Histórias

Oito dias após o funeral da minha esposa, foram retirados da sua conta dinheiro pelo aluguer de um carro. E aquilo que descobri depois virou tudo do avesso…

Minha esposa morreu há oito dias. Câncer. Lutou por dois anos, não desistiu. No final foi difícil — dor, hospital, morfina. Eu fiquei ao lado dela, segurando sua mão. Ela se foi silenciosamente, dormindo. Eu tenho quarenta e cinco anos, ela tinha quarenta e dois.

O funeral aconteceu há três dias. Eu ainda não conseguia acreditar que ela se foi. Andava pela casa, via suas coisas, ouvia sua voz na minha cabeça.

Ontem recebi uma notificação do banco — débito na conta. Abri a mensagem. Aluguel de carro. Empresa na cidade vizinha. Valor de trezentos euros.

Eu não entendi. Não aluguei carro. Poderia ser erro? Fraude?

Liguei para o banco. Eles disseram — o pagamento foi feito com o cartão da minha esposa. O cartão dela está vinculado à nossa conta conjunta. Data do débito — seis dias atrás.

Seis dias atrás, ela já estava morta. No necrotério. Como poderiam ter pago o aluguel com o cartão dela?

Entrei no carro e fui até a empresa. Dirigi por uma hora, minhas mãos tremiam no volante. Seriam golpistas usando o cartão dela? Roubaram os dados? Como?

Cheguei, entrei no escritório. Fui até o balcão e mostrei a notificação de débito. Disse — é meu cartão, eu não aluguei nenhum carro, isso é um erro.

O funcionário olhou no computador. Disse — a locação foi feita por uma mulher, aqui estão os dados. Mostrou a tela — nome da minha esposa, dados do passaporte dela.

Tirei o telefone com as mãos trêmulas. Mostrei uma foto da minha esposa. Perguntei — é ela?

O funcionário olhou para a foto. Empalideceu. Assentiu — sim, é ela. Ela esteve aqui há dez dias. Alugou um carro por uma semana.

Dez dias atrás. Dois dias antes de sua morte. Ela estava no hospital, morrendo. Como poderia ter alugado um carro?

Eu disse ao funcionário — é impossível. Minha esposa morreu há oito dias. Ela não poderia estar aqui.

Ele ficou confuso. Disse — mas eu a vi. Ela alugou o carro, assinou os documentos. Aqui está a assinatura dela.

Ele me mostrou o contrato. Lá estava a assinatura. A caligrafia dela. Eu conhecia há vinte anos.

Eu não entendia nada. Pedi — mostre as câmeras. Devem ter câmeras de segurança.

O funcionário hesitou, depois chamou o gerente. Explicou a situação. O gerente olhou para mim com empatia e me levou para a sala com os monitores.

Ligou a gravação de dez dias atrás. Eu olhei para a tela.

Na gravação, uma mulher entrava no escritório. Magra, de casaco escuro, cabelo claro. Aproximava-se do balcão, conversava com o funcionário, assinava documentos.

Eu olhei mais de perto. Não era minha esposa. Parecia, muito parecida. Mas não era ela. As feições eram mais delicadas, o cabelo um pouco mais claro, os movimentos diferentes.

Eu soltei um suspiro. Disse — não é minha esposa. Parece, mas não é ela.

O gerente olhou para a foto da minha esposa no meu telefone, depois para a gravação. Concordou — de fato, parecida, mas não a mesma mulher.

Eu perguntei — como ela pagou? Com o cartão da minha esposa?

O gerente verificou. Sim, pagamento feito com o cartão em nome da minha esposa. Mas como a outra mulher tinha o cartão?

Liguei para a polícia de lá mesmo. Os oficiais vieram, viram a gravação, pegaram os documentos. Disseram — é fraude, roubo de dados, vamos investigar.

Voltei para casa tarde à noite. Sentei na cozinha, onde eu e minha esposa tomávamos café todas as manhãs por vinte anos. E comecei a pensar.

Dez dias atrás, minha esposa estava no hospital. Nos últimos dias de vida. Eu estava lá quase o tempo todo. Mas algumas vezes saí — comprar comida, tomar um banho em casa.

Nas horas em que eu não estava, alguém a visitou? Alguém pegou o cartão dela, os dados do passaporte? Usou enquanto ela estava morrendo?

A polícia encontrou a mulher uma semana depois. O carro alugado foi encontrado em outra cidade. A mulher foi presa.

Descobriu-se — ela era enfermeira. Trabalhava no hospital onde minha esposa estava. Tinha acesso aos quartos, aos pertences dos pacientes.

Ela roubou o cartão da minha esposa, copiou os dados do passaporte. Falsificou a assinatura, pegando um exemplo dos documentos médicos. Alugou um carro em nome de uma mulher moribunda.

A polícia disse — ela tinha feito isso antes. Vários pacientes que estavam morrendo, que não tinham parentes por perto o tempo todo. Ela roubava dados, fazia empréstimos, locações, compras. Usava os cartões de pessoas moribundas.

Ela foi julgada. Pegou três anos. Por roubo, fraude, abuso de confiança.

Mas isso não me confortou. Eu pensava nos últimos dias da vida da minha esposa. Ela estava no hospital, fraca, morrendo. Confiava nas enfermeiras que cuidavam dela.

E uma delas vasculhava seus pertences. Roubava seu cartão. Copiava seus dados. Usava enquanto minha esposa ainda respirava.

Minha esposa nem sabia. Ela morreu sem saber que foi roubada nos últimos dias de sua vida.

Lembro daquela enfermeira. Sorria para mim quando eu chegava. Perguntava — como você está aguentando? Posso ajudar em algo? Eu agradecia por cuidar da minha esposa.

E enquanto isso, usava o cartão de uma mulher moribunda para alugar um carro para si mesma.

Já se passaram seis meses. Fechei a conta, recuperei o dinheiro pela justiça. Caso encerrado.

Mas eu não consigo esquecer. Os últimos dias de vida da minha esposa. Ela estava tão indefesa, tão vulnerável. E alguém usou isso.

Quantos mais casos assim existem? Quantos pacientes moribundos têm seus dados roubados quando não conseguem se defender? Quantos parentes recebem notificações de débitos já após o funeral?

Confiamos no pessoal médico. Confiamos a eles a vida de nossos entes queridos. E às vezes eles roubam dos moribundos.

Me digam: vocês verificam as contas após a morte de um ente querido? Ou acham que os hospitais são seguros, que as enfermeiras não podem roubar de um paciente moribundo?

E se isso acontecesse com seu ente querido — você perdoaria? Ou três anos de prisão para a enfermeira que roubou dos moribundos é uma punição muito branda?

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