Histórias

«Ter um filho aos 50 anos?! Você enlouqueceu! Está envergonhando nossa família!» — gritava minha filha mais velha ao saber sobre minha gravidez. Mas três anos depois, ela veio até mim chorando e disse algo que eu jamais esperaria…

Eu tinha cinquenta anos quando o teste mostrou duas linhas. Estava sentada no banheiro e não podia acreditar. Cinquenta. Nessa idade, as mulheres se tornam avós, não têm seu primeiro filho de um novo casamento.

Eu estava com meu marido há três anos. Ele tinha quarenta e dois, era seu primeiro casamento e ele não tinha filhos. Eu fiquei casada vinte e três anos no meu primeiro casamento, dei à luz uma filha e depois me divorciei. Quando conheci meu novo marido, nem pensava em ter filhos — a idade já não era mais adequada.

Mas a vida tinha outros planos.

Contei ao meu marido. Ele me abraçou e disse: “É um milagre. Quero esse filho”. Nós dois queríamos.

Minha filha tinha vinte e cinco anos. Ela morava sozinha, trabalhava em uma agência de publicidade, namorava um rapaz. Convidei-a para jantar para dar a notícia.

“Estou grávida”, — disse eu, quando nos sentamos à mesa.

Ela congelou com a taça na mão. Olhou para mim, depois para o meu marido, e novamente para mim.

“É uma piada?” — sua voz era fria.

“Não. Estou no terceiro mês”.

Ela colocou a taça tão bruscamente que quase quebrou.

“TER UM FILHO AOS CINQUENTA ANOS?! Você enlouqueceu?!” — ela gritava. “Você está envergonhando nossa família! Eu serei 25 anos mais velha que meu irmão ou irmã! Isso é anormal! O que meus amigos dirão?! ‘Sua mãe teve um filho? Ela poderia ser avó!'”

Tentei acalmá-la, explicar. Mas ela não ouvia.

“Você pensou em mim? Em como eu vou lidar com isso? Claro que não! Você só pensou em si mesma! Nesse…” — ela apontou para mim, — “nessa loucura!”

Ela saiu batendo a porta. Chorei a noite toda.

A gravidez foi difícil. A idade se fazia sentir — náuseas, pressão alta, risco de aborto. Fiquei em repouso absoluto duas vezes. Minha filha não ligava. Nem uma vez.

Eu lhe escrevia: “Amanhã tenho ultrassom, quer ir comigo?” Ela não respondia. “Estamos decorando o quarto do bebê, poderia nos ajudar a escolher a cor?” Silêncio.

Meu marido me apoiava, mas eu sentia falta da minha filha. Ela era minha única filha, éramos próximas. E agora — um vazio.

Dei à luz em março. Um filho. Um parto difícil, mas ele estava saudável. Lindo, com olhos escuros. Eu o segurava nos braços e chorava de felicidade.

Minha filha não veio para o hospital.

Os primeiros meses foram difíceis — noites sem dormir, cólicas, cansaço. Aos cinquenta, é mais difícil do que aos vinte e cinco. Mas eu estava feliz. Meu marido estava ao meu lado, ajudava, levantava à noite.

Minha filha não aparecia. Não ligava. Não respondia às minhas mensagens com fotos do filho.

Passou um ano. Depois dois. Eu tentava não pensar nela, mas a dor não ia embora. Meu filho crescia, dava os primeiros passos, falava as primeiras palavras. Mas sua irmã não via isso.

No aniversário, mandei-lhe um convite. Ela não veio.

No terceiro ano, parei de escrever. Aceitei que havia perdido minha filha.

E então, uma noite — meu filho tinha dois anos e oito meses — soou a campainha da porta. Eu abri.

Minha filha. Pálida, com os olhos vermelhos.

“Posso entrar?” — sua voz tremia.

Eu dei um passo para trás sem dizer nada. Ela entrou, sentou-se no sofá. Ficou em silêncio por um minuto, depois começou a chorar.

“Estou grávida”, — disse em meio às lágrimas. “Quatro meses”.

Eu sentei ao lado dela. Queria abraçá-la, mas hesitei.

“Vim dizer…” — ela olhava para o chão, — “me desculpe. Por tudo. Por não estar ao seu lado. Por ter gritado. Por ter perdido três anos da vida do seu filho. Do meu irmão”.

Lágrimas desciam por seu rosto.

“Só agora entendi. Quando soube que estava grávida. Quando senti o bebê se mexer. Isso… isso é felicidade. Como você pôde me perdoar? Eu não fui ao hospital ver você! Eu só pensava em mim! No que os outros diriam! E não em você! Não na sua felicidade!”

Ela chorava intensamente. Eu a abracei. Firme.

“Fui tão egoísta”, — sussurrava ela. “Tão cruel. Mãe, me perdoe. Por favor”.

Nós sentamos abraçadas e choramos juntas.

Meu filho apareceu na porta — acordou com o barulho. Viu uma mulher desconhecida.

“Esta é sua irmã”, — eu disse a ele. “Ela quer te conhecer”.

Minha filha olhou para ele — pequeno, com o cabelo desgrenhado, sonolento. Sorriu através das lágrimas.

“Oi”, — disse ela suavemente. “Sou sua irmã mais velha. Desculpe por demorar tanto para vir”.

Meu filho se aproximou e ofereceu a ela seu brinquedo favorito — um carrinho. Ele sempre fazia isso quando queria se aproximar de alguém.

Minha filha pegou o carrinho, e as lágrimas começaram a cair novamente.

Agora já se passou um ano. Minha filha teve uma menina. Eu estive no hospital, segurei minha neta nos braços. É estranho — tenho um filho de dois anos e uma neta de três meses.

Nossas crianças estão crescendo juntas. Meu filho e a filha dela — tio e sobrinha, mas com apenas dois anos e meio de diferença. Brincam juntos como irmãos.

Minha filha frequentemente diz: “Desculpe por perder esses três anos. Eu fui uma tola”. Eu respondo: “O importante é que você voltou”.

Mas às vezes, à noite, penso: será que fiz bem em ter um filho aos cinquenta? Causei dor à minha filha com minha decisão? Ou será que ela simplesmente não estava pronta para aceitar que os pais também são pessoas com seus próprios desejos?

E aí vem a pergunta que não me deixa em paz: eu tinha o direito de ter um filho aos cinquenta, sabendo que minha filha adulta seria contra? Ou a maternidade é uma escolha pessoal que não deve depender da opinião, mesmo dos mais próximos? E quem foi egoísta — eu, que dei à luz nessa idade, ou ela, que só pensava no que os outros diriam?

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