Histórias

Aos 75 anos, percebi que não sou mais necessária para meus filhos. Mas é ainda mais doloroso entender por que isso aconteceu…

Tenho 75 anos e só recentemente me permiti admitir: me tornei supérflua na minha própria família. Isso não acontece de um dia para o outro. Chega silenciosamente. Primeiro, os filhos ligam com menos frequência, depois ficam ansiosos para terminar a conversa, depois dizem que estão “ocupados” e que “ligarão mais tarde”. E então simplesmente esquecem.

Eu tentei não me magoar. Dizia a mim mesma que a vida era assim, que eles têm suas próprias ocupações e preocupações. Eu era paciente, como só mães sabem ser. Esperava as ligações. Preparava seus pratos favoritos, embora eles não aparecessem há muito tempo. Colocava flores no vaso para que se sentissem bem em casa caso decidissem aparecer. Mas eles não vinham.

Um dia, tentei dizer ao meu filho mais velho que me sentia sozinha. Que às vezes passava o dia todo sem ouvir meu nome. Ele suspirou e disse: “Mãe, você é adulta. Cada um tem sua própria família.” Essa conversa ficou em mim como uma pedra. Naquele momento, pela primeira vez, pensei que talvez realmente fosse um fardo. Um incômodo. Ocupando o tempo dos outros.

Minha filha mais nova certa vez disse: “Mãe, não se intrometa. Vamos nos ver depois.” Eu apenas assenti e sorri, embora por dentro estivesse arrasada. Depois daquele dia, nunca mais liguei primeiro. Se precisarem, eles ligam. Eles não ligaram.

Passaram-se algumas semanas. Vivi como uma sombra. Comia, dormia, fazia exercícios para as articulações, para ao menos me movimentar um pouco. Olhava para as fotos onde os filhos eram pequenos, pendurados em mim, sorrindo. Naquela época, eu era o centro do mundo deles. Agora, sou como um móvel, lembrado apenas quando precisam de ajuda com os netos ou para assinar algum documento.

Um dia, decidi tentar falar novamente. Preparei as palavras com antecedência, para não tremer. Disse que me sentia inútil, que era difícil viver assim. Queria que eles entendessem. Mas os filhos me olhavam como se eu fosse uma pessoa caprichosa inventando problemas. “Mãe, pra quê começar isso? Nós realmente não temos tempo para essas conversas.” Nenhum perguntou: “O que você precisa?”

Então, entendi: eles não vão ouvir. Não porque são maus. Mas porque estão acostumados com minha presença constante. Que sou sempre forte. Que sempre “dá conta sozinha”. Mas eu me cansei de ser aquela que dá conta.

Aquela noite, fiquei sentada na cozinha por muito tempo, tomando chá e olhando através da janela escura. Pela primeira vez em muitos anos, decidi que era hora de parar de me apegar ao que não é mais meu. Que é hora de viver como é, e não como gostaria que fosse. No dia seguinte, fechei os álbuns, guardei os desenhos infantis que guardava há décadas, e disse a mim mesma: “Agora, vivo não por eles, mas por mim mesma”.

Comecei a sair para passear, a ouvir mais as pessoas no parque, a sorrir para os vizinhos, a comprar tulipas para mim mesma porque ninguém me dá flores há muito tempo. E então percebi: quando paramos de esperar, a paz interior se instala.

Mas sabem o que é mais doloroso? Não é a solidão. É o momento em que você percebe que aqueles a quem você deu seu coração nem notaram que ele ficou vazio.

E então eu penso: o que fazer quando um pai que viveu a vida inteira para os filhos chega à velhice e se encontra sozinho? O que você faria no meu lugar?

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