Marido foi viajar a trabalho — e não voltou… por uma razão muito estranha

Já estávamos acostumados às viagens de trabalho dele. O emprego do Alec exigia constantes deslocamentos — dois ou três dias em outra cidade, reuniões, clientes, noites em hotéis e uma infinidade de relatórios. Eu não gostava muito desses períodos, mas aprendi a lidar com eles. Brincávamos que até era bom — dava para sentir um pouco de saudade.
Dessa vez, ele saiu de casa numa manhã de terça-feira. A mala de sempre, duas camisas, o notebook e a caneca térmica cheia de chá. Beijou minha testa e disse: «Volto na sexta». Desejei boa sorte e pedi para ele não esquecer de comprar pão na volta. Ele sorriu: «Pode deixar».
Sexta-feira chegou. E passou.
No início, não fiquei preocupada. Nem sempre ele conseguia voltar no horário certo — às vezes atrasava por conta de uma reunião ou por mudanças no voo. Mas, desta vez, o telefone não atendia. As mensagens ficavam sem resposta. Nem os colegas de trabalho nem o escritório sabiam onde ele estava. Ninguém podia afirmar ao certo se ele tinha saído do trabalho no dia planejado ou se tinha ficado.
No dia seguinte, registrei um boletim de ocorrência na polícia. Foram feitas buscas. Imagens das câmeras analisadas. O telefone — desligado. O cartão bancário — inativo. Era como se ele simplesmente tivesse desaparecido. Sem deixar rastro.
Quatro dias depois, meu telefone tocou. Era um número desconhecido. Uma voz masculina disse:
— Seu marido está aqui. Ele está vivo. Mas, por enquanto, não pode falar com você.
Fiquei sem palavras. Onde era «aqui»? O que significava «não pode falar»?
No dia seguinte, recebi uma carta. De papel. Escrita à mão. Era a caligrafia dele. O jeito dele. A assinatura dele.
«Perdoe-me. Eu não enlouqueci. Só que… desci na estação de trem — e não consegui seguir em frente. Vi a rua. Uma banca antiga vendendo salgados. Uma garotinha que parecia a nossa filha quando era pequena. Fiquei parado e, de repente, percebi: eu não queria ir para onde estava indo. Não sei o que quero, mas não é isso. Fiquei. Simplesmente sentei em um banco e fiquei. Estava tudo bem, mas por dentro… vazio. Eu preciso pensar. Encontrar a mim mesmo. Não estou te abandonando. Só não consigo continuar fingindo que tudo está certo».
Li a carta umas vinte vezes. Fiquei tentando entender: era depressão? Crise? Fuga? Ou honestidade? Não sabia se ficava irritada ou com medo. Só não conseguia entender como alguém podia ir embora — não de casa, mas de si mesmo.
Ele apareceu duas semanas depois. Ele mesmo ligou. Nos encontramos. Estava mais magro, falava baixinho. Conversou por muito tempo. Disso tudo, o que mais lembro é ele dizendo que seguia na direção errada por muito tempo. Que tentou ser perfeito — e acabou se perdendo. Que queria recomeçar, mas não exigia nada, nem pedia. Só queria ser compreendido.
Não nos separamos. Mas mudamos. Pela primeira vez em muitos anos, começamos a conversar de verdade. E até hoje não sei se aquilo foi uma traição — ou um pedido de salvação. Mas sei de uma coisa: às vezes uma razão estranha é, na verdade, a mais verdadeira. Só é difícil aceitar, principalmente quando você está acostumado a controlar tudo.