Histórias

Os parentes do meu marido estavam certos de que eu não entendia nada. Até que comecei a falar na língua deles na mesa de jantar em família…

Meu marido é árabe. Nos conhecemos na Europa, nos apaixonamos rapidamente e nos casamos sem muitos cálculos. Achava que tínhamos tudo às claras: duas culturas, uma família. A família dele sempre foi barulhenta, emocional, com um monte de tradições que eu não entendia completamente, mas tentava respeitar.

No início, quando nos reuníamos na casa dos pais dele, eu quase não entendia nada. Eles mudavam para o árabe, riam, discutiam algo, lançavam olhares rápidos na minha direção. Meu marido sussurrava:
– Não se preocupe, nada de ruim, se for algo importante – eu traduzo.

Mas lá dentro algo sempre me incomodava. Uma sensação de que você está à mesa da sua própria casa, mas como se não pertencendo totalmente.

Decidi aprender a língua. Primeiro devagar, por aplicativos, depois cursos, depois intensivo. Meu marido ria:
– Por que você precisa disso? Você vive comigo, não com meus irmãos.
Mas eu continuava teimosamente. Talvez a intuição já estivesse me puxando pela manga naquela época.

Depois de alguns meses, comecei a captar não apenas palavras isoladas, mas também o sentido. Não tudo, mas o suficiente para entender quando a conversa de repente ficava muito silenciosa e os olhares muito significativos.

Aquele jantar eu me lembro segundo por segundo. Mesa grande, arroz, carne, saladas, chá, crianças correndo, adultos conversando. Eu trouxe meu prato, a mãe dele elogiou. Parecia tudo como sempre.

Primeiro, falaram em inglês, por minha causa. Depois, como de costume, mudaram suavemente para o árabe. Eu estava sentada, comendo calmamente e fingindo que estava ocupada com o prato. Na verdade, só estava ouvindo.

A irmã mais velha dele de repente perguntou em árabe:
– E quando você vai contar a ela?
Ele murmurou algo, tipo: depois, não agora.
Fiquei tensa.

Depois ela disse uma frase que eu provavelmente lembrarei para sempre:
– Ela sabe sobre a segunda esposa?

Minhas mãos realmente gelaram. Eu estava sentada em frente e naquele momento ele nem sequer olhou para mim.
Respondeu calmamente, como se falasse sobre a compra de um carro:
– Não. Ela não sabe. Será difícil para ela, melhor depois.

A irmã suspirou:
– Você já deu sua palavra àquela família. Não pode esconder para sempre que pretende se casar novamente.

E aí não foi só doloroso, foi também repugnante.
Estão discutindo algo que vira minha vida de cabeça para baixo, sentados a um metro de mim, na língua deles, como se eu fosse um móvel surdo.

Coloquei o garfo na mesa, limpei as mãos com o guardanapo e em árabe fluente disse:
– Conversa interessante. Especialmente quando a primeira esposa está sentada bem aqui.

O silêncio caiu sobre a mesa como um tijolo.
A irmã quase derrubou a xícara. A mãe dele arregalou os olhos. Ele empalideceu.

– Você… entende árabe? – sussurrou ele.
– O suficiente, – respondi. – Especialmente a palavra «segunda esposa». A vida me ensinou isso muito rapidamente.

Ninguém sabia para onde olhar. Ele tentou dizer algo:
– Ouça, não é bem assim, há tradições, você não entende…
Interrompi:
– Não, agora eu entendo muito bem. Você estava planejando ter uma segunda esposa, sem ao menos conversar com a primeira.

Levantei-me da mesa. A sala parecia abafada, a comida sem sabor.
– Eu vou embora, – disse eu. – Não quero atrapalhar vocês discutindo minha vida sem mim.

No corredor, ele me alcançou.
– Espere, por favor. É assim que fazemos, não é contra você, é…
Virei-me para ele:
– O que tínhamos era uma coisa: casamento a dois. E honestidade. Você pelo menos perguntou o que é aceito para mim?

Ele ficou em silêncio. Uma pausa muito conveniente, quando já não há o que dizer.

Agora estou escrevendo isso de um quarto alugado. Pequeno, sem tapetes e panelas enormes, sem cheiros orientais e longas conversas «sem mim». Mas aqui não há pessoas que decidem quantas esposas eu «como primeira» devo suportar.

Ainda respeito a cultura dele. Mas não sou obrigada a ser o pano de fundo para tradições alheias que me pisoteiam como ser humano. Eu tentava me tornar parte da família, aprendi a língua, tentei entender o mundo deles. E descobri que, no mundo deles, o meu lugar é – de lado, enquanto os homens decidem quantas esposas terão.

Estou aqui pensando:
digam sinceramente, vocês conseguiriam ficar com alguém que planeja uma segunda esposa nas suas costas, discute isso com todos, menos com você, e sinceramente acredita que você «não vai entender»? Ou nesse momento a única saída normal é dizer «respeito suas tradições, mas que em sua vida haja outra primeira esposa» e sair?

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