Histórias

Eu pensava que meu marido estava ficando até tarde no trabalho para garantir nossa velhice tranquila. Mas a vizinha me abriu os olhos sobre onde ele realmente passa as noites…

Eu tinha certeza de que entendia tudo. Que depois de tantos anos de casamento não tínhamos mais segredos. Quando ele chegava tarde em casa, dizia que ficou trabalhando até tarde para garantir nossa velhice tranquila.

Eu acreditava. Preparava o jantar, esperava por ele, às vezes adormecia na mesa mesmo. Convencia a mim mesma: “Ele está se esforçando por nós. Ele quer que eu tenha paz”.

Mas um breve comentário da vizinha destruiu essa ilusão como um castelo de cartas.

Nos encontramos no patamar da escada. Eu segurava uma sacola de compras, ela estava passeando com o cachorro.
— Seu marido tem passado ótimos momentos ultimamente — ela comentou em voz baixa.

Eu congelei.
— Como assim? — perguntei, embora meu coração já estivesse acelerado.
Ela deu de ombros:
— Vi ele ontem no café da esquina. Com uma mulher. E acredite, não parecia um encontro de negócios.

Entrei no apartamento como se estivesse no nevoeiro. A sacola escorregou das minhas mãos, as maçãs rolaram pelo chão. Fiquei na cozinha repetindo para mim mesma: “Não, isso é um engano. Não pode ser”.

Mas lá no fundo eu sabia: o engano era exatamente aquilo para o que eu tinha fechado os olhos por tanto tempo.
Lembrei de todas as noites em que ele voltava com perfumes estranhos na roupa, e eu me convencia de que era cheiro do escritório. Chamadas recebidas em sussurros no corredor. Desculpas: engarrafamentos, tarefas urgentes, acidentes.
E meu silêncio.
Porque era mais fácil acreditar que ele estava trabalhando do que aceitar a ideia de que estava me traindo.

Naquela noite, sentei na poltrona e comecei a desmontar nossa vida em pedaços. Eu realmente estava cega? Ou simplesmente não queria saber a verdade? Talvez fosse mais fácil viver na ilusão do que admitir que nosso casamento há muito se tornara uma fachada?

No dia seguinte, eu não aguentei. Fui até o tal café que a vizinha mencionou. Sentei na janela, pedi um chá e esperei.

Uma hora depois, eles entraram.
Ele e ela.

Mais jovem, mais radiante, bem cuidada, de casaco vermelho. Ele a olhava de uma forma que não me olhava há anos. Ria, inclinava-se para ela, segurava sua mão.
Senti algo dentro de mim se quebrando.
Mas junto com isso foi como se a cortina caísse — tudo ficou absolutamente claro.

Não fiz cena. Não me aproximei. Não gritei.
Apenas fiquei sentada observando até que as lágrimas parassem de cair.
Depois voltei para casa e olhei nosso retrato na prateleira — jovens, felizes, cheios de planos.
Mas na realidade eu estava sentada sozinha no apartamento vazio — traída, enganada, desolada.

À noite, ele chegou como se nada tivesse acontecido. Colocou as chaves, perguntou se havia jantar.
Respondi calmamente:
— Está na geladeira.
E só.
Ele fazia de conta que não percebia meu frio. Eu — que não via sua mentira.
Isso era um teatro, papéis que interpretamos por muito tempo.

Mas algo dentro de mim finalmente se quebrou.
Parei de lavar suas camisas. Parei de esperá-lo à noite. Parei de perguntar quando ele voltaria.

Comecei a cuidar de mim.
Fui para a piscina, me inscrevi em oficinas de artesanato. Encontrei uma amiga que não via há muitos anos.
Cada passo era um curativo na ferida que já sangrava há muito tempo.

Disse a ele diretamente que sei?
Ainda não.
Talvez eu esteja reunindo forças.
Talvez eu esteja esperando o momento em que possa colocar um ponto final sem medo e sem tremor.

Mas uma coisa eu entendi com certeza: não vivo mais de ilusões. Não acredito mais na história da “velhice tranquila” que ele supostamente estava construindo para mim.

Entendi: o importante não é com quem ele passa suas noites.
O importante é o que eu vou fazer com a minha vida daqui para frente.
Porque se por anos eu me virei para longe da verdade, agora que finalmente a vi — eu não posso fechá-la novamente.

E mesmo que doa, mesmo que seja assustador, mesmo que a solidão pese — é melhor viver com a verdade do que na mentira mais bonita.

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