Uma carteira perdida acabou sendo um detalhe insignificante comparado a quem a devolveu para mim…

Eu perdi a carteira. Uma daquelas situações típicas, mas na hora me pareceu o fim do mundo.
Notei já em casa. Procurei na bolsa — nada. Nos bolsos — nada. No carro — também nada. Revirei tudo, até olhei por baixo dos tapetes. Percebi que provavelmente a deixei em algum lugar do shopping. Na carteira estavam o dinheiro, os cartões e os documentos. Sentei numa cadeira e quase comecei a chorar de raiva de mim mesma.
Liguei para o banco, bloqueei os cartões e fiz as declarações necessárias. Passei dois dias andando na ponta dos pés: ora estava zangada, ora preocupada, ora me censurando por ser tão desatenta.
Depois de alguns dias, o interfone tocou. Uma voz masculina:
– Você mora aqui? Acho que encontrei sua carteira. Posso subir?
Meu coração quase saiu pela boca. Desci as escadas, abri a porta – estava ali um senhor de cerca de setenta anos, bem vestido, de sobretudo escuro. Na mão, segurava minha carteira.
– Estava num banco na entrada do shopping – disse ele. – Parece que alguém a deixou lá.
Quase o abracei ali mesmo. Agradeci e convidei para um chá.
Ele recusou, já estava indo embora, mas de repente me olhou atentamente e perguntou:
– Qual é o seu nome?
Eu disse meu nome.
Ele sorriu de forma estranha e triste e disse:
– Eu já imaginava. Seus olhos são iguais aos de uma mulher que amei muito tempo atrás.
Senti um aperto no coração. Era o nome da minha mãe.
– Você… conheceu minha mãe? – perguntei.
Ele ficou um pouco confuso:
– Acho que não deveria ter dito nada. Mas você é muito parecida com ela. Desculpe-me.
Ele já tinha dado um passo em direção à escada, mas eu o interrompi:
– Lembro-me de você por uma fotografia. No armário da minha mãe havia uma foto antiga de vocês juntos. Ela sempre dizia: «É uma pessoa do passado». Mas nunca explicou quem você era.
Ele ficou parado. Suspirou.
– Fui noivo dela – disse ele em voz baixa. – Faz muito tempo.
Acabamos indo para a cozinha. Eu servi o chá, mas ele quase não tocou.
Sentou-se, olhou pela janela e começou a contar.
Disse que um dia planejaram se casar. Era algo sério, planos, casamento, vida juntos. Mas a família dele era contra. O pai pressionou, ele mesmo não conseguiu enfrentar, foi morar no exterior. Deixou minha mãe sozinha. Quando voltou, algum tempo depois, ela já estava com outra pessoa, e não quis retomar a conversa com ele.
Depois soube que ela estava grávida. Mas ninguém o informou claramente se era ou não seu filho. E ele também não buscou esclarecimentos.
– Um dia fui até a casa dela – contou ele. – Vi você de longe. Pequena, com ela, parecendo com ela. E… fugi. Faltou coragem.
Depois, ele ainda acrescentou que às vezes me via acidentalmente na cidade. Uma vez – no cemitério, quando eu estava no túmulo da minha mãe. Disse que poderia parecer estranho, mas ele não me perseguia, apenas não conseguia se desvincular completamente do passado.
Eu estava sentada escutando, sem saber no que acreditar ou o que sentir.
– Então você acha que pode ser meu pai? – perguntei.
Ele assentiu:
– Não vim exigir nada. Não quero bagunçar sua vida. Apenas… queria saber se está tudo bem com você.
Antes de sair, ele deixou um número de telefone. E um envelope. No envelope havia uma foto antiga: minha mãe e ele, jovens, se abraçando, sorrindo. No verso, a inscrição: «Para sempre. 1971».
Depois de um tempo, acabei criando coragem e fiz um teste de DNA. O resultado mostrou que ele realmente é meu pai.
Somente eu e meu marido sabemos disso. A pessoa que eu sempre chamei de pai faleceu há alguns anos. Minha mãe também. Ninguém pode mais explicar ou confirmar.
Mas agora pelo menos o quebra-cabeça se encaixou.
E me peguei pensando: por mais que as pessoas tentem esconder o passado, ele sempre encontra uma maneira de nos lembrar dele. Às vezes — através de uma velha fotografia numa gaveta. Às vezes — através de um estranho com sua carteira perdida e um olhar muito familiar.
O que você faria no meu lugar: tentaria descobrir toda a verdade ou deixaria o passado no passado?




