Histórias

Eu estava voltando do trabalho em lágrimas, percebendo que não poderia comprar um presente de Natal para meu filho. E foi então que aconteceu algo que eu realmente não esperava…

Me divorciei há um ano. Meu marido foi embora para outra, não pagava pensão, desapareceu. Fiquei sozinha com meu filho de sete anos. Trabalhava como enfermeira em um hospital, turno noturno, turno diurno — pegava tudo que ofereciam. O dinheiro ainda não era suficiente. Aluguel, comida, roupas para o filho — ele cresce rápido, a cada três meses um novo par de sapatos.

Era vinte e dois de dezembro. O Natal estava a três dias de distância. Meu filho escreveu uma carta para o Papai Noel — pediu um brinquedo de montar. Nada caro, simples, que ele viu na loja. Custava cinquenta euros. Eu tinha vinte até o próximo salário. E esses eram necessários para comida.

Eu estava voltando para casa após o turno noturno. Seis da manhã, escuro, frio. Pensava que não poderia comprar um presente de Natal para a criança. O único presente que ele pediu. Lágrimas escorriam pelas bochechas, eu as enxugava com a manga.

Andava, sem olhar, imersa em pensamentos. E esbarrei em alguém na calçada. Fortemente, quase caí.

Levantei os olhos, queria me desculpar. Diante de mim estava um homem de cerca de quarenta anos. Rosto familiar. Eu olhei melhor — meu colega de classe. Estudamos juntos há vinte e cinco anos atrás, depois perdemos o contato.

Ele também me reconheceu. Sorriu — é você? Quanto tempo!

Começamos a conversar ali mesmo na rua. Ele perguntou — como está a vida? Eu tentei sorrir — normal, trabalho, meu filho está crescendo. Ele olhou mais de perto — você estava chorando?

Eu balancei a cabeça — não, só está frio, os olhos ficam lacrimejando.

Ele não acreditou. Sugeriu que fôssemos tomar um café para nos aquecer. Eu queria recusar — estava sem tempo, em casa meu filho estava com a vizinha. Mas ele insistiu — dez minutos, só um café.

Sentamos em um café. Ele pediu café e croissants. Eu bebia o café quente, aquecendo. Ele contava sobre ele — mora em uma cidade vizinha, veio a trabalho por alguns dias, tem seu próprio negócio, esposa, dois filhos.

Depois perguntou sobre mim. Eu contei brevemente — divórcio, filho, trabalho no hospital. Ele ouviu, balançou a cabeça. Perguntou — por que estava chorando?

Eu não queria falar, mas escapou — o Natal está chegando, e eu não posso comprar um presente para o meu filho. Ele pediu um brinquedo de montar, cinquenta euros. Eu não tenho.

Parei de falar, fiquei sem graça — por que estou contando meus problemas para um estranho, na essência?

Ele olhou para mim com seriedade. Perguntou — quantos anos seu filho tem? Que tipo de brinquedo de montar?

Eu respondi — sete, o brinquedo de montar está na loja na rua central, ele me mostrou na vitrine.

Ele assentiu. Terminamos o café, nos despedimos. Ele desejou boa sorte, me abraçou de despedida. Eu fui para casa.

Naquela mesma noite, a campainha tocou. Abri — um entregador com uma grande caixa. Perguntou meu nome, passou a caixa, foi embora.

Levei a caixa para dentro, abri. Dentro tinha o brinquedo de montar. O mesmo que meu filho pediu. E uma nota: “Que seu garoto sorria no Natal. Você merece felicidade. Seu colega de classe.”

Eu fiquei parada com aquela nota e chorei. Um estranho, na essência. Nos encontramos por acaso na rua. Eu desabafei no caminho. E ele foi lá, comprou, mandou entregar. Cinquenta euros para ele, pode ser uma insignificância. Para mim — uma quantia impossível. Para o meu filho — um sonho.

Na manhã de Natal, meu filho acordou, viu a caixa debaixo da árvore. Desembalou — um brinquedo de montar! Aquele mesmo! Ele gritou de alegria, me abraçou: “Mamãe, o Papai Noel ouviu! Ele trouxe!”

Eu olhei para o rosto feliz dele e chorei. O Papai Noel naquele ano não estava de vermelho. Estava de casaco, com olhos gentis, nos encontramos por acaso na rua.

Escrevi para o colega de classe nas redes sociais. Agradeci. Ele respondeu brevemente — de nada, fico feliz em ajudar. Tive sorte na vida, quero compartilhar.

Passaram-se três anos. Nós trocamos mensagens de vez em quando. Ele pergunta como estamos, como está meu filho. Eu conto. Ele fica feliz pelos sucessos, encoraja nos momentos difíceis.

Naquele Natal, ele não deu apenas um brinquedo de montar. Ele me devolveu a fé que há pessoas boas no mundo. Que nem todos são indiferentes. Que às vezes a ajuda vem quando você menos espera.

Penso muito naquele encontro. Se eu não tivesse esbarrado nele na rua. Se ele não tivesse sugerido o café. Se eu não tivesse me aberto. Meu filho ficaria sem presente de Natal.

Mas o encontro aconteceu. E uma pessoa mudou nosso Natal. Simples assim. Sem esperar gratidão, sem exigir retribuição.

Agora meu filho tem dez anos. Ele ainda brinca com aquele brinquedo de montar. Constrói novos modelos, inventa histórias. Não sabe que não foi o Papai Noel quem comprou. Não sabe que um estranho lhe deu o Natal.

Algum dia eu vou contar. Quando ele crescer. Vou contar sobre uma pessoa bondosa que nos ajudou no momento mais difícil. Para que ele saiba — que há bondade no mundo. E que é importante ajudar os outros, quando se pode.

Ainda guardo aquela nota. “Que seu garoto sorria no Natal.” Ele sorriu. Graças a uma pessoa que não ignorou a dor alheia.

Sejam honestos: vocês ajudariam um conhecido ocasional que não veem há vinte anos? Comprariam um presente para uma criança estranha, simplesmente porque podem?

Ou é algo raro — essa bondade sem esperar nada em troca? Essa sensibilidade à dor alheia?

E se vocês estivessem no meu lugar — aceitariam a ajuda? Ou o orgulho não permitiria?

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