Na véspera de Natal, abriguei uma mulher idosa sem-teto — e algumas semanas depois, um SUV luxuoso parou em frente à minha casa

Véspera de Natal. A neve caía suavemente, como um cobertor, abafando os sons da rua. Eu me apressava para casa com sacolas cheias de alimentos para o jantar festivo. O gelo rangia sob meus pés, e o ar gelado beliscava meu nariz. Tudo era habitual, acolhedor… até que eu a vi.
No banco em frente à loja, estava sentada uma idosa. Usava um casaco velho, um cachecol gasto e tinha um rosto cansado. As pessoas passavam por ela, alguns viravam o rosto, outros fingiam que não a viam. Mas ela apenas se sentava ali. Não pedia nada. Apenas olhava para a neve caindo, como se lembrando de algo há muito perdido.
Eu não consegui passar sem fazer nada.
— Você está aqui há muito tempo? — perguntei.
— Desde cedo. Eu simplesmente não tenho para onde ir, — respondeu ela calmamente, sem sentir pena de si mesma.
— Venha comigo. Tenho hoje uma torta e chá quente. Juntas será mais aconchegante.
Caminhamos em silêncio. Suas mãos tremiam, mas ela se mantinha com dignidade.
Em casa, acomodei-a na cozinha, vesti nela um suéter velho e quente do meu marido, coloquei à sua frente um prato de sopa quente. Ela sorriu, como se tivesse esquecido como era — ser apenas uma pessoa bem-vinda.
Seu nome era Marta. Tinha 76 anos. Contou-me que vivia sozinha em uma pequena cidade até que o marido morreu, e depois o filho. Perdeu o apartamento por dívidas e desde então vagava por estações e porões.
— Eu não peço piedade, — disse ela, baixando os olhos tristes para o prato. — Apenas hoje está frio demais para estar sozinha.
Ela ficou na minha casa naquela noite. E na seguinte. E depois mais uma. Não combinamos nada, simplesmente aconteceu. Ela ajudava na cozinha, passava roupas, contava histórias. Em pouco tempo, ela se tornou alguém especial para mim. Eu até me peguei pensando que sentia seu cuidado como se minha avó, que perdi há muitos anos, estivesse por perto novamente.
Se passaram três semanas.
Certa manhã, um SUV preto parou na frente da casa. Dele saiu um homem com um casaco formal. Ele bateu na porta e perguntou:
— Vive aqui uma mulher chamada Marta?
Eu congelei.
— Quem é você?
— Sou o neto dela.
Acontece que ele a procurava há quase um ano. Desde que ela desapareceu do hospital, onde foi internada após uma crise. Ela não estava nos registros, não deixou documentos. Ele percorreu dezenas de abrigos, perguntava em igrejas, colava anúncios. E somente recentemente, alguém nas redes sociais mencionou uma mulher morando com uma bondosa desconhecida.
Quando ele a viu, ele chorou. Como uma criança. E ela apenas segurou sua mão e disse:
— Eu sabia que você me encontraria.
Antes de partir, ele veio até mim.
— Você não faz ideia do que fez por mim. Você me devolveu minha avó. Obrigado.
Marta partiu, mas antes disso me abraçou forte. Deixou uma carta na cozinha. Nela — palavras de agradecimento. E uma foto dela jovem, com uma criança nos braços.
— Quem sabe um dia você se lembre de mim, — estava escrito no verso.
Nem sempre você recebe gratidão daqueles a quem ajudou. Mas, por vezes, a bondade retorna através de portas completamente inesperadas. E torna seu mundo mais gentil e mais quente, mesmo quando lá fora — há neve e silêncio.