Histórias

Um pescador solitário deixava um pedaço de pão no cais todas as noites – o que ele viu um dia mudou sua vida

O velho cais na periferia de uma vila de pescadores há muito estava desgastado. As tábuas rangiam sob os pés, e os lampiões enferrujados mal brilhavam à medida que o crepúsculo avançava. Todas as noites, exatamente no mesmo horário, lá ia Henri – um pescador calado, conhecido por todos, mas com quem quase ninguém conversava. Ele vivia sozinho, seu barco era velho, e suas redes – nada resistentes. Mas havia algo que nunca mudava: antes de deixar o cais, ele sempre colocava um pedaço de pão na beira de uma das tábuas.

Ninguém sabia por que ele fazia isso. Alguns diziam que era uma antiga superstição, outros – que ele alimentava as gaivotas daquele jeito. Mas Henri nunca explicava nada. Apenas deixava o pão e desaparecia na escuridão.

Isso continuou por anos, até que, um dia, tudo mudou.

Naquela noite, Henri foi novamente ao cais, como de costume. O mar estava calmo, as ondas preguiçosamente batiam nos pilares. Ele colocou o pão no lugar de sempre e estava prestes a partir, quando de repente percebeu um movimento na água. Algo escuro deslizou entre as tábuas, e então ele a viu – uma menina pequena com olhos enormes e assustados. Ela estava sentada na plataforma inferior do cais, tremendo de frio, encolhida.

Henri congelou. A menina parecia magra, sua roupa estava molhada e suja. Ele não sabia de onde ela havia vindo ou há quanto tempo estava ali, mas havia algo certo – ela precisava de ajuda.

– Você está sozinha? – ele perguntou em voz baixa.

A menina acenou com a cabeça. Ela olhou para o pedaço de pão que ele tinha acabado de colocar, mas não se moveu. Henri se ajoelhou cautelosamente e empurrou o pedaço de pão mais perto dela. Ela o encarou por um longo tempo, então agarrou o pão e começou a comer vorazmente.

Aquela noite, ele não voltou para casa sozinho. Ele levou a menina para sua casa, deu a ela roupas secas e um chá quente. Ela quase não falava, mas, dos poucos fragmentos de palavras dela, Henri entendeu que a mãe da menina já havia falecido há tempos, e seu pai era pescador, que um dia partiu para o mar e nunca voltou. Desde então, ela vivia como podia – se escondendo, procurando comida, temendo as pessoas. E durante todo esse tempo, alguém deixava pedaços de pão no cais …

Henri sentiu algo quente despertar em seu peito. Durante todo esse tempo, ele pensava que estava apenas alimentando as gaivotas ou prestando uma homenagem ao passado. Mas, na verdade, ele estava salvando alguém. Alguém estava lá, na escuridão, alguém esperava e tinha esperança de que, no dia seguinte, outro pedaço de pão aparecesse.

Desde então, a luz não brilhava mais solitária na casinha à beira-mar. Agora, Henri tinha um motivo para voltar para casa, não apenas com sua pesca, mas também com um sorriso. E todas as noites, ao caminhar em direção ao cais, ele não deixava mais pão – ele segurava uma pequena mão na sua.

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