No meu quinquagésimo aniversário, acidentalmente ouvi uma conversa entre meu marido e o irmão dele. Em todos os meus cinquenta anos, nunca ouvi nada igual sobre mim, e essas palavras mudaram toda a minha vida…

Ontem completei cinquenta anos. Meu marido organizou uma pequena celebração em casa — família, amigos próximos, nada grandioso. Eu não queria uma festa barulhenta, mas ele insistiu, disse que uma data assim não poderia passar despercebida.
Estamos juntos há vinte e cinco anos. Um casamento comum, uma família comum. Três filhos, o mais velho já tem vinte e três, a mais nova dezesseis. A hipoteca foi paga há cinco anos, ambos trabalhamos, vivemos tranquilamente, sem grandes abalos.
O romance já não existe há muito tempo. Para ser sincera, não me lembro da última vez que meu marido me fez um elogio ou me deu flores sem motivo. Nos tornamos como vizinhos de apartamento — educados, acostumados um com o outro, mas sem aquela faísca que havia no início.
Às vezes me pego pensando que estamos apenas vivendo a vida juntos. Filhos, trabalho, cotidiano — é só isso que nos une. O amor parece ter evaporado ao longo desses anos, restou apenas o hábito.
Na noite passada, quando os convidados já tinham ido embora, eu estava lavando a louça na cozinha. Meu marido e seu irmão foram ao balcão fumar. O balcão fica bem acima da cozinha, a janela estava entreaberta. Eu não estava ouvindo de propósito — simplesmente estava lavando os pratos e ouvi suas vozes lá em cima.
O irmão perguntou ao meu marido como ele aguentava tanto tempo no casamento. Disse que ele mesmo havia se divorciado após dez anos porque estava cansado da rotina, de ver o mesmo rosto todas as manhãs.
Fiquei imóvel com o prato nas mãos. Esperei pela resposta do meu marido. Talvez, no fundo, eu estivesse preparada para ouvir algo semelhante — que ele também estava cansado, que também pensou no divórcio, mas ficou por causa dos filhos ou por hábito.
Mas ele disse algo completamente diferente.
Disse que agradece ao destino todos os dias por eu tê-lo escolhido. Que esteve ao meu lado por vinte e cinco anos e ainda está apaixonado, como no primeiro dia.
O irmão riu, disse que ele não precisava exagerar, que isso não acontece de verdade.
Meu marido respondeu seriamente. Disse que não estava exagerando. Que sou a pessoa mais forte que ele conhece. Que criei três filhos, trabalhei igual a ele, o apoiei quando ele teve uma crise no trabalho e quase desistiu. Que, além disso, permaneci tão linda e gentil como era aos vinte e cinco anos.
Eu estava na cozinha e as lágrimas corriam pelo meu rosto. O prato escorregou das minhas mãos e se quebrou. Mas eu nem me mexi.
Meu marido continuou a falar. Disse que não consegue imaginar a vida sem mim. Que ele tem medo de apenas uma coisa — que eu perceba um dia que mereço alguém melhor. Que ele é um homem simples, que não dá flores, esquece as datas de aniversário, trabalha até tarde e chega em casa cansado.
Que todas as vezes que me olha pensa — como ele tem sorte de eu ainda estar ao lado dele.
O irmão respondeu algo, mas eu já não ouvia mais. Sentei-me no chão da cozinha, entre os cacos, e chorei.
Por vinte e cinco anos, pensei que apenas existíamos lado a lado. Que o amor se foi, restou apenas o hábito e a responsabilidade. Que ele ficou comigo porque era o certo a fazer, porque o divórcio — é complicado, caro, vergonhoso aos olhos dos outros.
Eu me acomodei com isso. Aceitei como dado. Decidi que essa era a vida — primeiro paixão, depois rotina, depois apenas coexistência até o fim dos dias.
Mas ele me amou esse tempo todo. Amou de verdade. E eu não sabia.
Raramente falamos sobre sentimentos. Ele não é do tipo de homem que fala palavras bonitas. Em vinte e cinco anos ele, talvez, tenha dito que me ama dez vezes. Eu me acostumei ao silêncio dele, ao fato de que ele guarda suas emoções internamente.
Mas acontece que, por dentro, havia isso. Todo esse amor, gratidão, medo de me perder.
Quando meu marido voltou do balcão, eu ainda estava sentada no chão. Ele ficou assustado, achou que eu estava passando mal. Ajudou-me a levantar, me abraçou, perguntou o que havia acontecido.
Eu não conseguia falar. Apenas o abracei e não soltei por uns cinco minutos. Ele ficou confuso, me acariciou nas costas, sem entender o que estava acontecendo.
Depois confessei que tinha ouvido a conversa deles. Tudo o que ele disse ao irmão.
Ele ficou vermelho, se afastou, constrangido. Disse que não queria que eu ouvisse isso. Que era embaraçoso.
Mas eu, pela primeira vez em muitos anos, olhei para ele de forma diferente. Vi não o marido cansado que chega do trabalho e se senta silenciosamente em frente à televisão. Vi a pessoa que me ama todo esse tempo e tem medo de mostrar isso porque não sabe expressar seus sentimentos em palavras.
Conversamos até de manhã. Pela primeira vez em anos tivemos uma conversa de verdade — não sobre contas, não sobre filhos, não sobre reformas. Sobre nós. Sobre o que sentimos, pensamos, do que temos medo.
Aconteceu que ele pensava a mesma coisa — que eu estava com ele apenas por hábito, que o amor já se foi há muito tempo. Que eu estava cansada dele, do seu silêncio, do fato de que ele não é romântico.
Ambos vivíamos na mesma casa, dormíamos na mesma cama e pensávamos que o outro já não amava. Mas amávamos. Só que nos calávamos sobre isso.
Hoje de manhã ele me trouxe café na cama. Pela primeira vez em dez anos. E disse que me ama. Simplesmente disse, sem um motivo.
Eu entendo que perdi muito nesses anos. Que poderia estar mais próxima, ser mais atenta, mais carinhosa. Que poderíamos falar sobre sentimentos, em vez de escondê-los por dentro.
Mas o principal — percebi que não é tarde. Temos cinquenta anos, mas ainda estamos vivos, ainda estamos juntos, ainda nos amamos.
Apenas esquecemos disso na rotina.
Seja honesto: com que frequência você fala aos seus entes queridos sobre seus sentimentos? Ou também se cala, pensando que eles já sabem tudo?




