Histórias

Num orfanato, escolhi a menina mais quieta. A diretora tentou me dissuadir: «Ela tem uma hereditariedade ruim, não a leve». Porém, 15 anos depois aconteceu algo que eu não esperava…

Quinze anos atrás, fui a um orfanato. Eu tinha trinta e oito anos, não podia ter filhos, meu casamento estava desmoronando. Decidi adotar. A diretora me mostrou crianças ativas e saudáveis. Mas eu a vi — uma menininha de cinco anos no canto da sala. Estava sentada sozinha, olhando pela janela.

“Não leve essa”, — disse imediatamente a diretora. “A mãe a abandonou na maternidade. Vem de uma família problemática, tem hereditariedade ruim. Leve aquela, que é saudável”.

Mas eu me aproximei da menina. Ela me olhou com olhos enormes e perguntou suavemente: “Você vai me levar?” E eu percebi — ela era minha filha.

O processo de adoção levou meio ano. A diretora tentou me dissuadir até o último momento: “Você vai se arrepender, os genes vão se manifestar”. Eu não a ouvi.

Os primeiros anos foram difíceis. Pesadelos noturnos, crises de choro, desconfiança. Ela não acreditava que eu não a abandonaria. Escondia comida debaixo da cama — tinha medo de que não lhe dessem. Eu a levava a psicólogos, abraçava-a à noite, repetia todos os dias: “Eu te amo. Não vou a lugar nenhum”.

Lentamente, ela começou a descongelar. Começou a sorrir. Fez amizades. Estudava bem, interessou-se por desenho. Eu me alegrava com cada pequena vitória.

Meu casamento acabou três anos após a adoção. Meu marido não conseguiu aceitar minha filha. Mas nós duas conseguimos superar sozinhas. Ela se tornou o sentido da minha vida.

Ela cresceu gentil, inteligente, talentosa. Eu pensava que éramos felizes. Eu achava que o passado não importava.

Aos dezoito anos, ela veio até mim à noite. Sentou-se à minha frente, segurou minha mão.

“Mãe, preciso falar. Quero encontrar minha mãe biológica”.

Por dentro, tudo desmoronou. Eu temia esse momento há quinze anos.

“Por quê?” — perguntei, tentando não demonstrar medo.

“Preciso saber de onde vim. Entender quem sou. Isso não significa que não te amo”.

Eu não dormi a noite toda. Temia perdê-la. Temia que ela encontrasse aquela mulher e quisesse ficar com ela. Mas de manhã eu disse: “Tudo bem. Eu vou ajudar”.

As buscas duraram dois meses. Encontramos através das redes sociais — a mulher vivia na cidade vizinha. Trabalhava como vendedora em uma loja, alugava um quarto em um alojamento. Aceitou se encontrar.

Fui com minha filha para esse encontro. A mulher apareceu magra, cansada, com marcas de uma vida dura no rosto. Tinha quarenta e cinco anos, mas parecia ter sessenta.

Elas conversaram em um café. Eu estava sentada em uma mesa ao lado, fingindo ler o menu. Ouvi pedaços da conversa: “Eu não pude te deixar… eu tinha dezesseis anos… a família me obrigou a desistir…”

Minha filha começou a visitá-la todos os fins de semana. Eu morria de ciúmes e medo. Não dormia, não comia. Imaginava quando ela diria: “Quero viver com minha verdadeira mãe”.

Seis meses depois, minha filha chegou tarde à noite. Sentou-se ao meu lado.

“Mãe, obrigada por me ajudar a encontrá-la. Conversei muito com ela. Soube da história. Ela me teve aos dezesseis anos, após um estupro. Os pais a batiam e a obrigaram a desistir de mim. Ela se arrependeu disso a vida toda. Tentou me encontrar, mas não conseguiu”.

Eu fiquei em silêncio, sem saber o que dizer.

“Eu sinto pena dela”, — continuou minha filha. “Ela passou por um inferno. Mas entendi uma coisa importante. Mãe — não é aquela que deu à luz. Mãe — é você. Aquela que estava ao meu lado todas as noites quando eu tinha pesadelos. Que me levou aos médicos, me ensinou a ler, enxugou minhas lágrimas. Que não me abandonou quando seu marido foi embora”.

Ela me abraçou.

“Vou ajudá-la. Ela precisa de apoio. Mas mãe — é você. Só você”.

Eu chorei. De alívio, de felicidade, de dor por aquela mulher que perdeu a filha contra a própria vontade.

Agora já se passaram dois anos. Minha filha está na universidade estudando psicologia. Quer ajudar crianças de orfanatos. Regularmente visita a mãe biológica, a ajuda financeiramente. Eu também me encontrei algumas vezes com aquela mulher. Não somos amigas, mas há respeito.

Recentemente, minha filha disse: “Sabe, a diretora estava errada sobre a hereditariedade. Os genes não determinam quem você se torna. Quem determina isso é o amor”.

Mas há uma pergunta que não me deixa em paz: fiz a coisa certa ao ajudar a encontrar a mãe biológica? Ou deveria tê-la dissuadido, protegido-a daquela dor, daquela história? E se você estivesse no meu lugar — ajudaria seu filho a encontrar o passado ou o protegeria dele?

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