Histórias

Meu neto de repente começou a se interessar pelo meu passado — ele vinha, anotava, perguntava de novo. Eu pensei que fosse um projeto escolar. Mas no meu septuagésimo aniversário, ele me deu um presente que mudou tudo…

Meu neto tinha dezesseis anos quando começou a vir me visitar todo sábado. Sentava na cozinha, pegava um caderno e começava a fazer perguntas. Como eu e o avô nos conhecemos? Que música ouvíamos? Sobre o que sonhávamos naquela época, na juventude? O que comemos no primeiro encontro?

Eu respondia, surpresa com esse interesse repentino pela história da família. Pensei que talvez fosse um projeto escolar sobre genealogia ou algo do tipo. Os adolescentes geralmente não se interessam pelo passado, mas ele vinha regularmente, anotava tudo em detalhes.

Ele perguntava novamente sobre detalhes que me pareciam insignificantes. De que cor era o vestido de casamento? O que o avô disse ao me pedir em casamento? Onde foi a cerimônia? Quem estava na festa? Eu lembrava, e cada memória aquecia minha alma. Essas histórias eu não contava a ninguém há muito tempo com tantos detalhes. As crianças cresceram, têm suas próprias preocupações, não têm tempo para as memórias da mãe.

Mas o neto ouvia atentamente, assentia, anotava algo no caderno. Perguntava sobre os tempos difíceis também. Como superamos o desemprego do avô? Como lidamos quando quase não tínhamos dinheiro? Como eu me sentia quando ele viajava a trabalho por longos períodos? Eu contava a verdade — não embelezava, não transformava nossa vida em um conto de fadas. Era difícil, às vezes assustador, mas juntos superamos.

Esses encontros de sábado continuaram por seis meses. Eu me acostumei, esperava por suas visitas. Era bom saber que alguém se interessava pela sua vida, que um jovem arranjava tempo para a avó em vez de ficar no celular ou sair com os amigos.

Então veio meu septuagésimo aniversário. A família toda se reuniu — filhos, netos, até a bisnetinha. Cobriram a mesa, trouxeram presentes. Presentes comuns — um xale, um conjunto para chá, um livro. Agradáveis, mas nada especial.

Mas o neto estava sentado em silêncio, nervoso, eu via. Esfregava as mãos, se levantava, se sentava. Depois do bolo, ele se levantou e me entregou uma grande caixa, embrulhada em um papel bonito. Disse que era algo especial, pediu para abrir na frente de todos.

Eu desembrulhei o papel e vi um livro. Grosso, com capa dura. Na capa, uma foto minha e do avô — dia do casamento, nós jovens, felizes. Eu abri a primeira página e não entendi de imediato o que estava vendo.

Lá estava a nossa história. Tudo o que contei ao meu neto nesses seis meses, ele transformou em um livro. Capítulo por capítulo — o encontro, o namoro, o pedido de casamento, o casamento, o nascimento dos filhos, os anos difíceis, as alegrias, as perdas. Ele escreveu nossa vida como um verdadeiro livro, formatou lindamente, inseriu nossas fotos antigas que encontrou em álbuns de família, escaneou e melhorou.

Eu folheava as páginas e as lágrimas corriam pelo meu rosto. Lá estavam detalhes que eu já havia esquecido. Lá estavam as palavras do avô que eu proferia em voz alta, ao recordar. Lá estava toda a nossa vida — não polida, não perfeita, mas autêntica. Nosso amor em papel, nossa história, que poderia desaparecer junto comigo.

O neto disse baixinho que fez várias cópias. Uma para mim, uma para a mãe, outra para a tia, e uma para ele mesmo. Disse que não queria que essa história desaparecesse. Que o avô já não estava mais aqui, e um dia eu também não estaria, mas nossa história permaneceria. Que os filhos dele, meus bisnetos, poderiam ler sobre a bisavó e o bisavô, saber quem éramos, como vivíamos, como amávamos.

Eu o abraçava e não conseguia parar. A família inteira chorava. Porque ele fez algo que nem cogitávamos. Ele preservou a memória. Não para si — para todos nós, para as gerações futuras.

Agora este livro está em um lugar de honra no meu quarto. Às vezes eu o abro e leio sobre minha própria vida, escrita pelas mãos do meu neto. E toda vez eu penso — como muitas vezes perdemos as histórias de nossos pais, avós, bisavós simplesmente porque não temos tempo ou não pensamos em anotá-las.

Meu neto me deu não apenas um livro. Ele deu imortalidade a nossas memórias. Mostrou que nossa vida comum é digna de ser lembrada.

E você conhece as histórias dos seus avós? Ou elas desaparecerão junto com eles?

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