O filho trouxe a namorada: “Esta é minha noiva”. Eu olhei para ela e reconheci. Era a filha do meu ex…

Vinte e dois anos atrás, cometi um erro. Tive um caso com um colega de trabalho. Ambos éramos casados, ele com a esposa dele, eu com meu marido. Isso durou seis meses, até que eu engravidei.
Eu não sabia de quem era o filho. Eu e meu marido não usávamos proteção, estávamos tentando ter um bebê. Mas com o amante também estive nos mesmos dias. Fiz os cálculos — cinquenta por cento de chance para cada.
Terminei o caso. Disse ao amante que estava tudo acabado, que não queria vê-lo mais. Não confessei a gravidez. Decidi considerar a criança como filho do meu marido. Era mais simples assim. Mais correto. Mais seguro.
Dei à luz um filho. Meu marido ficou feliz, eu também. O amante desapareceu da minha vida — pediu demissão, mudou-se para outra cidade. Eu o esqueci. Vivi com a família, criei meu filho, não pensava no passado.
O filho cresceu. Inteligente, bonito, bondoso. Formou-se na universidade, conseguiu um emprego. Há um mês disse que conheceu uma garota. Relacionamento sério, quer apresentá-la aos pais.
Ontem ele a trouxe para casa. Meu marido e eu arrumamos a mesa, estávamos aguardando. A porta se abriu, e meu filho entrou com a garota. Ele a apresentou: “Mamãe, papai, esta é minha noiva.”
Eu olhei para a garota e congelei. Reconheci-a imediatamente. Eu tinha visto suas fotos vinte e dois anos atrás, quando o caso ainda acontecia. O amante me mostrava fotos de sua filha pequena, falava sobre ela.
Agora ela estava na minha frente, adulta. Linda, sorridente. Noiva do meu filho.
Eu sorri, cumprimentei, convidei-a para se sentar à mesa. Por dentro, tudo se congelou como um bloco de gelo. Jantamos, conversamos, ela contou sobre si mesma. Eu a ouvia e a observava.
E de repente notei. Os olhos. A forma dos olhos dela e do meu filho — eram iguais. Raros, incomuns. Meu marido não tinha olhos assim. Eu também não.
Depois o sorriso. Eles sorriam da mesma maneira — o canto esquerdo da boca ligeiramente mais elevado que o direito. Assimétrico, charmoso. Meu marido não sorri assim. Eu também não.
Gestas. Quando falavam, ambos faziam o mesmo movimento com a mão — tocavam o lóbulo da orelha ao pensarem. Eu tinha visto isso cem vezes no meu filho. Agora via nela.
Eles estavam sentados lado a lado, de mãos dadas, rindo. E eu os observava, gelada. Eles eram muito parecidos. Muito.
Um pensamento gelado me atravessou: e se meu filho não for do meu marido? E se ele for do homem com quem tive o caso? Então eles seriam irmãos. Meio-irmãos. Que não sabem a verdade.
Estão apaixonados. Planejam se casar. Querem filhos no futuro. E se forem parentes?
A noite chegou ao fim. Eles saíram felizes. Meu marido foi dormir satisfeito — a noiva era boa, a família respeitável. E eu não preguei o olho a noite toda.
Recontava aquelas datas de vinte e dois anos atrás. Quando engravidei. Com quem estive nessas datas. Probabilidades. Eu não podia ter certeza. Cinquenta por cento naquela época. Cinquenta por cento agora.
Mas essas coincidências. Os olhos. O sorriso. As gestas. Muitas coincidências para ser por acaso.
Preciso verificar. Teste de DNA. Mas como? Dizer ao filho — vamos verificar de quem você realmente é filho? Ele vai perguntar — por quê? Vou ter que confessar o caso de vinte e dois anos atrás. Destruir a visão de mundo dele. Destruir o casamento com meu marido, que não sabe a verdade.
Ou contar à noiva? Explicar que o pai dela — talvez seja o pai do meu filho? Ela perguntaria — como você conhece tão bem meu pai? Terei que admitir o caso. Com o pai dela. Enquanto ele era casado com a mãe dela.
Não posso contar a ninguém. Mas também não posso ficar calada. Se eles são parentes, o casamento é impossível. Os filhos podem nascer doentes. Isso é genética, é perigoso.
Mas se eu verificar em segredo e descobrir que não são parentes — estarei destruindo a confiança deles. Se descobrirem que verifiquei o DNA deles sem permissão.
Estou presa. Criada pelo meu próprio erro de vinte e dois anos atrás. Eu pensava na época — é mais fácil não saber a verdade, criar a criança no casamento, esquecer o caso. Agora, essa incerteza pode arruinar a vida do meu filho.
Passou uma semana. Eles vieram novamente, discutiam o casamento. Eu os observava, sorria, apoiava. Mas por dentro morria de medo.
Encontrei uma clínica onde fazem testes de DNA anônimos. Preciso de amostras — cabelo, saliva. Posso pegar do meu filho discretamente. Mas como pegar dela? Convidar para um chá, pegar a xícara dela depois? Isso é traição, engano, invasão de privacidade.
Mas e se eu não verificar e eles forem parentes? E se daqui a alguns anos descobrirem a verdade de outra forma? Ou tiverem um filho doente e os geneticistas disserem — vocês são parentes de sangue?
Não consigo dormir à noite. Olho para o meu marido, que dorme tranquilamente, sem saber que o filho dele pode não ser dele. Olho para a foto do meu filho e penso — quem é seu pai de verdade?
Vinte e dois anos atrás tomei a decisão de não saber a verdade. Viver na incerteza. Parecia a coisa certa a fazer na época.
Agora essa incerteza pode destruir a vida do meu filho. E eu não sei como agir corretamente.
Verificar em segredo — trair a confiança deles. Contar a verdade — destruir a família. Calar — arriscar a saúde e o futuro dos filhos deles.
Me digam: o que vocês fariam no meu lugar? Verificariam o DNA em segredo, correndo o risco de destruir a confiança? Ou contariam a verdade, destruindo sua família? Ou ficariam calados, esperando que tudo desse certo?
Ou talvez haja uma saída correta que não vejo devido ao medo e à culpa?




