Meu filho de quinze anos começou a ficar na escola até mais tarde todos os dias. Ele me dizia — na biblioteca, treino, tutor. Eu me orgulhava da sua responsabilidade. Até que o diretor da escola me ligou e perguntou: “Por que seu filho está faltando às aulas nos últimos dois meses? …

Dois meses atrás, meu filho começou a ficar na escola até mais tarde. Antes ele chegava em casa às três da tarde, agora, por volta das seis ou sete da noite. Eu perguntava — onde você estava? Ele respondia calmamente — na biblioteca, estudando para a prova. Ou em aulas adicionais de matemática. Ou no treino de futebol.
Eu ficava feliz. Meu filho se tornou responsável, sério, dedicado aos estudos e ao esporte. Aos quinze anos, muitos adolescentes ficam ociosos, passeando, jogando videogame. Mas o meu está estudando, se desenvolvendo.
Cheguei até a me vangloriar diante das amigas — vejam só, ele está crescendo do jeito certo, entendendo por conta própria a importância da educação.
Ontem, me ligaram da escola. O diretor. A voz era séria: “Precisamos conversar sobre o seu filho. Urgente.”
Fiquei assustada — o que aconteceu? Ele brigou? Foi rude com algum professor?
O diretor disse: “Seu filho está faltando sistematicamente às aulas nos últimos dois meses. Ele chega para a primeira aula, registramos sua presença, e depois ele some. Volta na última aula, para ir embora junto com todos. Onde ele fica entre oito da manhã e três da tarde — não sabemos.”
Eu não consegui falar. Dois meses. Todos os dias. Meu filho faltava às aulas, e eu não sabia.
Agradeci ao diretor e desliguei o telefone. Sentei na cozinha, esperando por ele.
Ele chegou por volta das seis da tarde, como de costume. Largou a mochila, sorriu: “Oi, mãe. O que tem para o jantar?”
Eu perguntei calmamente: “Onde você estava?”
Ele respondeu o de sempre: “Na biblioteca, estudando para a prova de história.”
Olhei para ele: “O diretor me ligou. Disse que você não esteve na escola nos últimos dois meses. Depois da primeira aula.”
Meu filho empalideceu. Ficou em silêncio. Olhando para o chão.
Repeti: “Onde você esteve todos os dias das oito às três? Por dois meses.”
Ele se sentou em uma cadeira, abaixou a cabeça. Ficou calado por um longo tempo. Depois começou a falar baixinho.
Dois meses atrás, ele encontrou por acaso um amigo antigo. Eles eram amigos na escola primária, depois o amigo se mudou com os pais para outro bairro. Se encontraram por acaso na rua.
O amigo parecia mal — magro, pálido, com roupas sujas. Meu filho perguntou — o que aconteceu? O amigo contou.
O pai dele morreu há um ano. A mãe começou a beber, perdeu o emprego. Não têm dinheiro, o apartamento está frio, não há comida. A mãe bebe todos os dias, não olha para ele.
O amigo deixou a escola — não tem como comprar cadernos, livros, uniforme. Fica em casa sozinho, com fome, sentindo frio. Ele tem quatorze anos.
Meu filho não conseguiu ignorar isso. No dia seguinte, depois da primeira aula, saiu da escola, foi até a casa do amigo. Levou a ele comida que pegou em casa. Eles ficavam juntos, se aqueciam, conversavam.
Depois, isso se tornou diário. Meu filho ia para a escola, registrava sua presença, para que eu não soubesse das faltas. Depois ia para a casa do amigo. Levava comida — sanduíches, frutas, uma garrafa térmica com chá. Às vezes, suas próprias roupas — casacos, suéteres.
Eles ficavam no apartamento frio, onde a mãe bêbada dormia no sofá. Meu filho fazia os deveres de casa com o amigo, para que ele não ficasse tão atrasado. Contava o que estavam aprendendo na escola. Lia os livros para ele.
Ele dizia para o amigo — não desista, você poderá voltar para a escola, eu vou te ajudar.
Todos os dias, por dois meses, meu filho faltou às aulas. Não estava passeando ou ocioso. Estava ajudando um amigo a sobreviver.
Eu ouvia e não sabia o que sentir. Orgulho — porque meu filho é tão bondoso, atencioso. Medo — porque ele perdeu dois meses de estudos. Culpa — porque não percebi o que estava acontecendo.
Perguntei: “Por que você não me contou? Eu teria ajudado.”
Ele me olhou: “Você sempre diz — mal damos conta de nós mesmos. Eu não quis pedir.”
Somos uma família monoparental. Eu trabalho em dois empregos, para que nos baste. O dinheiro é justo, mas vivemos dignamente. Meu filho via isso, entendia.
Por isso ficou em silêncio. Ajudou o amigo com seus próprios recursos — trouxe comida de casa, roupas, tempo.
No dia seguinte, fui visitar aquele garoto. Vi as condições em que ele vivia. Frio, sujeira, mãe bêbada. Uma criança sozinha nesse pesadelo.
Liguei para os serviços sociais. Começaram a averiguar. A mãe foi enviada para tratamento, o menino foi temporariamente colocado em um abrigo. Um bom lugar, quente, com comida, possibilidade de estudar.
Meu filho o visita lá todas as semanas. Eles fazem os deveres juntos. O amigo voltará para a escola após as férias.
O diretor me chamou novamente. Discutimos a situação. Meu filho foi punido formalmente — uma advertência condicional. Mas o diretor me disse baixinho: “Seu filho fez errado ao faltar às aulas. Mas a razão… Crianças assim são raras. Cuide dele.”
Passou-se um mês. Meu filho está recuperando o material perdido, estudando extra. As notas caíram, mas estão se recuperando.
Eu olho para ele e penso — ele sacrificou seus estudos por um amigo. Aos quinze anos, ele tomou a decisão de um adulto — ajudar quem está em dificuldade. Não ignorar.
Eu não aprovo faltar à escola. A escola é importante. Mas eu entendo o porquê ele fez isso. E me orgulho dele. Ele cresceu como uma pessoa bondosa, atenta.
Às vezes, penso — quantas crianças assim estão ao nosso redor? Quantos adolescentes de quatorze anos estão sentados em apartamentos frios, famintos, sozinhos, porque os pais bebem ou morreram? Quantos deles deixam a escola porque não têm como comprar um caderno?
E nós passamos por eles. Não vemos. Não percebemos.
Meu filho viu. E não passou direto. Sim, ele faltou à escola. Sim, isso está errado. Mas ele salvou um amigo da solidão, do frio, da fome. Aos quinze anos, ele fez o que muitos adultos não fazem.
Diga sinceramente: se seu filho faltasse à escola por dois meses para ajudar um amigo em dificuldade — você o puniria? Ou se orgulharia, apesar da irregularidade da atitude?
E o que é mais importante — a educação formal ou a capacidade de ter compaixão e ajudar quem precisa?




