Histórias

Minha filha e o marido foram viajar, deixando-me para cuidar da minha neta. Quando eu a colocava para dormir, ela sussurrou uma pergunta que partiu meu coração…

Eu acariciava o cabelo da minha neta, a cobria com o cobertor e desejava boa noite. De repente, ela segurou minha mão e sussurrou baixinho, quase inaudivelmente: “Vovó, a mamãe me ama? De verdade?”

Eu fiquei paralisada. Seis anos. Seis. Nesta idade, as crianças não deveriam duvidar do amor dos pais. Isso deveria ser tão natural quanto respirar. Eu me sentei na beira da cama, abracei a minha neta e perguntei com cautela por que ela achava isso.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e então começou a falar. Quietinha, com aquela seriedade infantil, quando você entende que a criança está falando a verdade que guardava há muito tempo dentro de si.

Ela contou que a mamãe está sempre no celular. Quando volta da escolinha, a mamãe não pergunta como foi o dia, o que foi interessante, com quem brincou. Diz apenas — vai brincar, não atrapalha, estou ocupada. Quando a neta pede para ler um livro ou brincar juntas, a mamãe diz que está cansada, que depois, que precisa terminar o trabalho. E então fica no celular até a noite.

Papai brinca com ela quando chega do trabalho. Papai pergunta sobre a escolinha, desenha com ela, constrói com blocos. Mas a mamãe — não. Mamãe está sempre ocupada. Nunca tem tempo para ela.

A neta perguntou baixinho: “Será que a mamãe não me queria? Será que eu atrapalho ela?” E começou a chorar. Silenciosamente, sem som, para que eu não ouvisse. Mas eu vi os ombros dela tremendo.

Eu a abracei e não sabia o que dizer. Porque eu mesma vinha notando isso nos últimos meses. Minha filha está realmente sempre no celular. Quando visito, ela fica no sofá com o smartphone. A neta se aproxima, puxa pela mão, pede atenção — a filha se afasta. Diz — depois, agora não dá, vá até a vovó.

Eu atribuía isso ao cansaço, ao trabalho, à vida moderna. Achava — mãe jovem, está difícil, é assim para todo mundo. Mas agora ouvi de uma criança de seis anos a pergunta — será que a própria mãe a ama. E entendi — isso não é cansaço. É distanciamento.

Eu acalmei minha neta, disse que, claro, a mamãe a ama, que às vezes os adultos simplesmente não sabem mostrar o amor corretamente. Ela adormeceu, mas eu não consegui dormir a noite toda. Pensando no que dizer à minha filha quando ela voltasse.

Três dias depois, minha filha e o genro voltaram da viagem. Bronzeados, contentes, descansados. A neta ficou animada e correu para a mamãe. A filha a abraçou de passagem, imediatamente pegou o celular — para mostrar as fotos da viagem. A criança estava ao lado, esperando por atenção, e a filha rolava as fotos e comentava com alguém no messenger.

Eu não aguentei. Pedi à filha para ficar quando o genro saiu para passear com a neta. Disse diretamente: “Sua filha me perguntou se você a ama. Seis anos e ela duvida do amor da mãe.”

A filha ficou surpresa. Começou a negar, dizendo que, claro, ama, que isso é bobagem, que a criança inventou tudo. Eu a interrompi: “Ela não inventou. Eu mesma vejo. Você está sempre no celular. Quando ela chega da escolinha, você não pergunta como ela está. Quando pede para brincar, você se esquiva. Você dá a ela um teto sobre a cabeça, comida, roupas. Mas não dá o mais importante — você mesma.”

A filha tentou se justificar. Trabalho, cansaço, casa, tarefas domésticas. Eu ouvia e balançava a cabeça: “Seu marido também trabalha. Também se cansa. Mas encontra tempo para brincar com a filha, conversar, se interessar pela vida dela. E você — não. Sabe o que ela me disse? Que talvez você não a quisesse. Que ela te atrapalha.”

A filha empalideceu. Eu vi quando começou a entender. Ela abaixou a cabeça, e as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto.

Eu continuei mais suavemente: “Amor — não são apenas as palavras ‘eu te amo’. É atenção, tempo, presença. A criança não entende que você tem um trabalho importante ou que está cansada. A criança vê — mamãe está por perto, mas não está disponível. Mamãe olha para o telefone, não para mim. Mamãe não quer brincar comigo. E tira a conclusão — eu não sou boa o suficiente para a atenção da mamãe.”

A filha chorava. Dizia que não percebia como isso aconteceu. Que o trabalho em casa a absorveu, que precisava responder às mensagens, verificar e-mails, estar conectada. Que a rotina a engoliu e ela parou de enxergar a própria filha. Apenas a alimentava, vestia, colocava para dormir — mecanicamente, sem estar presente emocionalmente.

Eu a abracei e disse: “Ainda não é tarde. Ela é pequena, tudo pode ser mudado. Mas é preciso fazer isso agora. Deixe o telefone de lado. Pergunte como foi o dia. Brinque com ela por meia hora — apenas brinque, sem distrações. Leia um livro antes de dormir. Ela não pede muito. Ela pede você.”

A filha prometeu mudar. Naquela mesma noite, eu vi ela sentada no chão com a neta, montando um quebra-cabeça juntas. O telefone estava em outro cômodo. A neta brilhava de felicidade.

Passaram-se dois meses. Minha filha está se esforçando. Nem sempre dá certo, às vezes se perde, pega o celular. Mas ela está tentando. E, o mais importante — a neta mudou. Tornou-se mais aberta, alegre. Não pergunta mais se a mamãe a ama.

Mas aquela pergunta — “mamãe me ama?” — eu nunca vou esquecer. Porque entendo quantas crianças crescem com essa dúvida por dentro. Quantos pais estão presentes fisicamente, mas ausentes emocionalmente. Damos tudo aos filhos — menos a nós mesmos. E eles não pedem brinquedos e gadgets. Eles pedem nosso tempo, nossa atenção, nossa presença.

Quantas crianças adormecem com a pergunta — se os pais as amam? E quantos pais nem sequer suspeitam disso, porque estão muito ocupados com seus telefones?

E você tem certeza de que seus filhos ou netos não duvidam do seu amor?

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