Histórias

Com mãos trêmulas, ela contava as moedas no caixa, atrasando a fila. Todos ficaram irritados, sem saber que a pobre senhora estava comprando comida que nem era para ela mesma…

Naquele dia, eu apenas fui ao supermercado para comprar pão e leite. Uma noite comum, uma fila longa, pessoas cansadas, cada uma olhando para o telefone e mudando de um pé para o outro nervosamente. Na minha frente estava uma senhorinha pequena e magra, com um casaco surrado e um gorro de tricô antigo. Na sua pequena cesta quase não havia nada: a ração de gato mais barata, um pão e um saquinho de grãos.

Quando chegou a vez dela, começou a colocar as compras na esteira e lentamente, com mãos trêmulas, tirou as moedas do bolso. As moedinhas soaram baixinho sobre a superfície, ela as contava várias vezes, se confundia, e começava a contar de novo. A fila começou a se mover impaciente. Alguém suspirou pesado, outro olhou para o relógio de forma exagerada.

Atrás, ouviu-se uma resmungo insatisfeito:
– Quanto tempo levará para eles contarem tudo isso…

De algum lugar ao lado, alguém sussurrou:
– Compram sem ter dinheiro. Depois esperam que alguém pague por eles.

Eu olhava para as mãos dela. Elas tremiam tanto que as moedas escapavam dos dedos. Ela murmurava números para si mesma, mas claramente se confundia. A caixa já estava começando a se irritar, estendeu a mão para a ração:
– Talvez tirar isso, falta dinheiro…

A senhora levantou os olhos para ela e disse bem baixinho:
– Então os gatinhos ficarão sem…

Essa frase ficou como que suspensa no ar, mas a maioria continuou a bufar e revirar os olhos. Alguém atrás resmungou:
– Que gatinhos, que conversa é essa…

A senhora, envergonhada, tentou devolver o pacote de ração. Nesse momento me senti tão envergonhada por toda fila, por aqueles suspiros, frases sussurradas, por tanta indiferença. Rapidamente peguei a carteira e entreguei uma nota para a caixa.

– Acrescente ao total, por favor. Pode registrar tudo.

A senhora se virou para mim como se eu tivesse oferecido algo incrível.
– Não precisa, então deixo o pão, de alguma forma eu me viro…

– Deixe tudo, – interrompi. – Está tudo bem.

As compras foram registradas, as moedas recolhidas. A senhorinha abraçava o pequeno pacote com a ração, o pão e os grãos, sempre olhando para a fila como se pedisse desculpas por ter tomado alguns minutos a mais. Na saída, ela parou e disse baixinho:

– Desculpe por ter demorado, as pessoas estão com pressa e eu já não conto bem. Obrigada, querida. Eu mesma quase não como, minha saúde não está boa, e eles ficam lá fora, com fome. Quem além de mim irá alimentá-los…

Na verdade, naquele momento eu não compreendi totalmente suas palavras. Apenas acenei, nós saímos quase ao mesmo tempo, e depois nossos caminhos se separaram. Dei alguns passos e senti um incômodo, como se estivesse perdendo algo. Olhei para trás e vi que a senhora não estava indo em direção às casas, mas sim para um terreno vazio ao lado da estrada.

Fui mais devagar e a segui, tentando não chamar atenção. Ela virou a esquina, em direção a uma fileira de garagens antigas. Lá normalmente é vazio, só lixo e vento. Mas assim que ela chegou, um por um, gatos começaram a aparecer das sombras. Primeiro um, depois outro e mais outro. Magros, cautelosos, com costelas aparentes, focinhos arranhados e olhos enormes.

A senhorinha colocou o pacote no chão, pegou o pão, cortou em pedaços pequenos, despejou a ração, misturou com o pão e começou a distribuir em pequenos montes. Os gatos imediatamente se lançaram sobre a comida, se empurrando, miando, temendo que não fosse suficiente. Ela os repreendia o tempo todo:

– Não se empurrem, tem para todos. Aguentem um pouco, já vou dar. Ei, ei, não empurrar os outros, eles também estão com fome.

Um especialmente cauteloso ficou sentado de lado apenas observando. Ela o viu, suspirou, quebrou um pedaço maior e colocou à parte.

– Venha, não tenha medo. Eu venho todos os dias. Não vou te abandonar.

Ela se agachou, e os gatos se esfregavam em suas pernas, deixando marcas de patas no casaco. Ela os acariciava nas costas, nos pelos molhados de neve e sujeira, repetindo suavemente:

– Comam, comam, meus queridos. Eu virei novamente, não se preocupem. Enquanto eu puder caminhar, vou trazer comida.

Eu estava um pouco afastada, com um nó na garganta. Na loja, ela contava cada centavo, escolhia a ração mais barata, e lá, distribuía comida com tanto cuidado como se fossem não animais de rua, mas sim as criaturas mais queridas. E naquele momento senti tanta vergonha por todos os olhares irritantes e comentários na fila.

Aproximei-me. A senhorinha me viu e ficou sem jeito.
– Você me seguiu? Eu fui rápida, só alimentei eles e volto para casa. É ali perto.

– Você sempre compra ração lá? – perguntei.

Ela acenou afirmativamente.
– Sim. Eles esperam por mim. Se não vou um dia, depois ficam correndo, olhando para cada pessoa que passa, como se estivessem procurando. E eu só de pensar que ninguém mais tem para dar a eles, já perco a fome.

– E você tem o suficiente para você mesma? – perguntei cautelosamente. – Você quase não compra nada.

Ela sorriu cansada.
– Eu não preciso de muito. Uma xícara de chá, um pouco de mingau, um pedaço de pão. Já vivi o meu. E eles ainda têm tanto para viver, se alguém cuidar deles. Pelo menos assim eu ainda sou útil de alguma forma.

Quando voltei para casa, a mesma imagem não saía da minha cabeça: mãos trêmulas no balcão, pessoas irritadas ao redor, e aquela mesma mulher sentada no chão frio entre animais famintos, que eram como família para ela. No supermercado, vimos apenas a ‘pessoa atrasando a fila’, mas na rua, resultava que essa pessoa todos os dias salvava aqueles que ninguém nota.

Desde então, se na fila alguém demora a contar moedas, já não tenho pressa em revirar os olhos. Porque nunca se sabe para quem estão comprando o pacote de ração mais barato ou o último pedaço de pão. E você, o que acha: ficamos mais irritados com essas pessoas ou tentamos pelo menos por um segundo pensar porque suas mãos tremem no caixa?

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