Eu deixei minha esposa quando ela adoeceu gravemente e fui morar com uma amante jovem. Dois anos depois, minha ex-esposa se recuperou, e minha vida dos sonhos começou — mas descobri que era um sonho equivocado…

Minha esposa adoeceu aos quarenta e dois anos. Câncer. Uma forma agressiva, tratamento pesado, reabilitação longa. Os médicos davam cinquenta por cento de chances de sobreviver.
Estávamos casados há dezoito anos. Dois filhos — uma filha de dezesseis e um filho de quatorze. Uma família comum, uma vida comum. Não sem problemas, mas estável.
Quando começaram as internações, quimioterapia, exames intermináveis — eu não aguentei. Minha esposa, que era uma mulher cheia de energia, se transformou em uma sombra. Emagreceu, perdeu os cabelos, estava sempre cansada e pálida. A casa cheirava a medicamentos. Todos os dias — uma lembrança da doença.
Eu trabalhava, voltava para casa, e era como estar de novo no hospital. Minha esposa no sofá, coberta por um cobertor. As crianças com os olhos vermelhos. Silêncio, medo, esperando o pior.
Comecei a ficar até mais tarde no trabalho. Não queria ir para casa. Lá estava a doença, a fraqueza, a impotência. E eu tinha quarenta e cinco anos, me sentia jovem, cheio de energia.
No trabalho, surgiu uma nova colega. Vinte e oito anos, bonita, alegre, sem problemas. Com ela, tudo era fácil — nenhuma conversa sobre tratamentos, prognósticos ou medo da morte. Apenas risos, flertes, leveza.
Começamos a sair. Primeiro um café depois do trabalho. Depois jantares. Depois eu alugava um quarto de hotel.
Eu dizia a mim mesmo que tinha direito à felicidade. Que não era obrigado a afundar junto com minha esposa. Que não me comprometi a ser um cuidador. Que a vida é uma só, e eu não queria passá-la em hospitais.
Depois de seis meses de tratamento, disse à minha esposa que estava indo embora. Ela estava na cama após mais uma sessão de quimioterapia, mal podia falar. Expliquei que não aguentava mais, que estava além das minhas forças, que eu precisava seguir em frente com minha vida.
Ela não chorou. Apenas assentiu. Pediu para não traumatizar as crianças e dar tempo para que ela mesma dissesse a elas.
Mudei-me uma semana depois. Fui morar com minha amante. As crianças não falaram comigo por um mês. Mais tarde, começaram, mas de forma fria e formal.
O primeiro ano com a amante foi como um conto de fadas. Viajávamos, íamos a restaurantes, tínhamos relações, vivíamos de forma fácil e sem compromissos. Sem hospitais, sem peso. Sentia-me livre pela primeira vez em anos.
Minha ex-esposa continuava o tratamento. Eu pagava pensão, às vezes ligava para as crianças. Elas diziam que a mãe estava lutando, que era difícil para ela, que ajudavam-na. Eu ouvia e me sentia aliviado por isso não ser mais minha responsabilidade.
Dois anos depois, minha esposa se recuperou. Os médicos disseram — remissão, o câncer recuou. As crianças me enviaram uma mensagem alegre. Eu as parabenizei, mas não me aprofundei no assunto.
Então comecei a perceber detalhes no relacionamento com a amante.
Quando fiquei resfriado — febre, nariz escorrendo — ela se irritava. Dizia que eu reclamava demais, que era apenas um resfriado. Ia para a casa de uma amiga para não pegar a gripe.
Quando falava sobre planos para o futuro — sobre separar um apartamento, ter filhos — ela mudava de assunto. Dizia que era cedo, que devíamos apenas aproveitar o momento.
Eu via como ela olhava para outros homens. Jovens, atléticos. Como flertava com garçons, colegas.
Certa vez, a escutei conversando com uma amiga. Ela ria e dizia que eu era uma opção temporária. Que estava comigo até encontrar alguém melhor. Que eu já não era tão jovem, que em dez anos estaria velho, e ela teria apenas trinta.
Vi a mim mesmo através dos olhos dela. Um homem quase cinquenta, que deixou a esposa doente. Que escolheu o caminho fácil em vez da responsabilidade.
Comecei a seguir o perfil da minha ex-esposa nas redes sociais. Ela postava fotos — viagens, encontros com amigos, sorrisos. O cabelo cresceu, ela parecia saudável novamente. Bonita. Feliz.
Mais feliz do que em todos os anos do nosso casamento.
As crianças escreviam posts sobre ela — como era forte, como tinham orgulho dela, como ela lutou e venceu. Chamavam-na de heroína.
E a mim não mencionavam de forma alguma. Como se eu não existisse.
Deitava à noite ao lado da amante e compreendia — troquei o real por uma farsa. Minha esposa lutou pela vida, mostrou uma força incrível. E eu via apenas fraqueza, doença, incômodo.
Eu não fugi da doença. Eu fugi da responsabilidade, da necessidade de ser forte quando a vida era difícil.
A amante era uma embalagem bonita. Leve, alegre, sem problemas. Mas quando as coisas ficaram difíceis para mim — mesmo com um simples resfriado — ela não queria estar ao meu lado.
Minha esposa passou pelo inferno e sobreviveu. Sem mim. Tornou-se mais forte do que eu jamais fui.
Seis meses atrás, a amante foi embora. Encontrou alguém mais jovem, mais rico. Disse que queríamos coisas diferentes da vida. Fiquei sozinho em um apartamento alugado.
As crianças conversam comigo, mas de forma formal. Nos feriados, vão para a casa da mãe. Eu não sou convidado.
Recentemente, vi uma foto da minha ex-esposa com um homem. Estavam de mãos dadas, sorrindo. As crianças escreveram um post — felizes que a mãe está novamente feliz, que ela merece amor após tudo o que passou.
Eu sentei e olhei para aquela foto. Ela irradiava felicidade. Encontrou alguém que valoriza sua força, e não foge de sua fraqueza.
E eu fiquei com o entendimento de que a maior erro da minha vida — não foi a traição, nem o divórcio. Foi que, quando ela lutava pela vida, eu vi ali um problema, e não heroísmo.
Que escolhi o caminho fácil. E perdi a pessoa que se mostrou mais forte do que eu em todos os sentidos.
Digam-me sinceramente: mereço perdão? Ou há atos após os quais uma segunda chance não existe?




