Um fazendeiro solitário levou sua vaca por 10 quilômetros na nevasca para salvar sua vida
Os vidros das janelas tremiam com as rajadas ferozes do vento quando Henrik percebeu que algo estava errado com Margo. A vaca leiteira de seis anos, a última de seu outrora próspero rebanho, respirava com dificuldade, caída na palha no canto do velho celeiro. Seus grandes olhos, normalmente calmos e atentos, agora estavam cheios de dor. Embora o parto estivesse previsto apenas para o próximo mês, o experiente fazendeiro imediatamente entendeu — o parto prematuro havia começado, e a ajuda veterinária era indispensável.
Henrik pegou o telefone, mas, como de costume, não havia sinal. A nevasca de fevereiro, que já rugia há dois dias, isolou sua pequena fazenda do resto do mundo. Até o ponto veterinário mais próximo na vila eram dez quilômetros por estradas cobertas de neve. Aos seus sessenta e dois anos, Henrik não fazia esse tipo de jornada há muito tempo, mas não havia escolha.
“Segura firme, menina”, — sussurrou ele, vestindo a jaqueta surrada e enrolando o cachecol. Ele improvisou um arreio para Margo com cintos antigos, colocou uma coberta de lã sobre ela e guiou o animal para fora do celeiro quente na nevasca fervente.
Os primeiros dois quilômetros foram relativamente fáceis — a estrada descia e o vento soprava em suas costas. Mas quando eles viraram para o leste, a tempestade desabou sobre eles com toda a sua fúria. A neve cegava, o vento derrubava-os, e a temperatura parecia cair a cada passo. Henrik parava frequentemente para recuperar o fôlego e dar descanso a Margo, que cada vez mais se ajoelhava, recusando-se a seguir em frente.
“Não podemos parar”, — ele convencia tanto a vaca quanto a si mesmo, ajudando-a a se levantar. Em trinta anos de agricultura, Henrik perdeu muito: sua esposa Sara, cansada da vida no campo e desaparecida na cidade com seu único filho Lukas; a maior parte das terras que teve que vender por causa das dívidas; quase todo o rebanho, exceto Margo. Esta vaca, nomeada em homenagem à atriz favorita de sua falecida mãe, agora era sua única família, a última ligação com o passado.
Quando eles atingiram a metade do caminho, Henrik percebeu que suas forças estavam quase no fim. Seus dedos nas luvas velhas estavam dormentes, e sua respiração transformara-se em ofegos dolorosos. Mas foi nesse momento que um feixe de luz apareceu à frente — um caminhão avançava lentamente pela estrada. Juntando suas últimas forças, o fazendeiro acenou, tentando chamar a atenção do motorista.
Do caminhão parado, saiu um jovem. “Meu Deus, o que você está fazendo com um tempo desses?” — gritou ele através do uivo do vento, ajudando Henrik e sua vaca a subirem no reboque, onde já estavam sacos de ração.
“Martin, estou trabalhando como veterinário nesta área há dez anos, mas nunca vi algo assim”, — disse o Dr. Felipe algumas horas depois, entregando ao exausto fazendeiro uma xícara de chá quente. Na palha ao lado de Margo, que agora respirava de forma tranquila, havia um bezerrinho recém-nascido — saudável, apesar do parto prematuro.
“Dez quilômetros na nevasca para salvar uma vaca… Você entende que arriscou sua vida?”
Henrik olhava silenciosamente para o bezerrinho, para suas tentativas de se levantar sobre suas pernas trêmulas. “Às vezes, tudo o que temos é a responsabilidade por aqueles que dependem de nós”, — finalmente disse ele. “Não é apenas uma vaca. É minha família”.
Naquela noite, um pequeno artigo apareceu no jornal local sobre o fazendeiro que atravessou a nevasca para salvar sua vaca. E foi lido por Lukas, que não via o pai há quase dez anos. Uma semana depois, a velha casa da fazenda ecoou pela primeira vez com risadas infantis em muito tempo — o filho chegou com a esposa e dois filhos.
Às vezes, um ato de devoção pode derreter o gelo da alienação de anos e nos lembrar o que realmente importa.