Quando percebi que meu marido colocou uma senha no celular, tomei uma atitude desesperada

Tom e eu nunca escondemos nossos telefones um do outro. Não era algo que a gente fizesse para demonstrar confiança — simplesmente parecia algo natural. Eu podia pegar o celular dele para colocar uma música no carro. Ele podia usar o meu para responder uma mensagem da minha mãe quando eu estivesse ocupada. Tudo era fácil, sem tensões.
Mas um dia, peguei o celular dele — e apareceu uma tela de bloqueio. Com uma senha. Quatro números. Um ícone de cadeado. Algo estalou dentro de mim.
— Você mudou as configurações? — perguntei. — Por que agora tem senha?
Ele deu de ombros:
— Por causa do trabalho. Eles pediram para criptografar tudo, segurança para os clientes.
Parecia lógico. Mas algo na voz dele mudou. Sóbrio demais. Calmo demais. E, sem entender bem o porquê, comecei a notar pequenos detalhes. Ele passou a levar o celular até para o banheiro. As notificações não apareciam mais na tela. À noite, ele respondia mensagens em silêncio, com um leve sorriso nos lábios.
Tentei ignorar. Fiquei repetindo para mim mesma: «Você não é do tipo ciumenta. Você confia». Mas a inquietação não ia embora.
Até que, certa noite, fiz algo que eu mesma jamais esperava. Espiei ele digitando a senha do celular. Fingi que estava dormindo e, depois, peguei o telefone. Meu coração batia tão forte que parecia estar na garganta.
Eu não estava procurando por uma traição. Queria uma confirmação de que tudo estava bem. De que minhas preocupações eram bobagem. Que eu podia relaxar.
Mas entre as mensagens havia uma conversa com uma mulher. Não era íntima. Mas era pessoal demais. Termos carinhosos. Segredos partilhados. Perguntas como: «Quando nos vemos de novo?» — e respostas como: «Só não em casa. Lá é complicado».
Não continuei lendo. Coloquei o celular de volta no lugar. E me deitei. Fiquei ali até amanhecer. Não chorei. Apenas escutei ele respirando ao meu lado. E senti uma barreira silenciosa crescendo entre nós.
De manhã, eu disse que sabia de tudo. Sem gritos. Ele não negou. Disse que «não era nada». Que eram «apenas palavras». Que estava confuso. Que se sentia sufocado, mas não queria ir embora.
Conversamos por horas. Depois ficamos em silêncio por mais tempo ainda. Estamos juntos até hoje. Mas algo mudou. Eu perdoei — em parte. Ele se tornou mais transparente. Mas confiança — não é como um curativo. Não se mantém com palavras. Ou está lá, ou você ainda tenta juntar os pedaços dela.
A senha do celular se tornou um símbolo para mim. Não de traição. Mas do momento em que algo dentro de mim se fechou pela primeira vez.