Histórias

Eu fui para uma entrevista na empresa dos meus sonhos. E em um minuto percebi que o destino decidiu brincar comigo mais uma vez…

Eu fui para uma entrevista em uma empresa muito prestigiada. Daquelas onde é impossível entrar sem conexões, onde até a secretária parece ter saído da capa de uma revista.
Eu sabia que as chances eram quase nulas, mas não tentar seria ainda pior.
Minhas mãos tremiam enquanto preenchia o formulário. Passei a noite inteira ensaiando respostas, relendo meu currículo, escolhendo as palavras para explicar a lacuna na experiência – aqueles dois anos em que cuidei da minha mãe doente.

A secretária me conduziu até a sala. Atrás de uma grande mesa estava sentada uma mulher com um terno rigoroso e um olhar frio. Ficava claro logo de cara – ela enxergava através das pessoas.
– Sente-se, – disse ela brevemente.
Eu me sentei, tentando não bater os saltos de nervosismo.

Ela fez perguntas comuns: formação, experiência, por que eu queria trabalhar ali. Eu tentava responder calmamente, mas por dentro tudo estava fervilhando.

E de repente – a porta bateu.
Na sala entrou um homem confiante, de terno, com um telefone na mão. Eu levantei os olhos – e quase deixei a pasta cair.
Meu colega de classe.
Aquele mesmo com quem dividia a carteira, trocava bilhetes e estudava para as provas juntos. Não nos víamos havia mais de dez anos.

Ele também me reconheceu imediatamente.
– Uau! – ele sorriu. – Que encontro!
Ele se aproximou, apertou minha mão, perguntou como eu estava e acrescentou:
– Boa sorte!
Depois virou-se para a mulher:
– Esta é a nossa candidata? Ótimo. Muito competente, aliás.
E saiu.

Eu fiquei confusa. Por um momento, parecia que todo o oxigênio havia desaparecido da sala. A mulher olhou para mim um pouco mais atentamente, colocou a caneta de lado.
– Então, você o conhece?
– Sim, estudamos juntos na escola, – respondi.
Ela assentiu, sem dizer mais nada.
A entrevista continuou, mas eu já não sentia meus braços ou pernas. Parecia que todas as respostas haviam se transformado em palavras sem sentido.

Saí do escritório com os ombros caídos, certa de que havia falhado. Em casa, nem mesmo verifiquei o e-mail – não queria ver uma rejeição.
Mas três dias depois, um número desconhecido ligou.
– Queremos informá-la que você foi aceita para trabalhar conosco. Pode começar na segunda-feira.

Eu fiquei parada com o telefone na mão, sem acreditar.

Uma semana depois, enquanto eu me acostumava com os documentos, o encontrei novamente no corredor.
– Então você realmente está trabalhando aqui, – disse ele com um sorriso. – Fico feliz que tudo deu certo.
– Foi você?.. – foi tudo que consegui dizer.
Ele sorriu:
– Eu apenas disse que você merecia uma chance. Lembra da 9ª série, quando todos riram de mim por causa do teste de química? Você foi a única que levantou e disse que todos nós podemos cometer erros. Naquele dia, você me defendeu. Agora é a minha vez.

Eu sorri, mas senti um aperto no coração. Tantos anos se passaram, mas tudo volta – bondade, palavras e ações.

Desde então, eu penso frequentemente: às vezes a vida nos avalia não pelo currículo, mas pelo que fizemos pelos outros um dia.
E talvez cada palavra gentil, dita “apenas porque”, retorne exatamente quando é mais necessária.

Você acredita que a bondade realmente volta, mesmo após muitos anos?

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