Histórias

Durante 10 anos, criei meu sobrinho como se fosse meu filho. E aos 18 anos, ele olhou nos meus olhos e disse…

Minha irmã faleceu em um acidente de carro há dez anos. Na época, o filho dela tinha oito anos. O marido dela sobreviveu ao acidente, mas, um ano depois, casou-se com outra mulher e disse claramente: a nova esposa não queria criar um filho de outro, ele não pode levar o filho consigo. Simplesmente o rejeitou, como se fosse um objeto desnecessário.

Eu levei o menino para morar comigo. Eu tinha trinta e dois anos, vivia sozinha e não tinha filhos. Pensei — é o filho da minha irmã, meu sangue, como posso colocá-lo em um orfanato?

O primeiro ano foi um inferno. Ele chorava todas as noites, chamava a mãe, acordava gritando. Consultava um psicólogo, mas isso ajudava pouco. Eu ficava ao lado dele à noite, abraçando, balançando-o como se fosse pequeno. Mesmo ele já sendo grande — quase nove anos.

Depois ficou mais fácil. Ele se acostumou, começou a chamar meu apartamento de lar. Eu o matriculei em uma nova escola, futebol e aulas de inglês. Trabalhava em dois empregos para pagar tudo. Tive a oportunidade de me mudar para a Alemanha — me ofereceram um bom cargo, um salário digno. Mas recusei. Não podia arrancar a criança de um ambiente familiar novamente, depois de tudo o que ele passou.

Três anos depois, recebi uma proposta de casamento de um homem com quem eu namorava. Bom, confiável, com um bom emprego. Mas ele me disse honestamente que estava disposto a se casar comigo, mas não criar um filho que não era seu. Sugeriu mandar meu sobrinho para um internato — disseram que cuidariam dele lá, e nós poderíamos começar nossa vida juntos.

Recusei. Escolhi meu sobrinho.

Por dez anos, eu fui tudo para ele. Eu ia às reuniões de pais na escola, ficava no hospital quando ele estava doente, estudávamos juntos até tarde, eu fazia seus pratos favoritos. Organizava festas de aniversário, comprava presentes de Natal, viajava com ele para o mar nas férias. Investia todo meu dinheiro, todo meu tempo, toda minha energia.

Eu não esperava gratidão. Apenas o amava. Ele era tudo o que restou da minha irmã. O único parente próximo.

Quando ele completou dezesseis anos, começou a se afastar. Adolescência, pensei. Normal. Começou a falar menos, passava mais tempo no quarto, no celular. Eu não me intrometia, dava espaço. O psicólogo dizia que isso era um processo normal de amadurecimento.

Com dezessete anos, ele se tornou rude. Respondia grosseiramente aos pedidos, batia a porta, podia não dormir em casa. Eu tentava conversar, mas ele se afastava. Dizia que eu não era ninguém para ele, que eu não o entendia, que eu o deixasse em paz.

Pensei — é uma fase, vamos superar. Todos passam por isso.

Então ele fez dezoito anos. Eu fiz um bolo, comprei um presente — um novo notebook que ele tanto queria. Preparei a mesa, chamei os amigos dele. Queria fazer uma celebração, como sempre fazia.

Ele chegou em casa à noite e disse que havia encontrado o pai. Através das redes sociais, alguns meses atrás. Eles estavam conversando, se ligando, se encontrando. O pai, na época, já havia se divorciado da segunda esposa, morava sozinho. Disse ao filho que sempre se arrependeu de ter se afastado dele. Que queria compensar o tempo perdido.

Meu sobrinho me informou que estava se mudando para a casa do pai. Na próxima semana.

Eu estava na cozinha com o bolo nas mãos e não conseguia falar. Apenas perguntei — por quê? Por que ele não disse antes, por que escondeu?

Ele respondeu que tinha medo da minha reação. Que sabia que eu seria contra. Que eu tentaria detê-lo, manipulá-lo, pressionar com pena.

Eu nunca manipulei ele. Nunca.

Então ele acrescentou algo que me destruiu completamente.

Disse que eu nunca fui mãe para ele. Que ele sempre sentiu a diferença. Que eu o criei por obrigação, não por amor. Que a verdadeira mãe — é aquela que deu à luz, e eu — sou apenas a tia que o acolheu porque era o que precisava ser feito.

Dez anos da minha vida. Eu abri mão da carreira, da vida pessoal, de tudo por ele. Investia cada centavo, cada minuto. O amava como se fosse meu filho, porque ele era meu filho — o filho da minha irmã, meu sangue.

Mas ele sentia a diferença.

Uma semana depois, ele fez as malas e foi embora. O pai veio buscá-lo de carro, nem subiu. Meu sobrinho saiu com duas malas, olhou para o apartamento e se foi.

Não me abraçou ao se despedir. Apenas disse — obrigado por tudo.

Obrigado por tudo. Como se eu fosse um hotel onde ele viveu por dez anos.

Seis meses se passaram. Ele não liga, não escreve. Vi a página dele nas redes sociais — ele publica fotos com o pai, escreve posts sobre como está feliz por ter encontrado sua família. Sobre como é importante ter um verdadeiro pai por perto.

Um verdadeiro pai. Aquele que o rejeitou aos nove anos, quando a criança perdeu a mãe e precisava de apoio. Que escolheu uma nova esposa em vez do filho.

E eu, que por dez anos não dormi noites, abri mão de tudo, o criei, o amei — eu não sou de verdade.

Eu me sento no apartamento, cercada pelas fotos de infância dele, seus desenhos na geladeira, seus livros na estante. Toda a minha vida nos últimos dez anos girou em torno dele. Não construí uma carreira, não formei uma família, não tive meus próprios filhos.

Mas ele foi para quem o abandonou e disse que finalmente encontrou um verdadeiro pai.

Recentemente, o pai dele me escreveu. Agradeceu por ter criado seu filho. Disse que agora ele vai tirar esse fardo de mim, que estou livre. Que fiz o meu trabalho.

Livre. Eu deveria estar feliz por estar livre.

Mas eu não estou feliz. Apenas fico sentada sozinha em um apartamento vazio e percebo que dei dez anos da minha vida a alguém que nunca me considerou família.

Digam-me honestamente: fui ingênua ao pensar que amor e cuidado poderiam substituir o vínculo de sangue? Ou ele é simplesmente uma pessoa ingrata que traiu quem cuidou dele?

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