Histórias

«Por que os pobres precisam de filhos? Vocês nem conseguem alimentá-los!» — declarou minha irmã rica, que ela mesma não podia ter filhos. Mas depois de dez anos, ela me ligou com um pedido que me deixou sem palavras…

Minha irmã sempre foi bem-sucedida. Negócio próprio, mansão, dois carros, férias no exterior três vezes por ano. Eu trabalhava como professora em uma escola comum, meu marido — operário da construção civil. Vivíamos modestamente, alugávamos um apartamento de dois quartos.

Tínhamos dois filhos: um menino de sete anos e uma menina de cinco. Dávamos conta, embora fosse difícil. E então, engravidei do terceiro. Não planejado.

Jantar de família na casa dos meus pais. Eu anunciei a novidade. Minha mãe ficou feliz, meu pai me parabenizou. Mas minha irmã me olhou com desprezo.

“Por que os pobres precisam de filhos?” — disse ela em voz alta, para que todos ouvissem. “Vocês nem conseguem alimentá-los direito! Olhe para você — roupas do mercado, crianças com roupas usadas. E agora mais uma boca? Isso é irresponsabilidade!”

Eu fiquei em silêncio. Doía e eu me sentia envergonhada. Meu marido apertou minha mão debaixo da mesa.

“Seria melhor pensar na qualidade de vida, não na quantidade de filhos”, — continuou minha irmã. “Mas vocês não entendem. Vocês são pobres”.

Minha mãe tentou pará-la, mas minha irmã estava a todo vapor: “Eu não tenho filhos porque quero dar tudo de melhor a eles. E vocês só geram pobreza”.

Saímos antes do sobremesa. Chorei durante todo o caminho para casa.

Dei à luz uma menina. Ficou ainda mais difícil financeiramente, mas conseguimos. Eu pegava horas extras na escola, meu marido trabalhava nos fins de semana. As crianças cresciam felizes — talvez sem brinquedos caros, mas com amor e cuidado.

Minha irmã continuou na mesma. Em todas as festas de família, ela encontrava uma razão para nos criticar: “Novamente com casacos velhos? É vergonhoso olhar para vocês”. “As crianças em escola pública? Meu Deus, como vocês conseguem!”

Parei de comparecer a encontros familiares. Era difícil suportar as humilhações.

Dez anos se passaram. As crianças cresceram — o mais velho com dezessete, a do meio com quinze, a mais nova com dez. Finalmente compramos nosso próprio apartamento — pequeno, mas nosso. A vida melhorou.

Durante todos esses anos, minha irmã não teve filhos. Ela tentou — foi a médicos, fez várias FIVs, viajou para clínicas no exterior. Nada ajudou. O diagnóstico era final: ela não poderia ter filhos.

Soube disso por minha mãe. Sentia pena da minha irmã, mas não havia proximidade entre nós já há muitos anos.

Certa noite, minha irmã me ligou. Pela primeira vez em cinco anos.

“Preciso falar com você. Sério”, — sua voz estava estranha, não arrogante, mas perdida.

Nos encontramos em um café. Ela parecia cansada, envelhecida. Sentou-se em frente a mim, ficou em silêncio por um longo tempo.

“Eu não posso ter filhos”, — finalmente disse ela. “Os médicos disseram definitivamente. Nenhuma chance”.

Eu assenti. Não sabia o que dizer.

“Eu quero te pedir algo”, — ela segurou minha mão. “Dê-me um dos seus filhos. Para adotar. Oficialmente”.

Fiquei sem palavras. Não acreditei no que ouvi.

“Você tem três”, — continuou ela. “E um é suficiente para mim. Eu darei tudo a ele — as melhores escolas, viagens, universidade no exterior, futuro. Você não pode lhes proporcionar uma vida digna. Olhe a verdade nos olhos”.

Olhei para ela e não a reconheci. Não era um pedido. Era um negócio.

“Eu pagarei. Pagarei bem. Você poderá melhorar a vida dos dois que ficarem”.

“Você quer comprar meu filho?” — eu não acreditava que isso era real.

“Quero dar a um dos seus filhos a chance de uma vida normal! Você é mãe — pense no futuro deles!”

Levantei-me. Peguei minha bolsa em silêncio.

“Meus filhos não são mercadoria”, — disse eu suavemente. “E eles não precisam do seu dinheiro. Eles precisam de amor. Do amor que você não pode dar, porque você nem entende o que é ser mãe”.

“O que você pode dar a eles?! Pobreza!”

“Eu lhes dou uma família. Uma família de verdade. Onde eles não são brinquedos de uma tia rica, mas filhos amados”.

Eu fui embora. Nunca mais nos vimos.

Passaram-se três anos. Minha irmã tentou adotar por meios oficiais, mas foi recusada — os psicólogos a consideravam despreparada. Ela ficou sozinha na sua mansão.

Meus filhos cresceram. O mais velho entrou na universidade no sistema público, trabalha meio período. A do meio se apaixonou pela arte, quer fazer faculdade de artes. A mais nova estuda em uma escola de música.

Eles são felizes. Sim, não temos uma mansão. Sim, não vamos a resorts caros. Mas temos uns aos outros. E isso vale mais do que qualquer dinheiro.

Às vezes me pergunto: fui cruel demais? Talvez minha irmã pudesse realmente oferecer mais a uma criança? Melhor educação, oportunidades? Mas então olho para meus filhos — seus sorrisos, abraços, como cuidam uns dos outros — e entendo: fiz a escolha certa.

Só que a pergunta continua me perturbando: eu tinha o direito de negar à minha irmã, sabendo como ela sofre de infertilidade? Ou a maternidade não é sobre dinheiro e oportunidades, mas sobre amor e estar presente? E o que é mais importante para uma criança — riqueza ou família?

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