Cheguei à casa da minha filha sem avisar… e vi algo que ainda não me deixa dormir em paz

Fui até a casa da minha filha sem avisar porque algo no meu coração estava inquieto. Nós costumávamos trocar muitas mensagens, mas nas últimas duas semanas, só recebi respostas curtas: «tudo bem», «depois falamos», «estou ocupada». Sem emojis, sem suas piadas habituais. Tentei me acalmar pensando que ela é adulta, tem suas próprias ocupações, mas em certo momento, apenas peguei minha bolsa e fui. Eu tinha uma chave que ela mesma tinha me dado um dia, dizendo: «Mãe, você é minha mamãe, venha quando quiser». Minha filha está casada há pouco mais de dois anos. Ainda não têm filhos. Às vezes, eu me preocupava, mas ela sempre dizia: «Depois, temos tempo para tudo». Eu acreditava que tudo estava mais ou menos bem entre eles, com discussões ocasionais, como acontece em todos os casamentos.
Cheguei à porta e inseri a chave na fechadura. Apenas comecei a abrir, quando ouvi uma voz abafada dela, que não parecia ser a sua:
– Por favor… não faça isso…
Eu paralisei. A porta foi puxada bruscamente por dentro, e seu marido apareceu no limiar. Calmo, como se nada tivesse acontecido. Camisa abotoada, cabelo arrumado, um sorriso forçado “amistoso” no rosto:
– Oh, que surpresa… Mãe, veio sem avisar?
Educado, mas com um tom de aço em sua voz. Eu olhei além de seus ombros. Minha filha estava no corredor, afastada. Pálida como giz. Olhos vermelhos, como se tivesse chorado. Uma mancha vermelha no pescoço que ela cobriu nervosamente com a gola.
– Senti saudades, então resolvi visitar, – tentei sorrir. – Cheguei em má hora?
– Não, está tudo bem, – respondeu ele rapidamente. – Só não esperávamos.
Minha filha permaneceu em silêncio. Geralmente, ela corria para me abraçar, conversava, mostrava algo, me levava para a cozinha. Mas desta vez ela estava ali, de cabeça baixa, apertando a manga do suéter até as juntas dos dedos ficarem brancas.
Fomos para a cozinha. Meu genro se mexia em torno do fogão, preparava o chá, pegava xícaras, biscoitos. Fazia tudo certinho, mas essa correção só tornava a situação pior. Ele não se sentou, ficou em pé ao lado, como um fiscal, não como o dono da casa. Minha filha sentou-se à minha frente e tentou sorrir. O sorriso saiu forçado.
– Como estão as coisas lá? E a horta? – ela perguntou.
– Tudo bem… – eu a observava e percebia que «tudo bem» agora não se aplicava a nós.
Cada vez que eu fazia uma pergunta, ela dava uma rápida olhada para o marido, como se estivesse checando se podia responder ou não. Ele fazia seus próprios comentários, corrigia-a, interrompia. Eu sentia calafrios.
Quando ele saiu para a sala para «fazer uma ligação de trabalho», eu silenciosamente cobri sua mão com a minha:
– Filha, o que está acontecendo?
Ela estremeceu, como se levasse um choque. Levantou os olhos para mim, e havia tanto cansaço e medo neles que meu coração se apertou.
– Mãe, está tudo bem… – ela sussurrou automaticamente, mas no mesmo instante seus lábios tremiam. – Só, por favor, não pergunte na frente dele.
Eu vi como ela vivia. Não havia nada no apartamento que lembrasse dela: nenhum desenho, fotos com amigas, objetos que ela gostava. Tudo em ordem, como em um apartamento alugado por estranhos. Nenhuma coisa de criança, nem mesmo um indício de que pensavam em ter filhos. Um dia, eu cuidadosamente perguntei:
– Vocês não têm planos de ter filhos?
Ela se afastou para a janela:
– Agora não… não é o momento.
O marido voltou da sala. Colocou as mãos nos ombros dela. Forte. Forte demais, me pareceu. Ela se moveu ligeiramente, mas não disse nada. Ele me sorriu:
– Está tudo bem conosco, não está?
E olhou para ela de uma forma que fez meu estômago revirar. Ela assentiu, como uma escolada diante do professor.
Quando me preparei para ir, ela se ofereceu para me acompanhar até a entrada do prédio. Descemos as escadas, e na porta ela se virou bruscamente para mim:
– Mãe, se você vier… por favor, ligue antes, tá?
– Você não está feliz que eu tenha vindo? – perguntei, tentando manter minha voz estável.
Ela mordeu o lábio, olhou para algum ponto além de mim:
– Estou feliz. Só que… assim fico mais tranquila.
Então, como se uma represa tivesse se rompido, ela desabafou:
– Ele fica nervoso quando algo não sai do jeito dele. Grita. Às vezes… pode ser agressivo. Diz que sou eu que o provoco. Eu não queria te contar para que você não ficasse preocupada. Ainda estamos nos adaptando. Vou consertar tudo. Só, mãe, não diga nada a ele, tá? Se ele souber que estou reclamando, será pior.
Ela falou, e tudo o que eu ouvia era um zumbido. Eu a olhava e pensava: esta é a minha menina, a mesma que um dia eu penteava as tranças, levava para a creche, cuidava do resfriado. Minha filha querida. E agora ela está diante de mim, justificando alguém que a maltrata física e verbalmente.
– Minha querida, – eu disse, – você entende que isso não é normal? Que um homem normal não faz a mulher viver com medo?
– Mãe, por favor, não começa, – ela imediatamente se fechou. – Você não entende. Todos têm brigas. Ele só é impulsivo. Eu também cometo erros, sou parcialmente culpada…
Eu queria dizer mais, mas ouvi a porta da varanda fechar com força. Ela se encolheu:
– É melhor você ir, por favor. E… não venha assim. Ele não gosta.
Voltei para casa como que em estado de choque. Sentei-me em uma cadeira e fiquei apenas olhando para o nada. Sentia queimar no peito, com um nó na garganta. Minha filha vive não uma vida, mas uma tensão constante. Contando passos, palavras, respiração. Com medo do próprio marido. E eu – mãe – fico entre a vontade de arrebentar a porta e resgatá-la à força e o medo de tornar as coisas ainda piores.
Uma pergunta não sai da minha cabeça: se eu me meter – ele pode se descontrolar, e se eu não fizer nada – ela está lá sozinha com seu medo. Eu entendo que ela é adulta, que esta é sua escolha, seu casamento, sua vida. Mas posso simplesmente assistir enquanto meu filho lentamente desaparece ao lado de alguém que causa medo?
E vocês, o que acham que uma mãe deve fazer nessa situação – arrombar aquela porta e salvar, arriscando tudo, ou ficar à margem esperando a filha decidir sair… e será que não pode ser tarde demais esse «sair»?




