Minha neta disse que tem vergonha de mim. Porque eu não pareço uma «avó moderna»

Minha neta disse que tem vergonha de mim. Porque eu não pareço uma «avó moderna».
Um dia, ela foi o meu sol. Eu a segurava nos braços quando ela ainda não sabia falar. Cantava canções de ninar, costurava vestidinhos para bonecas a partir de camisas velhas, fazia biscoitos em forma de corações e sóis. Para ela, tudo era um milagre — até mesmo um simples gelado com compota de maçã, que ela chamava de «a melhor sobremesa do mundo».
Ela cresceu ao meu lado, pois os pais trabalhavam muito. Era eu quem a buscava na creche, quem ia às festas escolares, quem fazia parte do seu dia a dia. E um dia ela disse: «Vovó, você é a minha melhor amiga». Eu pensei que seria para sempre.
Mas as crianças crescem. E com elas crescem distâncias que inicialmente não se percebem.
Quando ela foi ficando mais velha, começou a vir cada vez menos. Dizia que tinha aulas, encontros, atividades. Eu entendia. Ou tentava entender. Preparava a sopa favorita dela, embora ela quase não aparecesse. Às vezes, deixava no refrigerador um potinho de comida caseira. Ela agradecia — mas já sem o calor de antes. O sorriso se tornava cada vez mais distante.
Tudo mudou em um dia que eu vou lembrar para sempre. Era primavera, almoço familiar de domingo. Ela deveria vir com o namorado. Eu queria estar bem: vesti a saia que ela costumava elogiar, aquele suéter ameixa que «combina com os meus olhos», fiz uma torta de uma receita antiga. Cheguei cedo e ajudei a pôr a mesa.
Quando ela entrou, deu uma olhada rápida para mim — e logo se virou. Sentaram-se à mesa e conversaram, mas eu sentia que algo havia mudado.
Depois do almoço, ficamos um momento sozinhas na cozinha. Perguntei baixinho:
— O que houve com você? Você está diferente.
Ela deu de ombros e depois, com uma irritação que eu de forma alguma esperava, disse:
— Só que… você não precisa ir a todos os lugares. E… pode parecer horrível, mas… às vezes eu tenho vergonha de você.
Senti como se estivesse petrificada.
— Você tem vergonha de mim? — mal consegui dizer.
— É só que você não é como as outras avós. Elas são cuidadas, vestidas «como nas revistas», entendem de redes sociais, vão a exposições… E você… é comum. Quero me apresentar com uma «avó estilosa», e não com uma… simples.
A palavra «comum» me atingiu com força. Doeu mais que «vergonha». Porque «comum» era algo do qual eu sempre me orgulhei. Comum significa autêntica. Aquela que está por perto, que ama sem fazer cena. Aquela que sempre esteve lá.
Naquele momento, não respondi nada. Voltei à mesa, sorria como se não tivesse ouvido nada. Mas dentro de mim, tudo estava quebrado. Como uma xícara com uma rachadura invisível: parece inteira, mas ao menor impacto — se desfaz.
À noite, cheguei em casa. Estava frio, apesar da primavera. Nas mãos — uma forma vazia da torta, que eu peguei por algum motivo. Sentei à mesa da cozinha, a mesma onde, em tempos, fazíamos tortas, brincávamos de «café», onde ela solenemente me servia «sopa» de água e folhas de hortelã. Agora, sobre essa mesa estavam apenas as minhas mãos — frias e solitárias.
Por acaso olhei no vidro da cristaleira. O rosto estava cansado. Não triste — esvaziado. «Você não é como as outras avós» — ecoava na minha mente. E tantos anos eu me esforcei tanto.
E o mais doloroso era que eu me orgulhava dela. Sempre. Me alegrava com os seus sucessos, ouvia histórias sobre os estudos, elogiava seus trabalhos. Nunca comparava. Nunca exigia. Nunca desvalorizava. E agora, fui comparada — e considerada não suficientemente «moderna».
Por um momento, até pensei: será que realmente devo mudar? Comprar roupas da moda, me inscrever em aulas de ginástica, aprender a tirar «selfies» e usar alguns aplicativos. E então veio um pensamento simples:
por que?
Para parecer «digna» ao lado de quem eu criei com amor? Para me encaixar nos padrões de outros?
Chorei por um longo tempo. Não de ressentimento — de dor. Porque entendi: é impossível vencer uma competição na qual eu nem queria entrar.
Então decidi: não vou mudar. Não por olhares alheios. Não pela moda. Se ela um dia voltar a mim — que seja para a verdadeira. Para aquela que fazia tortas, cantava canções de ninar e nunca desempenhou papéis que não eram seus.
Vou continuar sendo quem sou. Com um suéter quentinho, receitas antigas e um coração aberto.
E o lugar à minha mesa sempre estará esperando. Não para quem não sente vergonha.
Mas para quem um dia compreender que a verdadeira proximidade não é estilo, nem roupas, nem redes sociais. É amor. Simples. Silencioso. Autêntico.
Aquele que não passa.
Você conseguiria perdoar palavras assim, se as ouvisse de alguém querido? E o que você acha, a avó deve se adaptar às expectativas dos netos ou é importante ela permanecer fiel a si mesma?




