Meu filho voltou para casa depois do primeiro dia de aulas com um adesivo nas costas. O que estava escrito nele me fez refletir…

Nunca esquecerei aquela noite fria de outono. Lá fora, a chuva caía forte, e o vento arrancava as folhas das árvores. Ao voltar do trabalho, vi meu filho no hall de entrada, olhando para mim com uma expressão estranha no rosto.
— Mãe, — sussurrou ele ao abrir a porta de casa. — Tinha algo colado nas minhas costas…
Olhei mais de perto e vi um adesivo branco com uma inscrição assustadora, escrita em marcador preto:
«CUIDADO: Ele vê o que os outros não podem»
Meu coração apertou de preocupação. Por que meu filho? E quem poderia ter feito tal brincadeira? Ou seria que isso não era uma brincadeira?
Na manhã seguinte, ao levar meu filho para a escola, eu não conseguia parar de pensar naquele adesivo estranho. Quando cheguei em casa, imediatamente liguei para a professora — Maria. Ela ouviu meu relato e sugeriu nos encontrarmos após as aulas.
— Venha, vamos discutir o que fazer, — disse ela, com uma voz calma e preocupada.
Naquele dia, em frente à escola, senti como se meu filho e eu estivéssemos começando uma nova e assustadora fase de nossas vidas. As salas de aula cheiravam a roupas molhadas e giz, e as crianças nos corredores passavam olhando para mim com curiosidade.
— Não notei nada de incomum nele, — admitiu Maria, balançando a cabeça. — Talvez alguns colegas o considerem muito perspicaz. Ele é muito ágil em aprender, percebe os detalhes… Às vezes isso desperta inveja.
Agradeci a ela e, ao sair, ainda me sentia inquieta.
À noite, quando meu filho voltou para casa, ele estava abatido. A chuva ainda caía lá fora, e eu preparei um chá forte para nós.
— Mamãe, — disse ele, olhando para baixo. — Hoje um menino, Alex, me perguntou se era verdade que eu posso ‘ler mentes’. Outros ficaram sussurrando que eu sou ‘estranho’.
Senti uma onda de medo: será que começaria uma perseguição? Às vezes, basta um boato para que as crianças evitem um colega.
— E o que você respondeu?
— Eu disse que era bobagem.
No entanto, ele parecia cansado e chateado, e eu decidi descobrir quem mais poderia estar envolvido na história. No dia seguinte, esperei o final das aulas e voltei à escola. Ao entrar, encontrei uma aluna do ensino médio de pele morena. Ela carregava uma câmera e tinha uma expressão de hesitação no rosto.
— Você está procurando alguém? — perguntou a menina, alternando o olhar entre mim e meu filho, que estava paralisado atrás de mim.
— Sim. Quero entender quem colou nele… — comecei a dizer, mas me detive.
De repente, ela suspirou, como se tivesse decidido confessar:
— Desculpa, meu nome é Anna, estou no 11º ano. Fui eu que colei aquele adesivo nele.
Por dentro, eu congelei. Não esperava que uma resposta viesse tão rapidamente. Ao longe, Alex apareceu e, ao ver Anna, parou. Ele também sabia mais do que queria mostrar.
— Por que você fez isso? — perguntei a Anna, tentando me manter calma.
Ela ficou envergonhada:
— Seu filho, no primeiro dia, me ajudou. Ele percebeu que eu tinha esquecido a câmera no vestiário e correu atrás de mim. Ninguém nunca percebeu esse tipo de coisa. Brinquei dizendo que ele era um ‘vidente maravilhoso’. Acho que foi uma tentativa estranha de chamar atenção… ou expressar admiração. Achei que fosse engraçado, mas acabou sendo algo bobo e ofensivo.
— Então foi você que espalhou os boatos de que ele ‘vê’ mais que os outros? — Alex se juntou à conversa. — Eu também contribui com isso, porque… bem, ele realmente resolve tudo mais rápido que nós e acerta nas perguntas dos testes. Eu também… me enganei.
Enquanto conversávamos, o sol de outono, fraco mas quente, rompeu as nuvens cinzentas. Anna permanecia com os ombros curvados, sem saber como lidar com a culpa, enquanto Alex mudava de um pé para o outro. Meu filho, embora aparentemente envergonhado, surpreendentemente disse:
— Eu não guardo rancor… Mas é melhor fazer perguntas diretas. Por que inventar essas ‘misteriosas razões’?
Nesse momento, senti a tensão que estava acumulada desde o dia anterior se aliviar. Anna se desculpou e prometeu explicar a todos que foi uma brincadeira desajeitada. Alex encolheu os ombros, arrependido.
Nós dois seguimos para casa. O ar estava fresco após a chuva, e as folhas sob nossos pés crocavam agradavelmente. O abracei com ternura pelos ombros.
— Você é tão atencioso, — murmurei suavemente. — E isso é bom. O importante é não ter medo de ser você mesmo.
Naquela noite, tomamos chá na cozinha, ouvindo as gotas de chuva tocarem suavemente a janela, e senti que o pior já tinha passado. Conseguimos resolver o mal-entendido, manter a confiança e até ganhar novos amigos. E se ele realmente ‘vê’ um pouco mais que os outros, que esse dom traga apenas bondade para nossas vidas.
Com esse entendimento, finalmente adormeci com um coração leve. Parece que superamos o primeiro grande desafio na nova escola — e saímos dele mais fortes e mais próximos um do outro.