Histórias

Ele os abandonou no primeiro dia. Mas a vida tinha uma resposta inesperada para ele…

Sempre pensei que os gritos mais felizes do mundo fossem o choro de bebês. Naquele dia, eram três de uma vez. Eu estava deitada na maca, ofegante de cansaço e felicidade, olhando para os três pequenos seres que haviam acabado de ser retirados de mim. Tão pequeninos, enrugados, mas já meus.

Ele estava ao meu lado, segurando a minha mão. Eu esperava ver no rosto dele a mesma alegria que eu sentia. Mas assim que a enfermeira levantou um dos bebês, vi sua expressão mudar de repente. Seu rosto ficou tenso, os lábios se comprimiram numa linha fina.

— Eles… são escuros — ele exalou, como se estivesse proferindo uma sentença.

No início, não entendi do que ele estava falando. As crianças realmente eram mais escuras do que nós, mas isso importava? Elas eram nossas.

— Estes são nossos filhos — eu disse baixinho. — Seus.

Ele puxou a mão, se soltou, balançou a cabeça:

— Você me enganou. Eu não sou burro, vejo tudo.

E sem esperar explicações ou análises dos médicos, ele simplesmente se virou e foi embora. Do quarto. Do hospital. Da nossa vida.

Aquela noite, eu estava sozinha no quarto, com três pequenos pacotes em bercinhos transparentes, tentando aceitar que agora eles não tinham pai. Sem proteção, sem apoio, nem mesmo um sobrenome de que pudessem se orgulhar. Restava apenas eu e três crianças, que choravam uma de cada vez, e depois juntas.

Acariciei uma pequena mãozinha e sussurrei:

— Tudo bem. Mesmo que todos nos deixem — eu não irei embora. Vocês são meus. Eu não os abandonarei.

A vida após a alta foi muito mais difícil do que eu imaginava. Criar um filho não é fácil. Três — é quase à beira do impossível. Eu aceitava qualquer trabalho que surgisse: limpeza, costura, ajudante nas cozinhas. À noite, contava as moedas e rezava para que durassem até o fim do mês.

As pessoas tinham posturas diferentes. Alguns com compaixão, outros com desprezo. Ouvir sussurros pelas costas era especialmente doloroso.
— Viu? Três, e nenhum deles se parece com o pai…
— Que santa, viu só.

Às vezes, não queriam alugar uma casa quando viam meus filhos. Diziam: «Temos uma casa tranquila aqui» ou «Famílias como a sua não nos convêm». Eu aprendi a me virar em silêncio e ir embora.

Toda noite, mesmo exausta, eu sempre dizia aos meus filhos a mesma coisa:

— Talvez a gente não tenha dinheiro, brinquedos ou roupas bonitas. Mas temos a verdade. Temos dignidade. E temos uns aos outros.

Os anos passaram. As crianças cresceram e cada uma mostrou sua força de forma única. Um estava sempre desenhando, construindo cidades com blocos. Outro adorava debater e defender os que eram injustiçados. O terceiro sempre foi fascinado por música, podia ouvir melodias por horas e tentava cantar no ritmo.

Cresceram, se formaram, começaram a trabalhar. Cada um tinha seu caminho, suas vitórias. Eu olhava para eles e pensava: se ele pudesse ver no que se tornaram aqueles que ele abandonou… Provavelmente, ele diria novamente que “eles não são dele”.

A sombra ainda permaneceu. As pessoas gostavam de fazer perguntas venenosas:
— Você tem certeza de quem é o pai?
— Talvez ele tenha ido embora porque não era burro?

Eu me acostumei a ficar calada, mas para as crianças era mais difícil. Elas não provavam nada a ninguém, mas eu via como cada insinuação deixava uma marca.

Certa vez, à mesa de jantar, um deles disse:

— Vamos fazer um teste. Não para nós. Para você. E para aqueles que duvidaram a vida inteira.

Eu resisti por muito tempo. Parecia humilhante, uma tentativa de se justificar diante de estranhos. Mas eles já haviam decidido. Coletaram amostras, preencheram formulários.

O resultado chegou algumas semanas depois. O envelope estava na mesa, e ninguém ousava abri-lo. No final, fui eu quem rasgou a ponta e desdobrou o papel. E a primeira coisa que vi foi uma linha grossa: «Probabilidade de maternidade biológica: 99,999%». Ri comigo mesma: disso eu nunca duvidei nem por um segundo.

Mais abaixo, a parte mais importante.
«Probabilidade de paternidade biológica do homem indicado em relação a cada um dos três filhos: 99,999%».

O silêncio era tão profundo que parecia possível ouvir o coração de cada um batendo.

Trinta anos atrás, ele saiu do hospital me acusando de traição. Por trinta anos as pessoas cochicharam, pensando que “em algum lugar” havia um verdadeiro pai. Por trinta anos meus filhos viveram com o estigma de serem «de origem duvidosa». E agora, em uma folha de papel, estava escrita uma palavra simples, fria, mas tão necessária para nós: «dele».

Depois, descobriu-se que havia familiares afrodescendentes na família dele há muito tempo e preferiram não falar sobre isso. Os genes ressurgiram uma geração depois, e fomos eu e as crianças que pagamos o preço.

Decidimos não procurá-lo. Não porque eu guarde rancor — esse sentimento já se apagou há muito tempo. Simplesmente há verdade suficiente em nossas vidas sem ele.

Às vezes eu penso: se ele aparecesse à porta e pedisse desculpas, eu conseguiria perdoá-lo? E o mais importante — as crianças deveriam conhecer uma pessoa que um dia as olhou e decidiu que era mais fácil ir embora do que confiar em quem viveu ao seu lado?

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