Histórias

O vovô me criou depois que meus pais faleceram e sempre dizia que, além dele, eu não tinha mais ninguém. Mas duas semanas após seu funeral, recebi uma ligação… e tudo o que eu sabia sobre minha vida revelou-se uma mentira

Quando eu tinha seis anos, meus pais saíram tarde numa noite de novembro e não voltaram. Um motorista bêbado os matou na hora.
Enquanto os adultos cochichavam sobre o que fazer comigo, um homem se levantou e disse com firmeza:

«Ela vai morar comigo. E ponto final».

Esse homem era meu avô.
Ele tinha sessenta e cinco anos, já mancava de uma perna e sempre reclamava de dor nas costas. Mas ele não hesitou por um segundo.

Desde aquele dia ele se tornou a minha única família.

Ele se mudou para um quarto pequeno e me deu o seu.
Aprendia a fazer tranças assistindo a vídeos no YouTube.
Sentava-se em cadeiras pequeninas no jardim de infância, ia a reuniões escolares, preparava meu lanche.
Vivíamos de maneira simples, mas tranquila.

E durante toda a minha vida eu ouvi a mesma frase:

«Não podemos nos dar ao luxo disso, querida».

Eu ficava com raiva dele, chorava no travesseiro, achava que ele era apenas avarento ou severo demais.
Mas quando ele adoeceu, eu vi pela primeira vez o quão frágil ele era.
E quando ele morreu — foi como se o chão se abrisse sob os meus pés.

Eu não comia, quase não dormia.
A casa ficou silenciosa, como uma caixa vazia.

E então, duas semanas após o funeral, recebi uma ligação de um número desconhecido.
Uma mulher disse:

«Precisamos nos encontrar. É sobre o seu avô. E sobre você».

Eu fui a um pequeno café e só consegui esperar.
Minhas mãos tremiam.

E então ela entrou — uma mulher de cerca de quarenta anos, séria, um pouco parecida… com a minha mãe?
Ela se sentou à minha frente e disse:

«Eu sou sua tia».

Eu fiquei imóvel.
Eu não tinha tia. Não tinha família. O vovô sempre dizia que éramos só nós dois, e ponto.

Ela tirou uma foto antiga. Nela, minha mãe — feliz, jovem. E essa mulher ao lado dela.

«Sua mãe e eu somos irmãs, — ela disse. — Queríamos ficar com você quando seus pais morreram. Lutamos por você. Mas seu avô… ele não deixou».

Eu só piscava.
Ela continuou:

«Ele disse que nossa família era muito conflituosa. Que vivíamos com brigas, ressentimentos, dramas. Ele temia que você fosse arrastada de um lado para o outro, que resolveríamos nossas antigas desavenças, e você acabaria no meio do caos novamente. Ele disse: “Ela ficará comigo. Não vou permitir que destruam sua vida novamente”. E ele rompeu completamente o contato. Mesmo quando tentávamos apenas saber como você estava… ele não permitia».

Ela me entregou uma sacola.
Dentro estavam meus desenhos de infância. Aqueles que eu já havia esquecido. O vovô costumava enviá-los à família para mostrar que eu estava bem. Mas depois ele parou — para sempre.

«Não queremos levá-la agora. Só queremos que você saiba: você nunca esteve sozinha. Você tem tias, tios, primos. Sempre pensamos em você. E se você quiser nos encontrar… as portas estão abertas».

Quando saí para a rua, minhas mãos tremiam.
De repente, vi o vovô de um modo diferente: não como alguém que «escondia», mas como alguém que protegeu até o fim a criança que temia perder pela segunda vez.

Mas mesmo assim… era uma mentira. Uma mentira longa e pesada, do tamanho da minha vida.

E agora cabe a mim decidir — abrir a porta para pessoas cuja existência eu desconhecia ou manter o mundo que o vovô construiu para mim.

Me diga… você conseguiria perdoar essa mentira, se ela tivesse nascido do amor?

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