Histórias

Em uma velha casa, a luz no sótão estava sempre acesa – até que um adolescente corajoso decidiu descobrir quem vivia lá

A casa na esquina da rua estava vazia há muito tempo. Com o telhado desgastado, pintura descascada e uma cerca que, em alguns lugares, parecia se segurar por um fio de esperança, ela parecia uma parte esquecida do passado. Ninguém se lembrava quem havia sido o último morador, e a maioria das pessoas da vizinhança a evitava. Exceto Theo.

Theo tinha catorze anos, e seu amor por mistérios era contagiante. Ele era especialmente fascinado por aqueles casos em que os adultos já haviam desistido. Ele notou um detalhe intrigante: todas as noites, uma luz aparecia no sótão da casa. Era fraca, como a de uma lâmpada antiga, mas constante. Às vezes, permanecia acesa por apenas meia hora, outras vezes até quase o amanhecer. Mas, sem falta, ela estava sempre lá, sozinha.

Ninguém na vizinhança admitia entrar naquela casa, e Theo, por um tempo, também não tinha coragem de fazê-lo—até uma certa noite. O calor do fim de agosto trazia uma sensação de aventura no ar. O céu começava a escurecer quando ele decidiu, finalmente, enfrentar sua curiosidade. Ele atravessou o portão rangejante e adentrou o pátio.

A porta da frente estava entreaberta. Lá dentro, o cheiro de poeira, madeira envelhecida e algo mais—talvez tabaco mentolado ou lavanda—tomava o ambiente. Theo seguiu pelos pisos rangentes, tentando fazer o menor barulho possível. As escadas que subiam ao sótão eram estreitas, mas pareciam seguras. A luz vazava por entre as frestas das tábuas.

Quando ele chegou lá em cima, parou sem fôlego. No pequeno espaço do sótão, havia uma mesa de escrita e, acima dela, pendia uma lâmpada. Próxima à mesa estava uma mulher. Ela parecia ter cerca de setenta anos. Não pareceu assustada com sua presença; ao contrário, virou-se calmamente e lhe deu um leve sorriso.

– Você veio, – disse ela. – Eu sabia que, cedo ou tarde, alguém acabaria subindo aqui.

Theo não sabia bem o que responder. Ele achava que deveria se sentir assustado, mas aquela mulher não emanava nada de ameaçador. Com um gesto delicado, ela o convidou a se sentar em um pequeno banquinho perto da janela.

– Meu nome é Juliette, – ela começou. – Esta casa pertencia à minha avó. Eu passei minha infância aqui. Depois que ela faleceu, meus pais venderam a casa, mas, há pouco tempo, ela voltou a ficar vazia. Eu decidi alugá-la para trabalhar em um projeto. Ninguém sabia que eu estava aqui, e isso me agradava.

Sobre a mesa havia cadernos, fotos antigas, lápis e papéis. Juliette explicou que estava escrevendo um livro sobre sua infância—sobre como era a cidade há muitos anos. O sótão servia como seu atelier particular, um espaço de silêncio e memória.

– Por que você não acende a luz no andar de baixo? – Theo perguntou.

– Não quero que me incomodem. Mas acho que, agora, isso não é mais tão importante, – ela respondeu, piscando para ele. – Você não ficou com medo, ficou?

Ele balançou a cabeça negativamente. Eles então passaram um longo tempo conversando. Sobre como o tempo voa, como casas e cheiros desaparecem, e como é vital preservar algo do passado. Antes de partir, Theo perguntou se poderia voltar. Juliette apenas sorriu.

A partir daquele dia, Theo fez daquela casa um de seus refúgios. Às vezes, ele apenas ouvia suas histórias. Outras vezes, ajudava a organizar cadernos ou mover papéis antigos. E aquela luz no sótão deixou de ser um mistério—tornou-se um símbolo da conexão entre o passado e o presente, entre a infância e os insights da maturidade.

Agora, toda vez que passava por aquela casa velha, Theo sentia que as descobertas mais incríveis às vezes o aguardavam atrás de uma porta entreaberta—se você tiver coragem de espiar para dentro.

Related Articles

Back to top button