Histórias

Ele pensou que eu ficaria envergonhada por não poder ter filhos, mas no corredor da clínica, eu disse algo que ele lembrará por muito tempo…

Eu estava sentada no hall, folheando uma revista e tentando não olhar em volta. Os casais estavam nervosos, alguns cochichavam, outros se davam as mãos. A porta se abriu — e ele entrou. Ao lado dele, uma mulher grávida, bonita e bem cuidada.

– Você? – ele se surpreendeu. O sorriso era educado, mas o olhar de cima para baixo, como sempre.
– Oi, – eu disse calmamente.
A mulher fez um gesto de cabeça:
– Vocês se conhecem?
– Nos encontramos uma vez, – ele respondeu mais rápido do que eu e fez uma careta: – Ela nunca quis ter filhos.

A frase pairou no ar. Duas pessoas levantaram a cabeça. Eu me senti desconfortável, mas me mantive firme.
– Não é bem assim, – eu disse. – Eu simplesmente não queria ser avaliada apenas por gerar filhos ou não.

Ele tremeu um pouco. Nesse momento, a enfermeira chamou meu sobrenome. Eu me levantei, ajeitei o paletó e fui para o consultório. Foi um pouco amargo. Ele se afastou justamente por essa conversa: eu queria carreira, projetos primeiro, depois família. Ele disse que eu me arrependeria.

No consultório, eu não estava lá para tratar infertilidade. Eu estava para congelar óvulos antes de uma longa viagem a trabalho. A médica olhou os exames e falou normalmente, sem pompa:
– Está tudo bem com você. O congelamento é sobre planejamento, e não sobre medo.

Quando saí, eles estavam no balcão: a mulher preenchia papéis, ele parecia envergonhado ao lado. Nossos olhares se encontraram. Ele gesticulou sem som: “Ainda sozinha?”
– Não, – eu sorri. – Apenas seletiva.

A mulher se virou para ele:
– O que ela quis dizer?
Ele murmurou algo sobre uma piada. Passei por eles e, pela primeira vez em muito tempo, não me senti “menor”. Pelo contrário — tranquila.

Éramos considerados um “casal perfeito”: mesma universidade, planos, viagens, macarrão instantâneo à noite. Cinco anos juntos. Depois consegui um trabalho em um grande jornal. Ele queria uma “vida normal”: casa, filhos, jantar às sete. Eu disse: sim, mas não agora. Quero congelar meus óvulos e não ter pressa. Ele chamou isso de “não natural”. Em três meses, ele se foi. Quase imediatamente se casou.

Isso doeu por muito tempo. Eu trabalhava, viajava, escrevia textos complexos. Mas às vezes uma voz interior sussurrava: e se ele estiver certo? E se eu estiver atrasada?
E então, aquela manhã na clínica colocou tudo em perspectiva.

Uma semana depois, eu escrevi uma coluna — sobre escolha, não sobre desculpas. Sobre o fato de que a felicidade não tem horário. O texto se espalhou. Fui convidada a programas, recebi cartas — algumas com agradecimentos, outras com desculpas. A médica da clínica também escreveu: “Essas palavras ajudam”.

Então chegou uma carta dele. Breve: “Você estava certa. Fui estreito. Não é simples com minha esposa. Acontece que o problema está em mim. Desculpe”.
Eu sentei e olhei para a tela. Não senti alegria nem vingança. Apenas silêncio.
Respondi também de forma breve: “Obrigada. Cuide-se. Que haja paz”.

Naquela noite, fui dar uma caminhada pela orla. Famílias passeavam, alguém corria, alguém empurrava um carrinho de bebê. Eu caminhava pensando: não sou contra casa, filhos e jantar às sete. Sou contra ser empurrada para isso. Quero por mim mesma. No meu próprio tempo.

Algumas semanas depois, minha coluna foi premiada. No palco, lembrei do hall da clínica, da frase dele e do meu “não, sou seletiva”. E disse ao microfone algo simples:
– Este é um texto para toda mulher que já ouviu que está atrasada em sua própria vida. A felicidade não tem prazo.

O público aplaudiu. E eu percebi: não tenho mais nada a provar. Nem para ele, nem para mais ninguém. Apenas para mim — que tenho o direito ao meu ritmo e às minhas escolhas.

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