Casei com um viúvo que tinha um filho pequeno, e um dia o menino me disse que a verdadeira mãe dele estava viva e ainda morava em nossa casa

Quando conheci Adam, eu tinha trinta e dois anos. Atrás de mim havia um casamento fracassado e alguns anos de solidão, por trás dos quais se escondiam cansaço e medo de começar tudo de novo. Mas ele era diferente — caloroso, tranquilo, como se tivesse vindo não para destruir minha paz, mas para dar-lhe sentido.
Adam tinha um filho — Leo, de cinco anos. Ele perdeu a mãe há dois anos, e no início havia uma barreira entre nós. Ele não fazia birra, não gritava, não dizia grosserias. Ele apenas mantinha distância. Educado, mas frio. Adam dizia: “Ele está apenas lidando com isso à sua maneira. Dê-lhe tempo”. E eu dei. Quanto fosse necessário.
Eu não tentava substituir a mãe dele. Apenas tentava estar por perto. Amarrava os brinquedos dinossauros no cabelo dele, fazia chocolate quente, lia livros para dormir. E ele começou a mudar. Às vezes ria. Às vezes pegava minha mão. Um dia até mesmo adormeceu no meu colo. Pensei: “Pronto, somos quase uma família.”
Nos casamos de maneira discreta, em casa. Leo vestiu a camisa que eu passei na véspera e segurou meu buquê enquanto assinávamos os documentos. Ele não disse nada de especial, mas em seu olhar havia consentimento. Pensei que ele me aceitou.
E então, uma noite, ele entrou no quarto, me abraçou e sussurrou:
— Sabe, minha mãe está viva. Ela ainda está aqui. Nesta casa.
Fiquei paralisada. Algo frio me apertou por dentro. Eu me sentei, olhei em seus olhos:
— Por que você pensa assim, Leo?
Ele encolheu os ombros e disse de forma muito simples:
— Porque eu sinto. Ela acaricia meu cabelo enquanto eu durmo. E senta na beira da cama, como antes.
Eu não discuti. Não disse que era impossível. Apenas o abracei. E ele adormeceu.
E depois eu não consegui dormir por muito tempo. Essas palavras pareciam presas na minha garganta. Eu não acreditava em fantasmas. Mas acreditava na memória infantil. Na saudade. Em como uma criança pode guardar dentro dela uma imagem mais forte do que qualquer palavra.
Pela manhã fui até o quarto dele. Sentei na beira da cama. Olhei para a foto que ele tinha na mesa de cabeceira — uma jovem mulher com um sorriso suave. A mãe de Leo. Eu me lembrei de quantas coisas nesta casa estavam intocadas. O lenço dela no cabide. A xícara dela com a inscrição “mamãe”. Os perfumes dela na prateleira do banheiro.
Vivíamos em uma casa onde tudo lembrava ela. Onde cada canto guardava sua sombra. E de repente percebi: Leo não estava mentindo. Ele realmente sentia que ela estava por perto. Porque nós mesmos não a deixamos partir.
No mesmo dia, conversei com Adam. Ficamos muito tempo sentados na cozinha, em silêncio. E então ele disse:
— Eu tinha medo de que se eu removesse as coisas dela — Leo pensaria que eu a esqueci. Mas eu não esqueci. Só não sabia como começar a viver de novo.
— Talvez devêssemos dizer a ele que lembrar não significa segurar? Que a mamãe sempre estará com ele. Mas ele pode amar outras pessoas. E ser feliz não é uma traição.
Adam assentiu.
No fim de semana, nós e Leo organizamos as coisas dela. Não jogamos nada fora, apenas colocamos em uma caixa. Ele escolheu um suéter dela — disse que usaria no inverno. Colocamos a foto em uma moldura e a colocamos na sala. Eu lhe contei que mãe não é apenas uma pessoa, é também um sentimento. E que ele pode guardá-la no coração, e ainda estar comigo. E isso é normal.
Ele se aconchegou a mim novamente. Sem medo. Sem tensão.
— Obrigado por não ter ficado chateada — ele sussurrou.
E eu entendi: ele também me escolheu. Do jeito dele. Não de imediato. Não com palavras. Mas de verdade.