Histórias

O filho apoiou o pai, não a mim: “Mãe, você já não é necessária para ele, o papai terá uma nova família”. Mas quando a criança nasceu, tudo mudou drasticamente…

Meu marido tinha cinquenta e cinco anos, eu tinha cinquenta e dois quando ele anunciou o divórcio. “Conheci uma mulher. Nós nos amamos”, disse ele durante o jantar, como se estivesse falando sobre o tempo. Ela tinha trinta e dois anos. Estava grávida.

Trinta anos de casamento. Um filho, que eu dei à luz, criei, eduquei. Estava na universidade quando o pai anunciou sua “felicidade”.

Esperei que meu filho me apoiasse. Que dissesse ao pai que ele estava agindo de forma traiçoeira. Mas ele disse outra coisa.

“Mãe, deixe o papai ir. Você já não é necessária para ele. Ele terá uma nova família, um novo filho. Ele tem direito à felicidade”.

Eu estava na cozinha e não conseguia acreditar. Meu filho. Meu garoto. Por quem eu dei toda a minha vida.

“E eu?” — perguntei.

“Você vai superar isso. Você é forte”, — ele respondeu e foi ajudar o pai a arrumar as coisas.

O divórcio foi rápido. O apartamento ficou comigo — a única coisa que meu marido deixou sem briga. O resto ele levou. Meu filho foi morar com o pai “para apoiá-lo em um período difícil”.

Fiquei sozinha. Aos cinquenta e dois anos. Sem marido. Sem filho. Com um apartamento vazio e um coração partido.

Os primeiros meses foram um inferno. Eu chorava, não conseguia trabalhar direito, emagreci. Depois algo estalou. Eu entendi: eles me traíram. Ambos. E eu não lhes devia nada.

Comecei a viver para mim. Fiz aulas de ioga, comecei a ir ao teatro, a me encontrar com amigas. Fui à Europa — pela primeira vez na vida sozinha, sem meu marido. Foi incrível.

Um ano depois, a amante deu à luz. Meu filho enviou uma foto: “Mãe, eu tenho um irmão!” Eu nem abri. Eliminei imediatamente.

Ele ligava de vez em quando. Contava como a nova família do pai era feliz. Como ele ajudava com o bebê. Eu ouvia em silêncio e pensava: onde você estava quando sua mãe chorava à noite de solidão?

Passaram-se seis meses após o nascimento da criança. Meu filho parou de ligar. Não dei importância — fiquei aliviada sem as histórias dele sobre a “felicidade” do pai.

Um mês depois, o ex-marido ligou. Pela primeira vez em um ano e meio.

“Precisamos conversar”, — sua voz tremia.

“Não há nada a dizer”, — comecei a desligar.

“Espere! É importante. Sobre o bebê”.

Eu ouvi. Ele falava de forma confusa, nervosa. O bebê foi diagnosticado com uma forma grave de paralisia cerebral. Precisa de cuidados constantes, reabilitação e tratamento. A jovem esposa não suportou. Disse: “Eu não me inscrevi para isso” — e foi embora. Deixou a criança para ele.

“Eu não consigo lidar”, — ele disse. “Trabalho, hospital, eu mesmo adoeci de estresse. O nosso filho se recusa a ajudar — diz que tem a própria vida, não é obrigado”.

A ironia bateu em cheio. O filho mesmo que falou sobre “nova família” e “apoio”.

“E o que você quer?” — perguntei friamente.

“Ajuda. Por favor. Você é bondosa. Você sempre amou crianças”.

Eu ri. Pela primeira vez em anos — ri de verdade.

“Eu sou bondosa? Eu amo crianças? Interessante. Quando você foi embora com sua amante grávida, pensou nisso? Quando nosso filho me disse que eu já não era necessária para você — ele pensou nisso?”

“Foi um erro…”

“Sim, foi. Seu erro. E dele. Não meu. Gastei minha vida com vocês. Trinta anos com você. Vinte e oito anos com ele. E o que ganhei? Traição”.

“Mas há uma criança! Ele não tem culpa!”

“Esse é o seu filho. Do seu amor jovem. Vocês queriam uma nova família — aqui está. Resolva isso”.

Desliguei. Minhas mãos tremiam, mas dentro havia uma certeza fria.

Uma hora depois, meu filho ligou. Chorava no telefone: “Mãe, ajude papai! Ele não consegue lidar! Há uma criança pequena!”

“E onde você estava quando sua mãe não conseguia lidar com a solidão? Quando eu chorava à noite? Você estava com papai, ajudando-o a construir uma nova família”.

“Mas eu pensei…”

“Você pensou que eu iria esperar para sempre? Perdoar? Suportar? Não. Eu não devo mais nada a ninguém. O papai tem uma nova vida. Você tem sua própria vida. E agora eu também tenho a minha vida. E nela não há espaço para aqueles que me traíram”.

Eles ligaram mais algumas vezes. Depois pararam. Ouvi através de conhecidos em comum: meu marido contratou uma cuidadora, vendeu o carro, está endividado. Meu filho às vezes visita, mas raramente. A jovem esposa casou-se com outro.

E eu? Eu vivo. Aos sessenta e três anos, tenho mais planos do que tive aos trinta. Viagens, hobbies, amigos. Aprendi a ser feliz sozinha.

Às vezes penso: eu fiz a coisa certa? Talvez devesse ter ajudado? Afinal, há uma criança, inocente. Mas depois lembro das palavras do meu filho: “Você já não é necessária para ele”. E percebo: eu não sou cruel. Eu apenas não permito mais que me usem.

Eis a questão: sou uma má mãe e ex-esposa? Ou simplesmente escolhi a mim mesma após trinta anos vivendo para os outros? Deveria ter salvo aqueles que me traíram, só porque “é o certo”?

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