Durante a noite debaixo de uma chuva torrencial, ele avistou uma silhueta junto ao portão – era seu cachorro, desaparecido há dois anos

A chuva batia forte no telhado, escorrendo em riachos pelo vidro da janela. O vento balançava as árvores antigas, e a noite parecia mais escura do que nunca. Tomás estava sentado à mesa da cozinha com uma xícara de chá, quando, em meio ao barulho da chuva, ouviu um som estranho. Primeiro, ele achou que fosse sua imaginação – algo parecia estar arranhando o portão. Seu coração acelerou. Poderia ser só um engano? O som, porém, se repetiu. Ele se levantou, foi até a janela e ficou paralisado. Sob a luz do poste, a silhueta de um cachorro magro, molhado e tremendo de frio era visível. Tomás não podia estar errado. Era o Bruno.
Dois anos atrás, Bruno desapareceu. Tomás procurou por toda a região, colou anúncios, perguntou aos vizinhos, mas o cachorro parecia ter sumido sem deixar rastros. O tempo foi passando, e a esperança começou a desaparecer. Em um dado momento, ele teve que aceitar que seu fiel amigo havia partido para sempre. Mas agora ele estava ali no portão, com a mesma velha coleira, embora mais velho, magro, com olhos que transbordavam cansaço.
Tomás correu até a porta. Quando abriu, Bruno não se moveu – estava parado, como se não acreditasse que finalmente havia chegado em casa. Só depois de Tomás ajoelhar-se e sussurrar seu nome baixinho, o cão finalmente reagiu. Ele deu um passo, depois outro… até que de repente disparou em direção ao dono. Tomás sentiu o pelo molhado pressionando-o, o cão tremendo enquanto soltava um leve som, como se estivesse chorando de emoção. Ele o abraçou forte, incapaz de conter as lágrimas. “Você voltou… você encontrou o caminho…” – foi só o que conseguiu dizer em meio à sua voz embargada.
Bruno estava exausto. Tomás o envolveu em uma toalha quente, colocou-o perto da lareira e deixou uma tigela de comida para ele. O cão comia devagar, claramente esgotado, mas em seus olhos havia algo familiar – paz, a certeza de que estava em casa de novo.
Na manhã seguinte, Bruno não desgrudou de Tomás por um instante. Ele o seguia por toda a casa, como se temesse que o dono pudesse desaparecer novamente. Tomás o acariciava nas costas, sentindo suas costelas sob os dedos – o cão estava perigosamente magro, mas agora ele estava seguro. O vento já havia acalmado, o sol começava a surgir entre as nuvens, mas dentro do coração de Tomás ainda pairava uma tempestade de dúvidas. Onde Bruno esteve nesses dois anos? Alguém cuidou dele, ou ele sobreviveu sozinho? Por que ele voltou precisamente naquela noite?
Tomás resolveu inspecionar a velha coleira e sentiu o coração apertar ao notar algo novo – um pequeno medalhão de metal estava preso à coleira, algo que não estava lá antes. Nela, havia uma única palavra gravada: “Cuida”. Isso só podia significar uma coisa – alguém encontrou Bruno, alguém o salvou e, talvez, até o amou. Mas, no fim das contas, Bruno voltou para onde verdadeiramente pertencia.
Ainda naquele dia, Tomás levou Bruno até a clínica veterinária. O médico disse que ele estava muito debilitado, mas, no geral, saudável. “Ele se afastou muito de casa, – disse o veterinário enquanto examinava antigas cicatrizes e cortes. – É possível que ele tenha percorrido dezenas de quilômetros antes de encontrá-lo.”
Naquele fim de tarde, enquanto Tomás estava sentado perto da lareira e Bruno descansava enroscado a seus pés, ele sentiu algo maior do que alegria. Ele entendeu que, às vezes, amor e lealdade são mais fortes do que a distância, o tempo e até mesmo as perdas. Bruno havia percorrido uma longa jornada, mas encontrou o caminho de volta para casa.
Naquela noite, Tomás demorou a pegar no sono. Ele pensava na pessoa que havia cuidado de seu cachorro, no motivo pelo qual decidiram deixá-lo ir e por que decidiram gravar exatamente aquela palavra no medalhão. Talvez alguém tenha percebido que Bruno sempre pertenceu a outro lar. Ou, quem sabe, apenas quis lembrar a Tomás que, nesse mundo, não há nada mais valioso do que aqueles que verdadeiramente nos esperam.