Decidi acolher minha amiga em casa após seu divórcio. E depois de algum tempo percebi que estava gradualmente me tornando uma serviçal em minha própria casa

Existem amizades que superam tudo: casamentos, divórcios, filhos, funerais. Nós nos conhecemos há mais de trinta anos. Estudamos juntas para provas, compartilhamos as primeiras desilusões amorosas. Depois ela foi morar em outra cidade, mas sempre voltava — e com ela eu podia ser eu mesma.
Por isso, quando uma noite ela me ligou, arrasada, dizendo apenas: «Não tenho para onde ir…» — eu nem pensei. Disse: «Venha. Sempre há um lugar para você aqui.»
Os primeiros dias foram como na juventude — longas conversas, risadas, lembranças. Após a morte do meu marido, a casa estava silenciosa demais, e a presença dela me fazia bem. Eu tentava cercá-la de cuidados: cozinhava, cedia a melhor cama, comprava toalhas novas para agradá-la. Ela prometeu ficar por algumas semanas, enquanto se recuperava.
Mas passaram-se um mês… depois dois. Ela não procurava apartamento, não enviava currículos, não se levantava de manhã — «colocando o sono em dia de anos». Andava pela casa com o meu roupão, ocupava o sofá, e perguntava: «Comprou meu iogurte? Aquele de frutas…» — como se fosse algo óbvio.
Gradualmente, comecei a sentir que estava desaparecendo. Voltava do trabalho e lá estava ela, bebendo chá e lendo meu jornal. Quando pedia para preparar pelo menos uma sopa, ela só ria: «Você faz melhor, e eu não tenho jeito para isso.»
Eu sempre lavava a louça. Também comprava as compras. Na geladeira — tudo que ela gostava. No banheiro — só os produtos dela. Na TV — suas séries.
Um dia, quando chamei outra amiga para tomar um café, ela se queixou dizendo que «não se sentia à vontade com estranhos na casa». Até meu gato ela espantava — «alergia».
Por muito tempo justifiquei seu comportamento, achando que ela estava sofrendo após o divórcio. Que estava ferida e desorientada. Que eu precisava ser paciente. Mas um dia, quando começou a rearranjar os móveis dizendo que «assim ficava melhor», eu entendi: ela cruzou a linha.
O dia mais difícil foi quando ela pediu que eu pegasse as roupas dela na lavanderia e comprasse mantimentos após o trabalho — «sem forças para sair». Voltei carregando as sacolas com dificuldade, e ela só perguntou: «Comprou o detergente certo? Não se enganou?»
E algo dentro de mim se quebrou.
Pela primeira vez em muito tempo, falei com firmeza:
«Precisamos conversar. Não pode continuar assim. Esta é minha casa. E você precisa pensar para onde vai se mudar.»
No início, ela ficou desorientada, em seguida ofendida, alegando que eu «não entendia nada» e só «pensava em mim». Foi muito difícil para mim, mas eu sabia: se não estabelecesse limites agora, perderia a mim mesma.
Ela partiu depois de alguns dias, batendo a porta. E ainda me senti culpada por muito tempo — como se tivesse traído alguém que me chamava de família. Mas aos poucos a casa parecia mais leve. Eu senti novamente que era meu lar, minha vida, meus regras.
Meses depois, chegou uma mensagem curta:
«Desculpe. Acho que estava completamente perdida naquela época. Obrigada por ter ajudado, mesmo que eu não tenha valorizado.»
Respondi que desejava o melhor para ela. E pensei:
às vezes, o mais difícil é dizer «não» a alguém que amamos. Mas se não dissermos a tempo, podemos perder muito mais — nós mesmos.




