No funeral da minha mãe, minha irmã disse: “Finalmente”. Eu não entendi até abrir o diário da mamãe…

Mamãe faleceu aos 68 anos após uma longa doença. Eu cuidei dela nos últimos dois anos. Minha irmã raramente visitava — ela morava em outra cidade e sempre encontrava razões para não vir.
No funeral, ela ficou de lado, sem lágrimas. Quando se aproximou do caixão para se despedir por último, ouvi seu sussurro. Apenas duas palavras, mas cortaram fundo: “Finalmente”.
Nós nunca fomos próximas, apesar de termos apenas um ano de diferença. Eu era a filha obediente, a aluna exemplar, o orgulho da família. Ela era o problema eterno. Mamãe nos tratava de forma diferente. Comigo era calorosa, com ela fria. Eu achava justo — afinal, eu me esforçava, e ela não.
Depois do funeral, minha irmã foi embora no mesmo dia, dizendo que não queria nada das coisas da mamãe. Eu fiquei sozinha para arrumar a casa.
Uma semana depois, encontrei um monte de cadernos em uma cômoda antiga. Eram diários da mamãe de trinta anos. A última anotação foi feita uma semana antes de sua morte. Mamãe escrevia sobre estar morrendo sem ter encontrado força para dizer a verdade. Que foi fraca e cruel. Que não conseguiu perdoar o marido e passou a vida punindo uma criança inocente.
Eu não entendia do que se tratava e comecei a ler desde o início. O que descobri virou minha vida de cabeça para baixo.
O papai traiu a mamãe trinta anos atrás. Aquela mulher teve um bebê e morreu de complicações. Papai voltou para casa com o bebê, implorando para não destruir a família. Mamãe escolheu ficar, concordou em criar a criança de outra mulher como sua. Mas não conseguiu amá-la.
Minha irmã não era minha irmã. Ela era filha do papai com outra mulher.
Página após página, mamãe descrevia anos de frieza. Cada vez que olhava para a filha mais velha, lembrava-se da traição. Tentava amar, mas não conseguia. Via nela não uma criança, mas uma lembrança da infidelidade.
Lembrei-me da infância de maneira completamente diferente agora. Como mamãe comprava vestidos bonitos para mim, e para a minha irmã — algo mais simples. Como meus aniversários eram celebrados com grandeza, e os dela — de forma modesta. Como eu era elogiada por cada pequeno feito, e ela criticada por tudo.
Minha irmã cresceu sentindo que não era amada, sem entender por quê. Achava que havia algo de errado com ela. Aos dezesseis começou a questionar o estranho tratamento da mãe. Mamãe negava tudo, chamava-a de fantasiosa.
Aos dezoito, minha irmã saiu de casa. Entrou na universidade em outra cidade e quase não voltava. Mamãe me dizia que ela era insensível, que abandonou a família. Eu acreditava e a julgava pela frieza.
Mas ela apenas escapava de uma mãe que não conseguia amá-la.
No último registro, mamãe escrevia que a filha mais nova não sabia a verdade, mas a mais velha, provavelmente, suspeitava. Era inteligente demais, via claramente a diferença no tratamento. Mamãe pedia perdão por punir a menina pelo pecado do pai.
Liguei para minha irmã com as mãos trêmulas. Perguntei diretamente — ela sabia? Após uma longa pausa, ela disse que suspeitava desde os quinze anos. Muitas inconsistências, diferença muito evidente. Procurou provas, mas não encontrou. Achou que talvez estivesse paranoica, talvez realmente houvesse algo errado com ela.
Contei sobre o diário. Pedi desculpas por anos de cegueira. Ela respondeu que tentou me explicar uma vez, mas eu tomei partido da mamãe, chamei-a de invejosa. Depois daquela conversa, ela entendeu — era inútil.
Lembrei-me daquele dia. Eu tinha dezenove anos, minha irmã tinha vindo e falava do estranho tratamento da mamãe. Eu a chamei de ingrata.
Se passaram seis meses desde o funeral. Nos encontramos de vez em quando, tentamos construir uma relação. É difícil depois de tantos anos de afastamento. Mas agora eu entendo suas palavras no caixão da mamãe.
Finalmente acabou a mentira. Finalmente ela está livre da mulher que, por trinta anos, não conseguiu amá-la.
Às vezes me pergunto: minha mãe foi culpada? Ela concordou em criar uma criança de outra mulher, mas não conseguiu dar amor. Deveria ter partido então, recusado a aceitar uma carga que não podia carregar? Ou uma criança inocente estava melhor em uma família, mesmo sem amor materno, do que em um orfanato? E pode-se algum dia perdoar trinta anos de frieza a uma criança que não fez nada de errado?




