Histórias

Naquela noite, eu simplesmente alimentei um homem sem-teto e seu cachorro, e um mês depois meu chefe me chamou e disse: “Você não tem ideia do que fez…”

Eu alimentei o sem-teto e seu cachorro, que estavam famintos, e um mês depois meu chefe, vermelho de tensão, me chamou para sua sala e disse: “Tudo se resume ao que você fez no mês passado”. E naquele momento eu nem poderia imaginar o que ele queria dizer.

Eu trabalho como assistente administrativa em uma pequena empresa de seguros. Trabalho comum e cinzento, ligações constantes, planilhas, clientes que sempre querem tudo “imediatamente”. Naquela noite, eu estava muito atrasada no cronograma. Minha mãe, depois de um turno noturno no hospital, estava cuidando dos meus dois filhos, e eu estava correndo para fazer compras — macarrão, queijo, maçãs, algo rápido para o jantar. O típico conjunto de uma mãe solteira, cujo ex-marido se foi há dois anos e nunca mais apareceu.

Com as mãos cheias, eu caminhava pelo estacionamento frio, sonhando em chegar em casa. E então eu o vi.

Sentado na calçada estava um homem, cansado, olheiras azuis, aparentando uns quarenta anos. Ao lado, estava um cachorro — bonito, bem cuidado, como se estivesse tentando aquecê-lo. Ele tossiu e disse baixinho:
– Moça… nós não comemos nada desde ontem. Não estou pedindo dinheiro… apenas, se houver algo a mais.

Normalmente eu ignoro. A vida me ensinou a ser cautelosa. Mas a maneira como ele segurava o pescoço do cachorro, tão cuidadosamente, como se fosse tudo o que lhe restava… isso me tocou.

– Espere, – eu disse.

Voltei à loja, comprei comida quente — frango, batatas, legumes, água, café e um saco de ração para cachorro. Quando entreguei a sacola para ele, ele olhou para tudo aquilo como se tivesse recebido uma segunda chance.

– Você não imagina o que isso significa… para mim e para ela, – ele disse, acariciando o cachorro.

– Está tudo bem. Apenas cuide do seu amigo, – eu respondi.

Ele agradeceu até começar a chorar. Eu fui para casa, decidida a nunca mais vê-lo.

Um mês depois, meu chefe entrou furioso no departamento.

– VENHA AQUI! – ele gritou.

Minhas mãos esfriaram imediatamente.

– Está tudo bem? – perguntei eu.

– É sobre o que você fez há um mês. Por aquele homem com o cachorro.

Eu congelei. Como ele sequer sabia?

O chefe sentou, esfregou o rosto com as mãos e de repente disse:

– Aquele homem… é meu irmão mais novo.

Eu fiquei sem palavras. Ele continuou:
– Fomos separados na infância. Divórcio dos pais. Tribunal. Ele foi com a mãe, eu fiquei com o pai. Depois a mãe morreu, e ele… sumiu. Procurei por ele durante décadas. E então ele apareceu. Sujo, faminto, com um cachorro… e disse que uma mulher não só lhe deu comida. Deu-lhe esperança.

Algo apertou dentro de mim.

– Ele veio aqui por sua causa, – repetiu o chefe. – Disse que pela primeira vez em muitos anos sentiu que ainda era humano. E que queria te ver.

Ele me entregou uma pasta. Dentro havia uma carta. Longa, com caligrafia irregular. Ele escreveu que naquela noite já estava quase desistindo. Que tremia de frio, que tinha medo de dormir e não acordar. Que seu cachorro era a única coisa que o segurava neste mundo. E que minha frase “cuide do seu amigo” trouxe de volta o sentimento de que ele ainda era importante para alguém.

No final estava escrito: “Obrigado por não ter passado direto. Você salvou minha vida”.

Quando terminei de ler, o chefe disse:

– Ele está na sala de reuniões. Quer conversar. Comigo… e com você.

Eu fui em direção à porta com pernas trêmulas. Através do vidro, eu o vi: roupas limpas, o cachorro, olhos com tanta dor e gratidão que eu quase comecei a chorar.

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