Minha filha não me convida para visitá-la há três anos, sempre encontrando alguma desculpa. E ontem descobri o motivo, e o que ela fala de mim pelas minhas costas me fez chorar…

Desde o dia em que minha filha se casou, ainda não fui à casa dela. Nem na inauguração, nem no Natal, nem no aniversário da minha neta. Inicialmente, eu pensava: bem, são jovens, querem ficar sozinhos, depois se acostumar com o bebê, se estabelecer. Eu não me intrometi, não liguei todos os dias, com medo de parecer insistente. Fui criada de forma que não devemos nos meter em outra família com nossos conselhos, mesmo que seja a família da própria filha.
Nos víamos na minha casa. Ela passava uma hora para nos encontrarmos.
Ela ligava por conta própria, perguntava como eu estava, como estava a neta. Ela respondia de forma breve, apressada, como se falasse comigo entre uma tarefa e outra. E depois as ligações se tornaram menos frequentes. Eu sempre atribuía isso à correria. À vida. A qualquer coisa, menos àquilo que agora se mostrou ser a verdade.
Ontem, eu por acaso encontrei a vizinha dela. Uma mulher que vi duas vezes quando ainda visitava minha filha. Ela ficou contente em me ver, disse:
– Não vejo você há tempos. Sua filha diz que agora você mora longe, e raramente vem.
Fiquei confusa. Longe? Moro a apenas quarenta minutos de distância.
– Ela disse que você se mudou para o campo, e tem vergonha de vir visitá-la, – acrescentou a vizinha. – Diz que você vive de forma muito… bem… modesta.
Essas palavras me cortaram como uma faca. Eu nem percebi imediatamente o que me doeu mais: o fato de ela falar assim de mim, ou por ela ter vergonha. De mim. Da própria mãe.
Voltei para casa e por alguns minutos apenas fiquei sentada olhando para a parede. Nunca me considerei uma má mãe. Não perfeita – claro. Mas eu a criei sozinha. O pai dela nos deixou quando ela tinha seis anos. Eu fiz tudo por ela: trabalhava como vendedora, fazia trabalhos extras, costurava para as pessoas por trocados à noite para comprar uniforme, cadernos, um presente de aniversário. Lembro como ela chorava com as tarefas e eu sentava ao lado dela, acariciando sua cabeça. Lembro como ela sonhava com um vestido bonito para a formatura, e eu consegui o dinheiro, nem sei como. Lembro do orgulho ao mandá-la para a faculdade.
Eu pensava que ela também se lembrar.
Não vivo com luxos. Tenho um pequeno apartamento de dois quartos, um sofá velho, utensílios de cozinha da minha juventude. Mas nunca me queixei. Estou acostumada com o que tenho. E achava que éramos próximas o suficiente para que essas coisas não importassem para ela.
Mas pelo visto, importam.
À noite, me decidi a ligar para ela. A voz tremia, eu tentava me manter calma.
– Filha, por que você fala para as pessoas que eu moro longe?
Ela ficou em silêncio. Longo. E depois disse:
– Mãe, bem… é apenas mais fácil para mim. Entende? Nossos círculos sociais são diferentes, e… bem…
– Você tem vergonha de mim? – perguntei.
O silêncio do outro lado.
– Mãe, por que você está assim? Às vezes… é só inconveniente… Quando você vem com esse seu casaco… E quando você conta onde trabalha… As pessoas não entenderão. Não quero que façam piada de mim.
Eu fiquei sentada ouvindo, como se não fosse minha filha falando, mas uma estranha.
Inconveniente. Tem vergonha do meu casaco velho. Do meu trabalho. De mim.
Parecia que meu coração estava vazio. Tentei dizer algo, mas as palavras não saíam. Ela acrescentou:
– Mãe, entenda, agora tenho outra vida. Não fique chateada…
Mas eu já não ouvi mais nada.
Outra vida. Sem mim.
Desliguei o telefone e fiquei sentada no escuro até o amanhecer. Durante toda a noite, não consegui chorar. Não havia mais lágrimas. Apenas um sentimento pesado: que tudo que dei a ela na infância não vale nada comparado ao que pessoas de fora possam pensar.
E agora estou pensando: o que devo fazer a seguir? Aceitar que minha filha tem vergonha de mim e me afastar? Ou tentar conversar com ela novamente, explicar que uma mãe não se troca como móveis para se ajustar ao estilo de vida?
O que você faria no meu lugar?




