Histórias

Quando eu tinha 15 anos, meu pai nos deixou, a mim e à minha mãe. Achava que já tinha superado tudo… até vê-lo em frente a uma loja

Quando eu tinha quinze anos, meu pai nos deixou por uma mulher mais jovem. Isso não foi suficiente — ele levou todas as nossas economias e parou de pagar pela casa. Minha mãe e eu ficamos literalmente sem nada. Lembro daquela noite: minha mãe sentada na cozinha, as mãos tremendo, e eu de pé na porta, sentindo ódio pela primeira vez na vida. Ódio verdadeiro. Cruel. Naquele momento, jurei a mim mesma que um dia ele teria tudo de volta. Mesmo que levasse mil anos, isso aconteceria.

Os anos passaram, a vida seguiu em frente. Estudos, trabalho, relacionamentos, rotina. Parecia que eu não pensava mais nisso com tanta intensidade. Mas, por dentro, ainda vivia a promessa da garota de quinze anos que estava descalça em um apartamento quase vazio, assistindo a mãe reunir documentos para o tribunal. A justiça tinha que alcançá-lo, e eu acreditava que um dia esse momento chegaria.

E então, um dia, em uma dessas tardes normais de trabalho, eu estava voltando para casa. O barulho da estrada, as pessoas apressadas, bolsas, propaganda, tudo habitual. De repente, eu o vi. Não entendi de imediato que era ele. Estava em frente ao supermercado, curvado, envelhecido, como se tivesse não sessenta, mas cem anos. Cabelos ralos e grisalhos, bochechas afundadas, roupa barata. Segurava uma sacola e contava moedinhas — demoradamente, com atenção, como se essa quantidade de moedas determinasse se ele conseguiria comprar pão ou não.

Fiquei paralisada. Por dentro, tudo se revirou, o coração disparou até a garganta. Não era aquele homem confiante que um dia nos deixou sem dinheiro. Era uma pessoa cuja vida tinha passado como um rolo compressor. Ele não levantou os olhos, não me viu. Passei por ele, mas após alguns passos, me virei. Ele ainda estava lá, encurvado, olhando novamente para a mão cheia de moedas.

Mais tarde, soube por uma conhecida: aquela jovem mulher o deixou há tempos. O negócio dele faliu, dívidas, doenças, solidão. Ele aluga um quartinho e sobrevive com bicos. Nenhum sucesso, nenhuma “nova vida” pela qual destruiu a antiga. A justiça, ao que parece, já o alcançou.

E sim, o primeiro pensamento foi: eis a retribuição. Aquela vingança pela qual me agarrei durante toda a adolescência. Mas logo depois, outro pensamento chegou — e agora? Ir até ele e falar tudo o que guardei por anos? Perguntar: você se lembra de como nos deixou sem um tostão? Ou ao contrário — afastar-me, tendo decidido que a vida já o puniu muito mais severamente do que minhas palavras poderiam?

Eu fiquei lá, na calçada, sem conseguir decidir. Duas versões de mim brigavam dentro de mim: a menina que precisava de justiça e a mulher adulta que sentiu medo de olhar para uma vida alheia quebrada. Eu me virei e fui embora. Mas desde então, uma dúvida me atormenta: foi força ou fraqueza?

E você, o que acha — eu deveria ter ido até ele?

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