Gatos

Eu adotei um gatinho da rua – e então percebi que ele me levou a um verdadeiro milagre

Sempre fui uma pessoa acostumada a viver sozinha. Depois que meu casamento terminou e os amigos se espalharam por diferentes cidades, minhas noites se transformaram em intermináveis horas de silêncio, que eu sequer tentava quebrar. Eu voltava do trabalho, preparava o jantar, assistia televisão e depois ia dormir. E fazia isso todos os dias.

Naquele chuvoso final de tarde de outubro, eu fiquei até mais tarde no trabalho. Voltando para casa, apressei o passo para me aquecer o quanto antes. Ao passar por um beco escuro perto de casa, ouvi um miado fino e quase imperceptível. Parei por um momento e escutei. O som vinha de um amontoado de lixo, sob uma caixa virada.

Olhei para lá e vi um pequeno montinho de pelos – um gatinho magro e encharcado. Seus olhos azuis me olhavam com desespero e súplica. Meu coração apertou. Sem pensar duas vezes, tirei o casaco, enrolei o gatinho nele e o levei para casa.

Dei-lhe o nome de Chester. Nos primeiros dias, ele se comportou de maneira cautelosa, claramente desconfiando de mim. Mas, aos poucos, ele começou a se acostumar: se aproximava das minhas mãos, ronronava e se deitava no sofá ao meu lado. Sua pelagem macia, seu corpo quente e seu ronronar suave encheram minha casa de uma calorosidade há muito esquecida. Chester se tornou meu pequeno companheiro, um conversador silencioso que parecia compreender tudo o que eu dizia.

Às vezes, parecia-me que ele apareceu na minha vida por algum motivo especial. Sua presença me fazia sentir necessário. Comecei a sorrir com mais frequência. Comecei a passear, para que ele pudesse se sentar na janela e observar os pássaros. Comecei a comprar flores para deixar a casa mais acolhedora. Mas eu ainda não sabia que Chester estava prestes a me proporcionar algo ainda maior.

Certa noite, decidi passear com Chester. Comprei uma coleira para ele e resolvi ir ao parque. Para minha surpresa, ele não resistiu – pelo contrário, parecia curioso e até corajoso. Paramos em um pequeno banco, onde decidi sentar e aproveitar o ar quente da primavera.

De repente, Chester ficou tenso e puxou a coleira. Ele olhava atentamente para longe. Segui seu olhar e vi uma mulher. Ela estava sentada em um banco próximo, olhando melancolicamente para o céu. Em suas mãos, havia um caderno aberto.

Meu gato inesperadamente correu em direção a ela, e eu mal consegui segurá-lo. A mulher se virou e sorriu:

— Oh, que gato bonito! Posso acariciá-lo?

Eu assenti, sem saber o que dizer. Chester imediatamente esfregou-se em sua mão, como se a conhecesse a vida toda.

Começamos a conversar. Ela se chamava Ana e, como descobri, morava na casa ao lado. Seus olhos estavam cheios de tristeza, mas ao mesmo tempo havia neles uma chama de curiosidade e vida. Falamos sobre gatos, sobre o parque, sobre o clima. Foi a conversa mais animada que tive em anos.

Desde então, Ana e eu começamos a nos encontrar com mais frequência. Ela também gostava de caminhar no parque, e muitas vezes nos encontrávamos por acaso – ou talvez não tão por acaso assim. Chester sempre me puxava em direção a ela, como se soubesse que ela tinha que fazer parte da minha vida.

Uma noite, enquanto estávamos sentados no mesmo banco, Ana de repente confessou:

— Sabe, eu perdi meu filho há um ano. Ele tinha apenas sete anos. Depois disso, pensei que nunca mais conseguiria sentir alegria. Mas seu gato… ele é tão aconchegante, me lembrou que ainda há amor no mundo.

Essas palavras me tocaram profundamente. Olhei para ela e entendi que talvez Chester e eu tenhamos aparecido em sua vida por uma razão, assim como ela apareceu na nossa.

Passaram-se alguns meses. Ana e eu nos tornamos mais próximos. Chester parecia ter se transformado no elo que ligava nossos mundos. Uma vez, ela me convidou para jantar em sua casa. Eu levei vinho, e Chester, como de costume, ronronava em meus braços.

Ana me mostrou uma velha fotografia de seu filho. Na foto, havia um menino sentado na grama com um gatinho cinza nos braços. Eu fiquei paralisado. Era Chester. A mesma pelagem, os mesmos olhos azuis.

— Isso… é impossível — murmurei.

Ana apenas sorriu tristemente:

— Eu pensei que ele estava perdido para sempre.

Naquele momento, percebi que Chester apareceu não por acaso. Ele voltou para curá-la. E, talvez, para me salvar também.

Chester estava deitado em nossos joelhos, ronronando suavemente. E eu olhei para Ana e senti que isso era o verdadeiro milagre — o amor que nos encontrou e nos uniu.

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