Histórias

Criei-o como se fosse meu. Mas no dia da formatura, ele agradeceu a todos… exceto a mim, e então meu coração não aguentou…

Quando conheci o pai dele, esse menino já carregava uma dor adulta que não correspondia à sua idade. Sua mãe biológica foi embora quando ele tinha três anos. Não morreu, não estava doente — simplesmente disse um dia que “assim seria melhor”, pegou suas coisas e foi embora com outro homem. No início, ligava algumas vezes por mês, prometia visitar “no fim de semana, com certeza”, enviava cartões de aniversário com mais glitter do que sentido. Depois, as ligações foram se tornando cada vez mais raras. As cartas — mais curtas. E, finalmente, o silêncio total.

Ele fingia não esperá-la. Mas eu via como ele espiava o telefone do pai. Como todo sábado, ele se aproximava da janela, como se estivesse verificando algo. Perguntava se o número não tinha se perdido, talvez devesse escrever para ela mesmo. Até que um dia ele simplesmente parou de falar sobre isso. Esse silêncio era pior do que qualquer lágrima, como se algo dentro dele tivesse se fechado para sempre.

Quando entrei na vida deles, eu nem pensava em “me tornar mãe”. Apenas ajudava onde podia: buscava-o na creche enquanto o pai ficava preso no trabalho, fazia sopa quando ele estava doente, lia um livro à noite. No começo, ele ficava cauteloso, como se estivesse testando se eu também desapareceria repentinamente como a outra mulher. Às vezes ele olhava tão diretamente para mim que tudo dentro de mim se apertava: crianças pequenas sabem olhar como se vissem através de você.

E então, um dia, ele simplesmente me pegou pela mão. Sem perguntar, sem avisar. Apenas pegou — como se precisasse se certificar de que eu era real, que não desapareceria. E na manhã seguinte ele perguntou em voz baixa: “Posso te chamar de mamãe às vezes?” Naquele momento, me virei com o pretexto de que estava procurando uma colher, pois de repente falar se tornou difícil. Mas eu disse: “Claro”.

A vida seguiu seu curso: creche, escola, festas, resfriados, machucados, seu primeiro medo do escuro e a primeira nota baixa, pela qual ele chorou como se fosse uma catástrofe. Eu estive ao seu lado. Cometi erros, fiquei irritada, cansei, mas sempre voltei. Porque a partir de algum ponto deixou de importar quem era o quê para quem — eu o amava. Simplesmente assim.

Quando o relacionamento com seu pai começou a se desgastar, tentei resistir. Mas estávamos exaustos. A rotina, o trabalho, as coisas que não foram ditas — tudo isso se tornou uma barreira que não conseguimos superar. Nos separamos amigavelmente, sem escândalos. Ele pegou suas coisas e foi embora. E eu poderia ter parado por aí: fechar a porta, respirar fundo e continuar a vida. Muitos fazem isso.

Mas eu não consegui. Porque a criança não desapareceu. Ele não se tornou “ex”. Ele ainda corria até mim com o boletim quando conseguia uma nota quatro. Ainda ligava para perguntar como fritar um ovo porque o pai trabalhava até tarde. Ainda me esperava nas arquibancadas em suas competições, olhando em volta até encontrar meu rosto.

Sempre compareci. Não por causa do pai dele. Por ele.

Ele cresceu, tornou-se mais independente, fez amigos, planos próprios, novas preocupações. Mas entre nós restava uma ligação que é impossível explicar àqueles que não têm essa experiência. Ele não era “enteado”. Ele era o meu menino.

E quando chegou o dia da formatura dele, eu nem mesmo hesitei se deveria ir ou não. Me preparei para aquela noite como se estivesse prestes a assistir ao resultado de toda minha vida. Eu achava que ele sabia que isso era importante para mim. Achava que ele entendia que fui eu quem o segurou quando ele tinha medo. Que fui eu quem o ensinou a ser forte. Que fui eu quem estava ao lado dele todos aqueles anos.

Mas, como se vê, nem tudo que investimos nos filhos volta para nós. Às vezes, eles escolhem esquecer o que lhes é inconveniente lembrar.

E agora eu pergunto a vocês: vocês continuariam a amar uma criança que um dia fingiu que você nunca fez parte da vida dela?

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