A minha filha sugeriu que eu me mudasse para morar com ela para que eu não me sentisse tão solitária, mas por trás dessa oferta escondia-se uma dura verdade…

— Mãe, vem morar com a gente! Por que ficar morando sozinha? Com a gente, você vai estar melhor, mais confortável, e, finalmente, alguém poderá cuidar de você — dizia minha filha toda vez que me ligava à noite.
Durante muito tempo, recusei. Afinal, já passei dos setenta, tenho meus hábitos, minha rotina, minhas manhãs. Gosto de acordar cedo, preparar o café na velha xícara um pouco rachada e sentar à janela, olhando para as árvores em frente à casa. Não é luxo, mas é — o meu mundo. Minha paz. Meu lar.
Mas então, o silêncio começou a soar insuportável. Depois que meu cachorro partiu, fiquei especialmente solitária. A TV me irritava, os livros logo perdiam a graça, e as vizinhas, cada vez mais, iam visitar os filhos em vez de tomar chá comigo. Eu me pegava pensando com frequência: talvez, minha filha esteja certa?
E quando, um dia, ela ligou novamente e disse:
— Mãe, venha morar com a gente, já preparamos tudo para você, vai ser mais fácil…
Eu, inesperadamente, respondi:
— Está bem. Se vocês realmente querem, eu vou.
Naquele momento, eu não sabia que essa decisão iria mudar toda a minha vida. Primeiro para melhor. Depois — nem tanto.
Eles me receberam com alegria. Prepararam um quarto só para mim: cama limpa, luz acolhedora, uma planta na janela. Pensei — talvez seja realmente bom. Os primeiros dias foram maravilhosos. Tomávamos café, passeávamos, eu preparava almoços, meu neto ria, e a casa estava viva e quente. Eu me sentia necessária.
Mas, no quarto dia, começaram as pequenas coisas. Primeiro — o barulho. Conversas telefônicas, portas batendo, brinquedos que faziam barulho sem parar. À noite, quando todos dormiam, meu coração batia forte, como se estivesse correndo. Depois de quinze anos de silêncio, o barulho constante parecia uma tempestade da qual não havia abrigo.
Em seguida, veio o segundo desconforto. Durante o jantar, meu genro tomava vinho — primeiro uma taça, depois outra. Tornava-se mais alto, mais irritado. Eu me encolhia, como na infância, quando meu pai levantava a voz. Não queria lembrar daqueles tempos. Minha filha estava cansada, o neto estava irritado, a tensão pairava no ar. E eu sentada no canto da mesa, pensava: onde estava o calor que me prometeram?
A partir daí, ficou mais difícil. Minha filha, às vezes, falava irritada:
— Mãe, por favor, não atrapalhe, estou trabalhando.
Ele brincava:
— A mãe é uma craque na faxina, não é?
E eu percebia que não era brincadeira. Era o hábito de me ver como a mulher conveniente que arrumaria tudo e ficaria quieta.
Quando eu oferecia cozinhar o almoço — eles dispensavam:
— Não precisa, descanse.
Quando convidava para passear — respondiam:
— Depois, amanhã.
Mas o amanhã nunca chegava.
Uma noite, acordei com gritos. Eles estavam brigando — alto, com raiva, como se eu não estivesse ouvindo. Sai para o corredor, queria acalmar, dizer: “Não briguem, não vale a pena”. Mas minha filha olhou para mim friamente:
— Mãe, isso não é da sua conta. Vá dormir.
Eu fui. Mas algo dentro de mim se quebrou.
Depois de alguns dias, minha pressão subiu, e chamaram o médico. Ele disse: “Você precisa de paz.” E então, pela primeira vez, pensei claramente sobre minha casa. Sobre a cozinha com a toalha de mesa colorida. Sobre a velha poltrona na janela. Sobre o silêncio habitual. Sobre o ar onde ninguém diz “não atrapalhe”.
Esse pensamento não me deixava. Compreendi — sou uma hóspede aqui. Não amada, não esperada, mas tolerada. E, certa noite, durante o jantar, eu disse baixinho:
— Quero voltar para casa.
Minha filha se surpreendeu:
— Mãe, mas por quê? Aqui você tem tudo. Lá, você vai ficar sozinha.
Eu sorri.
— Solidão não é o mesmo que falta de paz. Um dia você vai entender.
No dia seguinte, eu arrumei minhas coisas e pedi para me levarem de volta. Quando abri a porta do meu apartamento, foi como se respirasse pela primeira vez em muito tempo. Tudo estava em seu lugar. Silêncio, limpeza, ordem. Eu preparei um chá, sentei-me à janela. E, pela primeira vez em muitas semanas, senti — isto é meu.
O silêncio já não assustava mais. Ele curava.
Olhei para a velha xícara e, de repente, pensei:
e se eu adotasse um gatinho — ruivo, de olhos verdes. Que alguém voltasse a caminhar suavemente pela casa, ronronar, me encontrar na porta.
Sim. Amanhã vou ao abrigo.
Porque a vida pode ser recomeçada em qualquer idade.
O importante é estar em um lugar onde você realmente sinta paz.
O que é mais importante na velhice: não ficar sozinha ou ter sua paz e respeito?




