplesmente desapareceu…”

Anna ficou por longos minutos olhando para as cartas. Agora ela conhecia a história por trás delas. Não deveriam, de fato, ter sido lidas – mas, por outro lado, talvez precisassem ser encontradas. Naquela mesma noite, ela caminhou até um cemitério antigo, encontrou o nome gravado em uma lápide e depositou lá as páginas amareladas. Ali era o lugar onde elas sempre pertenceram.

Alguns dias se passaram, mas Anna não conseguia esquecer a história de Marie. Como seria esperar por alguém, sabendo que essa pessoa nunca mais voltaria? Ela imaginava Marie indo até a caixa de correio, ano após ano, com uma esperança que jamais seria correspondida, vendo outras mulheres caminhando de braços dados com seus maridos, enquanto se perguntava – e se ele estivesse vivo ainda, apenas incapaz de retornar?

Ela voltou ao cemitério. No local onde havia deixado as cartas, repousava uma rosa branca. Anna pegou a flor, sentiu seu perfume – fresco, mas com um leve toque de amargura. Alguém já sabia daquelas cartas. Alguém estivera ali depois dela.

Foi então que ela teve um estalo – cada carta sempre tinha um destinatário. E se, em algum lugar, ainda existissem descendentes daquele homem? E se eles também viviam com um vazio, que poderia ser preenchido por essa história esquecida?

Decidida, Anna pegou a última carta, onde o nome do destinatário estava escrito, e foi ao arquivo municipal. Passou horas estudando listas de soldados e documentos antigos. E, enfim, encontrou – o nome era compatível com o que constava na carta. O homem não voltou da guerra, mas tinha um irmão. A família do irmão ainda vivia na cidade.

Dias depois, Anna estava na frente de uma casa antiga. A porta foi aberta por uma mulher de cerca de sessenta anos. Anna estendeu-lhe o envelope:

– Encontrei estas cartas. Foram escritas para sua família.

A mulher pegou o envelope com as mãos tremendo, abriu-o e percorreu as linhas com os olhos. Lágrimas brotaram de seus olhos.

– Minha avó sempre dizia que o meu avô foi para a guerra e nunca voltou. Mas ela nunca mencionou estas cartas. Obrigada… Obrigada por trazê-las.

Anna assentiu. Sentiu que fizera o que era certo. A história, que um dia foi abafada pelo tempo, agora tinha voz novamente. E as cartas, finalmente, encontraram aqueles a quem sempre pertenceram.

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