Histórias

Quando eu tinha 7 anos, meu pai me arrumou para a escola pela primeira vez sem minha mãe. E esse dia se transformou em uma história que lembramos até hoje…

Na infância, era comum meu pai me preparar para a escola de manhã. Minha mãe saía para o trabalho mais cedo, e ele ficava encarregado de “me arrumar”. Normalmente, tudo acontecia de forma agitada: ele se apressava, sempre procurando algo, e fazia uma centena de perguntas consecutivas.

Eu ficava sentada na cadeira enquanto ele corria pela sala. Às vezes, me parecia que ele não tinha medo de não conseguir me vestir a tempo, mas de apenas não conseguir lidar com esse misterioso ritual matinal. Mas, no geral, tudo corria bem: ele me ajudava a colocar as meias-calças, abotoava os botões, e amarrava o cachecol com cuidado.

– Pronto! – disse ele, satisfeito consigo mesmo. – Rápido, preciso, sem perdas.

Eu sorri, peguei a mochila e fui para a escola.
Estava fresco, mas ensolarado. O humor estava ótimo: o dia prometia ser comum e tranquilo.

Até que algo estranho começou.
No caminho para a escola, algumas pessoas sorriam, outras se viravam para olhar. Decidi que era só impressão minha. Mas perto da escola, as risadas ficaram mais altas. Alguns riam, outros apontavam, e eu sentia algo apertar dentro de mim.

Subindo as escadas, finalmente olhei para baixo — e naquele momento, queria desaparecer.
Não havia saia. De forma alguma.
Meu pai, apressado, colocou meias-calças, blusa, casaco… e esqueceu a saia. Simplesmente esqueceu.
E eu fui assim – confiante, feliz, com minha mochila, sem nem perceber.

Na sala, todos riam. Fiquei sem saber onde me esconder. Queria desaparecer, me enfiar debaixo da mesa ou correr para casa.
A professora viu meu rosto, rapidamente veio até mim e me levou até o vestiário.
Após alguns minutos, trouxe um calção cinza da sala de ginástica.
– Não se preocupe, – ela disse com um sorriso. – Isso acontece.

Eu me troquei, enxuguei as lágrimas e voltei para a aula. Primeiro, foi embaraçoso, depois engraçado.
À hora do almoço, todos já tinham esquecido, mas eu ainda sentia um calor reconfortante pela professora me resgatar desse constrangimento.

À noite, quando voltei para casa, meu pai me encontrou na porta.
– Como foi o dia? – perguntou ele, satisfeito como sempre.
Abaixei os olhos e disse:
– Pai, você esqueceu de colocar a saia em mim.
Ele parou, depois olhou para mim em completo horror, e em segundos estava rindo. Um riso genuíno, contagiante, de chorar.

– O importante é que você não se atrasou! – ele disse, enxugando os olhos. – E a saia… bem, isso é detalhe.

Eu ri junto com ele.
Logo depois, ele pediu desculpas repetidamente, prometendo que isso não aconteceria de novo. E desde então, toda vez que me arrumava para a escola, murmurava para si mesmo:
– Meias-calças, blusa, saia, saia, saia…

Muitos anos se passaram desde então.
Agora eu entendo: sim, naquela época eu fiquei envergonhada, chorei e fiquei chateada.
Mas é em situações pequenas e constrangedoras como essa que se sente o verdadeiro amor.
Ele podia esquecer a saia, mas nunca esquecia de me dar um abraço e um beijo antes de eu sair de casa.

E às vezes penso: talvez o amor seja essa pressa, desajeito, a vontade de fazer tudo certo — e a constante falha em lembrar do mais óbvio.
Porque uma manhã perfeita e pais perfeitos não são as lembranças que ficam.
São essas que ficam. Com meias-calças e sem saia.

E você se lembra de um momento da infância quando tudo saiu errado, mas por isso se tornou a lembrança mais calorosa?

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