As crianças insistiram que eu vendesse o apartamento e me mudasse para um asilo. Disseram que seria melhor e mais seguro para mim lá. Concordei, não queria ser um fardo. Mas um dia antes da mudança, algo aconteceu que me fez cancelar tudo…

Tenho setenta e um anos, moro sozinha desde a morte do meu marido. O apartamento é de três quartos, em um bom bairro, nós o compramos ainda nos anos noventa. As crianças já cresceram, cada uma tem sua própria família e vive separadamente.
No último ano, eles começaram a falar insistentemente sobre o asilo. Que seria difícil para mim sozinha, que se algo acontecesse, ninguém saberia. Que lá teria cuidados profissionais, enfermeiras, companhia de pessoas da mesma idade. Que eles ficariam mais tranquilos comigo lá.
Resisti no início. Mas estavam tão preocupados, falavam de forma tão convincente, que comecei a pensar — talvez seja mesmo melhor assim? Não quero ser um fardo para os meus filhos, não quero que eles se preocupem constantemente. Concordei.
Encontraram um asilo nos arredores da cidade, particular, com boas avaliações na internet. Mostraram-me fotos — quartos claros, jardim bem cuidado, sala de jantar bonita. Parecia decente. Assinamos o contrato, marcamos a data da mudança. Colocaram o apartamento à venda e rapidamente encontraram um jovem casal interessado.
Comecei a juntar minhas coisas, a me despedir do apartamento onde vivi por trinta anos. Foi difícil, mas me convenci de que era necessário, que os filhos sabiam o que era melhor.
No dia anterior à mudança, uma vizinha antiga do andar de cima veio me visitar. Fomos amigas por muitos anos, depois ela se mudou para outra cidade para morar com a filha. Veio visitar os velhos conhecidos e passou para me ver.
Ela viu as caixas com as minhas coisas e perguntou o que estava acontecendo. Expliquei sobre o asilo. De repente, ela olhou para mim de maneira estranha e perguntou o nome do lugar. Quando eu disse, ela empalideceu.
Acontece que uma amiga dela vive no mesmo asilo há dois anos. E o que ela contou mudou tudo. As fotos que me mostraram eram para um folheto publicitário, uma bela imagem para atrair clientes. A realidade era completamente diferente.
Quartinhos para três ou quatro pessoas, móveis velhos, sem espaço pessoal. Alimentação escassa e monótona. A equipe sobrecarregada de trabalho é frequentemente grosseira. O jardim do folheto não existe — apenas um pequeno pátio com dois bancos. Sem entretenimento, sem atividades, as pessoas passam o dia sentadas em frente à TV.
O principal é que cobram uma fortuna por isso. O dinheiro da venda do meu apartamento cobriria os primeiros dois anos de estadia. E depois? De onde viria o dinheiro para continuar? Será que meus filhos pensaram nisso?
A vizinha disse que a amiga dela se arrepende todos os dias. A filha a levou para lá há um ano, prometeu visitas frequentes. Ela aparece uma vez a cada dois ou três meses. A amiga se sente abandonada, indesejada. Diz que teria sido melhor ficar no próprio apartamento, mesmo que fosse solitário e difícil.
Liguei para o asilo e pedi para fazer uma visita pessoal antes de me mudar. Disseram para não me preocupar, que tudo estava nas fotos, que não precisava incomodá-los. Mas insisti.
Fui sem avisar na manhã seguinte. O que vi me chocou. Um prédio velho e desgastado, paredes descascadas nos corredores, cheiro de remédios e algo mofado. Pessoas sentadas nas cadeiras ao longo das paredes com olhares vazios. Ninguém sorria ou conversava.
Os quartos eram minúsculos, para quatro pessoas. As camas estavam apertadas, sem nenhum espaço pessoal. No refeitório, vi o almoço — sopa rala e um mingau de aparência estranha. Isso pelos valores que meus filhos pretendiam pagar?
Virei e fui embora. Liguei para meus filhos, disse que não iria a lugar nenhum, que ficaria no meu apartamento. Eles tentaram convencer, disseram que eu estava exagerando, que a primeira impressão era enganosamente ruim. Mas eu fui inflexível.
Foi então que descobri o mais importante — o apartamento já estava vendido, o dinheiro recebido. E eles gastaram parte do valor nas próprias necessidades, pagando dívidas e fazendo reformas. Pretendiam usar o restante para pagar o asilo e se livrar do “problema”.
Acontece que não estavam preocupados com a minha segurança. Precisavam do dinheiro do apartamento e de se livrar da obrigação de cuidar de mim.
Agora eu alugo um pequeno apartamento na periferia com o dinheiro que consegui recuperar. As crianças ficaram ressentidas, quase não ligam. Mas estou vivendo a minha vida, livre, e não me sinto como um fardo de que se livraram.
Quantas vezes nós, idosos, confiamos incondicionalmente nos filhos? Acreditamos que desejam nosso bem? E então descobrimos que por trás dessa preocupação há algo completamente diferente.
Verifiquem tudo por conta própria. Não hesitem em fazer perguntas. Não tenham medo de parecer desconfiados. Às vezes, essa desconfiança nos salva de um grande erro.
Você estaria pronto para confiar sua vida às decisões de outras pessoas, mesmo que sejam seus filhos?




