Histórias

Um dia, meu filho trouxe para casa sua nova namorada. E desde o primeiro dia, ela deixou claro que agora ela é a dona da casa

Tenho 62 anos e moro em uma casa particular nos arredores da cidade. Nós a construímos juntos, meu marido e eu, tijolo por tijolo, pensando no futuro. Esta casa deveria ser uma ilha de tranquilidade — para nós, para os filhos e, quem sabe, para os netos também.

Após a morte do meu marido, fiquei sozinha. Meu filho ainda morou comigo por um tempo, mas depois se mudou — alugou um apartamento, arranjou um emprego e firmou-se. Ele vinha nos fins de semana: às vezes para almoçar, às vezes só para ver se estava tudo bem comigo. Eu me alegrava a cada visita e me orgulhava da pessoa que ele tinha se tornado.

Um dia ele me ligou e disse que queria me apresentar alguém.
— Eu tenho uma namorada. Gostaria muito que você gostasse dela, — disse ele com esperança na voz.

Ela chegou no sábado. Elegante, confiante, com maquiagem impecável e um casaco caro. Sorriu educadamente, mas sem muito calor. Olhava pela casa como se estivesse avaliando não a atmosfera, mas a disposição do espaço. Já em poucos minutos perguntou:
— Você já pensou em trocar as cortinas? Essas parecem… pesadas.

— Eu gosto delas, — respondi. — Eu as costurei com minha mãe.
— Entendo, — ela murmurou brevemente, como se o assunto estivesse encerrado para ela.

Com o tempo, meu filho vinha cada vez menos sozinho — agora eles estavam sempre juntos. Com mais frequência ele dizia que o apartamento alugado os esgotava, que talvez valesse a pena «temporariamente» se mudarem para minha casa, até encontrarem um lugar próprio. Não gostei muito da ideia, mas não consegui negar ao meu próprio filho.

Eles se mudaram no outono. Disseram logo que seria «apenas por alguns meses». Combinamos que viveriam no andar de cima, nos quartos onde antes moravam as crianças.

No começo, tudo foi relativamente tranquilo. A garota tentava ser educada. Começou a «ajudar» na cozinha: reorganizando os potes de especiarias, jogando fora minhas ervas, dizendo que estavam «vencidas».

Um dia, encontrei-a na despensa: estava organizando meus estoques e fazendo uma lista do que, em sua opinião, deveria ser jogado fora.
— Eu prefiro decidir sozinha o que guardar na minha casa, — eu disse.
— Mas é para o seu próprio bem, — ela respondeu calmamente. — A casa é sua, mas nós também moramos aqui. Precisamos cuidar do espaço comum.

A partir desse momento, começou uma guerra silenciosa. Não houve brigas abertas, mas todo dia eu sentia como se estivesse sendo expulsa da minha própria casa. Ela mudava a disposição dos utensílios e alimentos, ocupava prateleiras no banheiro, aos poucos começava a decidir o que e como comíamos.

— Sem glúten, sem laticínios, mais vegetais. Isso será melhor para você também, — dizia ela com o tom de quem já decidiu tudo por você.

Ninguém me perguntava nada. As regras eram impostas. Cada vez mais, eu me pegava sentindo que era hóspede, não a dona do lugar onde passei metade da minha vida.

As noites eram particularmente difíceis. Eu sentava sozinha na sala de estar, enquanto lá em cima se ouvia risos, música e conversas abafadas. Às vezes, parecia que já não era mais minha casa, mas a deles.

Um dia, voltando da loja, ouvi a garota falando ao telefone:
— Acho que vamos ficar por aqui. Ele diz que a mãe não consegue lidar sozinha. A casa é grande, seria tolice não aproveitar.

Eu permaneci em silêncio. Mas naquela noite não consegui fechar os olhos. Fiquei deitada pensando em como, sem perceber, deixei que me tirassem a paz na minha própria casa.

Na manhã seguinte, chamei meu filho para conversar.
— Precisamos estabelecer limites. Esta ainda é a minha casa. Se vocês querem morar aqui, terão que respeitar isso, — eu disse.

Ele ficou surpreso, começou a se justificar, dizendo que era difícil para eles, que assim era mais conveniente, mas dessa vez eu não recuei.
— Ou esta é a casa onde eu mantenho minha autoridade, ou vocês terão que procurar seu próprio lugar.

Algumas semanas depois, eles se mudaram. A despedida foi fria, formal. A garota nem se despediu.

Quando a porta se fechou atrás deles, entrei na cozinha e, pela primeira vez em muito tempo, inspirei tranquilamente. Tudo estava em seu lugar novamente. E sim, sou mais velha, tenho meus hábitos e meu jeito de viver. Mas sei muito bem: a idade não tira o direito ao respeito e ao seu próprio espaço.

E vocês, o que acham: em tal situação, vale a pena fazer concessões pelos filhos e suportar as «novas ordens» em sua própria casa, ou é importante defender firmemente seus limites, mesmo correndo o risco de prejudicar o relacionamento?

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