Histórias

Eu menti por amor, e ele, depois de 25 anos, confessou algo que me destruiu por completo…

Quando ele disse essa frase, inicialmente nem entendi do que se tratava. Estávamos sentados na cozinha, o chá já tinha esfriado, lá fora começava a escurecer. Ele ficou em silêncio por um longo tempo, girando a xícara nas mãos, e então, de repente, levantou os olhos e disse baixinho:

– Eu sinto muito…

Algo dentro de mim se quebrou. Eu vivi com essa pessoa por 25 anos. Pensei que o conhecia até a última ruga, cada hábito, todas as suas fraquezas. Mas naquele momento, percebi: nunca conhecemos completamente uma pessoa.

Eu tinha vinte anos quando menti. Naquela época, eu o amava tanto que estava disposta a fazer qualquer coisa para que ele me escolhesse, e não sua ex. Eu via como ele se debatia entre nós, voltava para ela, desaparecia por alguns dias, dizia que precisava de tempo. E eu simplesmente tinha medo de perdê-lo. Então, quando disse que estava grávida, pensava apenas em uma coisa: talvez essa fosse a única chance de segurá-lo.

Nos casamos rapidamente, sem grande festa. Ironia do destino: alguns meses depois, eu realmente engravidei. Nosso filho nasceu saudável e forte, e ninguém jamais soube a verdade. Eu mesma tentei esquecê-la. Convencia-me de que tudo aconteceu como deveria. Que construímos uma família normal. Que, como esposa e mãe, eu merecia essa felicidade.

Mas agora ele está sentado diante de mim 25 anos depois, e eu sinto como tudo está se desmoronando por dentro.

– Ela me escreveu – disse ele baixinho, olhando para algum lugar distante. – Aquela… que estava antes de você.

Eu senti como se tivessem puxado o chão debaixo dos meus pés. Essa mulher foi meu pesadelo por tantos anos. Mesmo quando ele parou de mencioná-la, ela vivia na minha cabeça.

– E o que ela quer? – perguntei. Minha voz tremia de traição.

Ele permaneceu em silêncio por um tempo. Depois massageou as têmporas, como se procurasse palavras.

– Ela disse que cometeu um erro naquela época. Que ficou assustada. E que todos esses anos… lembrou-se. Tentou seguir em frente, mas não conseguiu se desapegar completamente.

Eu olhava para ele, e algo pesado e pegajoso se ergueu dentro de mim, como se o passado tivesse voltado e se juntado a nós na mesa.

– E você sente pena dela? De mim? De você? – perguntei, embora não quisesse ouvir a resposta.

Ele entrelaçou os dedos, e eu vi que eles tremiam.

– Sinto muito por nunca ter verdadeiramente deixado a sombra dela ir embora – disse ele. – Vivi com você, mas uma parte de mim sempre esteve lá. E você sentiu isso. A vida inteira.

Virei o rosto, porque não conseguia mais olhar nos olhos dele. Sim, eu sentia. Mas suportei essa dor, como uma cruz. Pelo filho. Pela família. Para não ser “a outra”, a perdedora. E agora, após tantos anos, parecia-me que vivi uma vida que não era minha, sempre provando que era melhor do que ela.

Ele falou de novo:

– Ela está se mudando para a nossa cidade. E eu… não sei como lidar com isso. Não sei o que em mim está mais forte – o passado ou o presente.

Agarrei a borda da mesa até meus dedos ficarem brancos. Por dentro, tudo fervia: mágoa, raiva, medo, cansaço. Eu subitamente percebi que esperei a vida toda para ouvir outras palavras dele. Queria ouvir: “Eu amo só você”. Mas ouvi algo completamente diferente.

Levantei a cabeça e, pela primeira vez em muitos anos, perguntei com sinceridade:

– Você alguma vez me amou de verdade, sem comparação? Apenas a mim, e não “em vez dela”?

Ele ficou em silêncio. E seu silêncio foi mais alto do que qualquer “não”.

Naquela noite, fiquei sentada no escuro, ouvindo o tique-taque do relógio. Lembrei-me de mim mesma aos vinte anos – assustada, apaixonada, disposta a mentir por uma chance de estar ao lado dele. Lembrei-me de como vivi todo esse tempo: apegada, suportando, fechando os olhos, engolindo a mágoa, tentando ser a esposa e mãe perfeita. E agora, de repente, percebi claramente: minha vida inteira lutei não por amor, mas para ser escolhida. Pelo menos uma vez. De verdade.

Ele adormeceu no quarto, e eu continuei na cozinha. Olhei para a nossa velha mesa, para as xícaras, para as fotos na geladeira e pensei: um quarto de século, uma casa, um filho, uma vida em comum… e um simples “sinto muito” dele, depois do qual tudo parece frágil e irreal.

Agora eu não sei o que fazer com essa verdade. Fingir que nada aconteceu? Continuar vivendo ao lado de alguém que confessou honestamente que parte dele ainda está lá, no passado? Ou admitir que minha mentira na época e a sombra dele todos esses anos nos destruíram lentamente, pouco a pouco?

Diga-me com sinceridade… se descobrisse algo assim após 25 anos de casamento – seguraria essa união ou deixaria ir, mesmo que a cama estivesse apenas a um passo de você?

Related Articles

Back to top button