Histórias

O motorista de ônibus percebeu que, no último ponto, sempre ficava uma bolsa solitária – um dia, ele resolveu espiar o que havia dentro

Ray trabalhava como motorista de ônibus urbano há mais de vinte anos. Sua rota sempre era a mesma: do movimentado centro até a periferia mais tranquila, onde, depois do último ponto, começavam os campos e algumas construções esparsas. Ele conhecia todos os passageiros de rosto, cumprimentava os habituais com um aceno amigável, era paciente com os novos, e recolhia guarda-chuvas e luvas esquecidos. Mas, um dia, algo estranho chamou sua atenção.

Toda noite, no mesmo horário, no último assento, ficava uma bolsa de tecido preta. Pequena, com um fecho de zíper. Ele nunca via ninguém carregá-la. Ninguém voltava para buscá-la. A bolsa simplesmente aparecia — e permanecia.

Nos dois primeiros dias, ele a deixou na cabine do despachante. No terceiro — encontrou outra exatamente igual. Ele achou que podia ser uma brincadeira de alguém. Ou talvez de algum passageiro esquecido. Mas, noite após noite, ela continuava aparecendo. Igualzinha.

Até que, uma noite, já no último ponto, ele desligou o motor, aproximou-se da bolsa e suspirou. Algo naquela bolsa não o deixava em paz. Ele se sentou no assento ao lado e abriu o zíper.

Dentro havia um embrulho: um termo, um sanduíche enrolado em papel alumínio, e um bilhete.

– «Caso esteja cansado. Obrigado por nos levar. Eu não consigo dizer isso pessoalmente, mas espero que você saiba o quanto é valorizado».

O coração de Ray apertou. Ele olhou ao redor do ônibus. Estava vazio. Silêncio. Apenas reflexos no vidro. Ele fechou a bolsa cuidadosamente e a deixou no mesmo lugar.

No dia seguinte, lá estava outra bolsa. Com o mesmo conteúdo. Apenas o bilhete era diferente:

– «Não tenho muito, mas sei cozinhar. Você faz a mesma coisa todos os dias, e isso é importante. Apenas saiba — suas ações não passam despercebidas».

Ray começou a tentar descobrir quem era o autor. Ele verificou as câmeras, perguntou aos colegas. Ninguém sabia de nada. Então ele começou a responder. Colocava um pequeno bilhete na bolsa: «Obrigado. Significa muito para mim».

Isso continuou por quase um mês. E, um dia, dentro da bolsa havia uma foto. Preto e branco. Era uma menina de tranças segurando a mão de um adulto, em pé ao lado de um ônibus. No verso, estava escrito: «Você nos levou no dia mais difícil das nossas vidas. Eu nunca me esqueci».

Ray não sabia quem ela era. Mas, a partir daquele dia, ele passou a enxergar suas viagens de uma maneira diferente. Não como círculos intermináveis, mas como fios que conectam desconhecidos.

Às vezes, a gratidão chega de maneira silenciosa. Através de uma bolsa deixada sobre um assento. Através de um termo com chá. De um bilhete sem assinatura. Mas, mesmo assim, ela é profundamente autêntica.

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