A chefe saía do escritório em cada almoço exatamente por duas horas, desculpando-se com reuniões com clientes. Até que o marido dela apareceu no escritório e…

Eu trabalhava no escritório como gerente de vendas comum. Minha chefe de departamento era casada, dois filhos, externamente — uma família perfeita. Bonita, bem-sucedida, sempre arrumada.
Todo dia exatamente à uma hora ela se levantava da mesa: “Vou para uma reunião com cliente. Volto em duas horas”. Pegava a bolsa, retocava o batom e saía.
No início ninguém prestava atenção. Reuniões com clientes — coisa normal. Mas era todo dia. Exatamente à uma hora. E sempre exatamente duas horas.
Uma vez escutei por acaso uma conversa do diretor geral com o marido dela por telefone.
“Boa tarde, posso falar com minha esposa?” — a voz do marido era calma.
“Infelizmente, ela está em uma reunião importante com um grande cliente. Ligue daqui a uma hora”, — respondeu o diretor geral.
Fiquei surpresa. Que reunião? Ela saiu meia hora atrás e eu sabia com certeza — não havia nenhuma reunião no calendário dela.
Uma semana depois a situação se repetiu. O marido ligava — o diretor geral mentia que ela estava em reunião.
Comecei a notar detalhes. Ela sempre voltava feliz, corada. Cabelo um pouco bagunçado, maquiagem retocada. E aquele olhar — como de uma garota apaixonada.
Uma colega sussurrou para mim uma vez: “Ela vai encontrar o amante. Todo mundo sabe”. Descobri que toda a empresa estava sabendo. Só o marido não sabia.
E o diretor geral a cobria. Porque eles mesmos tiveram um caso uma vez, ainda antes do casamento dela. Ficaram amigos e ele a ajudava a esconder a infidelidade.
Eu sentia nojo disso tudo. Imaginava o marido dela — ele liga, se preocupa, e mentem para ele. Mas eu calava. Não é da minha conta.
Três meses isso continuou. Todo dia à uma hora — “reunião com cliente”. Cada ligação do marido — “ela está ocupada”.
E então um dia, numa quinta-feira normal, por volta das duas da tarde, um homem invadiu o escritório. Alto, atlético, uns quarenta anos. Rosto tenso.
Ele foi direto para o escritório do diretor geral. A secretária tentou parar: “O senhor tem reunião marcada?”
“Sou o marido da chefe do departamento de vocês”, — disse ele firmemente. “Preciso da minha esposa. Urgente”.
Todo o escritório congelou. Todos ficaram quietos, fingindo trabalhar, mas escutando cada palavra.
O diretor geral saiu do escritório. Calmo, confiante.
“Boa tarde. Sua esposa infelizmente está em uma reunião importante com cliente. Deve voltar em uma hora”, — disse com um sorriso profissional.
O marido olhou para ele com um olhar longo. Depois tirou o telefone.
“Interessante”, — disse baixo, mas todos ouviram. “Muito interessante”.
Virou a tela do telefone para o diretor geral.
“Está vendo este ponto? É a geolocalização do telefone da minha esposa. Instalei um rastreador há um mês quando comecei a desconfiar”.
Todos esticamos os pescoços, tentando ver a tela.
“Este ponto está em um hotel. No centro da cidade. Suíte de luxo no terceiro andar”, — a voz do marido ficou mais alta. “Interessante ‘reunião com cliente’, não é?”
O diretor geral empalideceu. Abriu a boca, mas não disse nada.
“Três meses”, — continuou o marido. “Três meses todo dia na mesma hora. O mesmo hotel. O mesmo quarto. E vocês toda vez mentiam para mim que ela estava em reunião”.
Ele olhou ao redor do escritório. Todos olhavam para ele. O silêncio era mortal.
“Todos sabiam, não é?” — perguntou. Ninguém respondeu.
Ele sorriu amargamente e se dirigiu à saída.
“Digam para minha esposa, quando ela voltar da ‘reunião’, que vou buscar as crianças na escola. E que não vá para casa. As coisas vou deixar na casa dos meus pais”.
Ele saiu. A porta fechou silenciosamente.
O diretor geral ficou pálido. Depois voltou silenciosamente para o escritório.
Todo o escritório explodiu em sussurros. Todos discutiam, sussurravam, trocavam olhares.
Uma hora depois a chefe voltou. Feliz, radiante. Entrou no escritório com um sorriso.
Viu nossos rostos — todos olhavam para ela. O sorriso apagou.
“O que aconteceu?” — perguntou.
A secretária apontou silenciosamente para a recepção.
Lá, no sofá, estava sentado o marido dela. Com duas malas. E uma pasta de documentos.
Ela parou como se tivesse levado um choque. O rosto de rosado ficou branco.
Ele se levantou. Aproximou-se. Estendeu a pasta.
“Documentos de divórcio”, — disse calmamente. “Motivo — infidelidade. Tenho todas as provas. Geolocalização de três meses. Vídeo do hotel — contratei um detetive. Tudo”.
Ela abriu a boca, mas ele levantou a mão.
“Não precisa. Não quero ouvir desculpas. As crianças estão com meus pais. Suas coisas também. O apartamento fica comigo — foi com meu dinheiro. Pensão alimentícia para as crianças você vai pagar”.
Ele se virou e foi para a saída. Parou na porta.
“E para o senhor, — olhou para o diretor geral, — um agradecimento especial por encobrir a infidelidade. Três meses mentindo para mim ao telefone. Você é cúmplice. Espero que não tenha vergonha”.
Ele saiu.
A chefe ficou com os documentos nas mãos. Depois se sentou lentamente numa cadeira. Chorou.
O diretor geral saiu do escritório. Olhou para ela friamente.
“Arrume suas coisas. Você está demitida. Por engano sistemático da direção e uso do tempo de trabalho para fins pessoais”.
“Mas…” — começou.
“Imediatamente”, — cortou ele.
Ela juntou suas coisas sob os olhares de todo o escritório. Ninguém se despediu. Ninguém disse uma palavra.
Uma semana depois soubemos: o divórcio foi rápido, o marido ficou com as crianças e o apartamento. Ela ficou sozinha. O amante, ao saber do divórcio e da demissão, desapareceu — descobriu-se que ele era casado e só estava se divertindo.
Ela perdeu tudo. Família, trabalho, reputação. Por encontros de duas horas em um hotel.
Às vezes penso: fui culpada por ficar calada? Talvez devesse ter avisado o marido dela antes? Ou não é da minha conta me meter na vida pessoal alheia?
Mas depois lembro do rosto dele. Como ele ficou com o telefone mostrando a geolocalização. Como todos mentiram para ele durante três meses.
E a pergunta não me deixa em paz: é certo ficar calado quando você vê como enganam uma pessoa? Ou problemas familiares alheios — não são da sua conta, mesmo se você sabe a verdade? E quem é mais culpado — aquela que foi infiel, ou aqueles que ajudaram a esconder a infidelidade?




