O marido foi em uma viagem de negócios por uma semana. Decidi fazer uma surpresa — preparar para o seu retorno aquele prato especial que a mãe dele faz e que ele adora desde a infância. Liguei para a sogra, pedi a receita. Ela ficou surpresa: “Que viagem de negócios?” E falou algo que fez o chão sumir sob meus pés…

O marido arrumou a mala no domingo à noite. Disse que iria embarcar cedo amanhã — uma viagem de negócios por uma semana para outra cidade, um projeto importante, reunião com clientes. Eu o ajudei a arrumar a bagagem, passei suas camisas, verifiquei se ele não havia esquecido os documentos.
Pela manhã, ele foi para o aeroporto. Beijou-me ao se despedir e disse que manteria contato, mas estaria muito ocupado. Fiquei sozinha. Estamos casados há doze anos, acostumei-me com as viagens dele, mas ainda assim sinto saudades.
Nos primeiros dois dias, ele ligou à noite, brevemente — disse que estava cansado, as reuniões foram difíceis, amanhã seria outro dia ocupado. No terceiro dia, ele não ligou, mandou uma mensagem — desculpa, a reunião se estendeu, estou exausto, amanhã ligamos.
Eu não fiquei chateada. Compreendi — é trabalho. Decidi me ocupar com a preparação da surpresa para o seu retorno. Queria preparar seu prato favorito — um guisado segundo a receita da mãe dele. Ele adora esse prato desde criança e sempre pede para a sogra prepará-lo quando vamos visitá-los.
Na quarta-feira, liguei para a sogra. Pedi para ditar a receita. Ela ficou surpresa, feliz — afinal, você finalmente decidiu aprender! Começou a explicar: qual carne escolher, quais temperos, quanto tempo cozinhar.
Eu estava anotando, e então ela de repente perguntou: “Por que você precisa da receita agora? Pretende cozinhar?”
Respondi: “Sim, quero preparar para quando ele voltar da viagem de negócios. Ele retornará no domingo, quero surpreendê-lo.”
Caiu um silêncio. Longo, tenso. Pensei que a ligação tinha sido interrompida. Chamei: “Alô? Você está me ouvindo?”
A sogra respondeu baixinho, cautelosa: “Que viagem de negócios?”
Eu não entendi. Expliquei: “Como assim? Ele está em outra cidade nesta semana. Saiu na segunda-feira de manhã.”
Outro silêncio. Então a sogra disse devagar, escolhendo as palavras: “Ele está aqui. Chegou na segunda-feira à noite. Disse que você sabia, que permitiu. Está aqui já há três dias.”
Eu estava com o telefone no ouvido e não conseguia dizer uma palavra. Como assim ele está lá? Ele me disse que iria em uma viagem de negócios. Arrumou a mala, foi ao aeroporto.
A sogra continuou, confusa: “Ele disse que você estava cansada, que precisava deixá-la descansar, estar sozinha. Que vocês tinham combinado isso. Eu achei que você soubesse.”
Eu desliguei. Minhas mãos tremiam. Liguei para o meu marido. Ele não atendeu. Mandei uma mensagem: “Acabei de falar com a sua mãe. Onde você realmente está?”
A resposta chegou dez minutos depois: “Precisamos conversar. Estarei aí no domingo.”
Eu escrevi: “Venha agora. Explique agora.”
Ele não respondeu. Bloqueou a linha.
Liguei de volta para a sogra. Perguntei o que estava acontecendo, como ele estava se comportando. Ela disse que ele chegou triste, calado. Ficava em seu quarto de infância, quase não saía. Passava muito tempo sozinho, pensativo. Ela não interferia, pensava que tínhamos brigado, e eu o tinha enviado para os pais para esfriar a cabeça.
Mas não tínhamos brigado. Estava tudo bem. Ou pelo menos parecia estar bem para mim.
Eu não dormi por três noites. Revirava as últimas semanas na minha mente. Procurava sinais de que algo estava errado. Ele estava distante? Frio? Irritado? Não, normal. Cansado, mas normal.
No domingo, ele voltou. Entrou no apartamento e colocou a mala no chão. Eu estava sentada no sofá, esperando. Ele sentou-se em frente e disse: “Desculpe por mentir. Eu precisava estar sozinho. Para pensar.”
Eu perguntei: “Pensar sobre o quê? O que aconteceu?”
Ele ficou em silêncio por muito tempo. Então confessou: “Estou cansado. De tudo. Do trabalho, da vida, da rotina. Sinto que estou sufocando. Precisei ficar sozinho, em silêncio, sem obrigações. Fui para os meus pais, fiquei no meu antigo quarto, pensando.”
Eu não entendi: “Você poderia ter me dito a verdade. Poderia ter dito que precisava de uma pausa, de tempo para si. Eu teria entendido.”
Ele balançou a cabeça: “Você começaria a perguntar — por quê, o que há de errado, como posso ajudar. Eu não queria explicar. Eu só queria desaparecer por uma semana.”
Eu estava sentada olhando para o marido com quem vivi por sete anos. E não o reconhecia. Ele me mentiu, fugiu para os pais, se escondeu lá, ignorou minhas ligações. Em vez de conversar, explicar, pedir um tempo.
Ele disse: “Não sei o que há comigo. Talvez seja uma crise de meia-idade, talvez burnout. Mas eu preciso de espaço. Tempo para pensar na nossa vida, no que eu quero.”
Eu perguntei baixinho: “Você quer o divórcio?”
Ele respondeu sinceramente: “Não sei. Talvez.”
Nos separamos seis meses depois. Ele nunca conseguiu explicar direito o que aconteceu. Falou sobre cansaço, rotina, perda de propósito. Eu tentei salvar o casamento, ofereci terapia, férias juntos, mudanças. Mas ele já estava distante.
Agora passou um ano. Ele vive sozinho, aluga um apartamento. Nos falamos ocasionalmente — dividimos os bens, resolvemos formalidades. Ele não parece mais feliz do que naquela época. Apenas sozinho.
E eu ainda lembro daquele momento. Quando liguei para a sogra buscando a receita, querendo fazer uma surpresa. E ouvi que meu marido não estava em viagem de negócios, mas se escondia nos pais porque não conseguia estar ao meu lado.
Sabe o que é mais doloroso? Não é que ele mentiu. É que ele não confiou em mim para dizer a verdade. Decidiu que era mais fácil mentir e fugir do que dizer: “Está difícil para mim, preciso de um tempo.”
Talvez, se ele tivesse dito a verdade naquela época, tudo teria sido diferente. Talvez eu tivesse dado espaço a ele e ele teria voltado. Ou talvez tudo acabasse do mesmo jeito.
Você conseguiria perdoar um cônjuge que mentiu sobre uma viagem de negócios e se escondeu com os pais por uma semana porque não queria estar ao seu lado?




