Trabalho como ginecologista, e outro dia uma mulher veio ao meu consultório, colocou os resultados de um ultrassom na mesa e disse que os encontrou em um táxi. Mas a verdade era mais assustadora do que eu pensava

Trabalho como ginecologista.
Um dia, uma mulher de cerca de trinta e cinco anos entrou no meu consultório, bem arrumada, lábios apertados, olhar atento. Colocou um envelope com o ultrassom na mesa e disse sem rodeios:
– Encontrei isso em um táxi. Queria devolver para a futura mamãe feliz.
Eu sorri profissionalmente, mas há uma regra para todos:
– Não pode ser assim. Sigilo médico. Eu mesma entregarei, se puder, mas não posso divulgar nada pelo nome.
Ela assentiu, mas seu olhar não vacilou. Seus dedos apertaram a borda do envelope até as juntas ficarem brancas. Houve uma pausa, e de repente ela soltou um suspiro:
– Ok. Eu menti. Não vim aqui por acaso. Preciso entender…
Silenciosamente, empurrei um copo com água. Ela deu um gole, como se estivesse engolindo um prego, e disse:
– No exame está escrito um sobrenome. Eu o conheço. É o sobrenome do meu marido. Na coluna «pai» está o nome dele.
A sala ficou muito silenciosa. Dava para ouvir o tique-taque do relógio acima da porta.
– No início, pensei que fosse coincidência, – ela continuou. – Mas depois vi o nome da sua clínica no envelope. Vim descobrir se foi um erro ou… tudo.
Ela pegou a imagem como se fosse ferro em brasa e abriu o envelope. Granulação cinza, perfil de uma cabecinha minúscula, números de datas. Início de gestação, batimento cardíaco normal. O papel não mente.
– Faz um ano e meio que estamos em tratamento, – ela sussurrou. – Exames, procedimentos, esperanças. Ele dizia que “ainda não era a hora”, “vamos deixar para depois”. E «depois», ao que parece, já tem um nome.
Eu sabia que não podia confirmar nem negar. Só podia estar ali e não piorar a situação.
– Não tenho o direito de discutir os dados alheios. Mas tenho o direito de dizer: você não fez nada de errado. Sua dor é real.
Ela assentiu, mas as lágrimas não caíam – seus olhos estavam secos como vidro.
– Encontrei este envelope no nosso carro, – ela disse. – Ele disse que era de um cliente que havia esquecido. Eu acreditei. Boba. Ontem à noite, revisei nossas mensagens, chamadas… Sabe o que mais dói? Não é a traição. É o silêncio. Ele simplesmente não dizia nada.
Estávamos sentadas frente a frente. Nessas horas, os pacientes não esperam receitas. Eles buscam um ponto de apoio.
– O que você quer fazer agora? – perguntei.
Ela soltou um sorriso sem alegria:
– Queria ouvir que foi um erro. Que você diria: “Oh, confundimos o sobrenome”. Mas você sinceramente se cala. Então, é verdade, e terei que viver com isso.
Ela se levantou, pegou o envelope novamente. Virou e… estendeu-o de volta para mim.
– Deixe aqui. Não quero carregar a vida de outra pessoa na minha bolsa. Estou cansada demais dos segredos dos outros.
– Você tem certeza?
– Sim. Deixe com o médico. Pelo menos lá nada é mentira.
Perto da porta, ela parou:
– Pensei que, se a dor fosse insuportável, faria algo estúpido. Mas olhei para essa imagem. A criança não tem culpa. Ninguém, além dos adultos, é culpado.
Ela se foi. Eu fiquei sentada por um bom tempo olhando para o grão cinza no papel. Nele – apenas biologia. E em torno dele – a vida de alguém desmoronada, a mentira de alguém, o silêncio de alguém que se estende por meses.
À noite, ela enviou uma curta mensagem para o número geral da clínica:
«Obrigada por não fazer perguntas desnecessárias. Conversei com meu marido. Agora ele que explique para alguém porque ainda “não é a hora”. E eu quero que um dia eu também tenha esse batimento cardíaco – perto, e não nas minhas costas».
Fechei o telefone e pensei: muitas vezes tememos a verdade porque ela vem sem palavras decorativas, uma figura fria em papel cinza. Mas às vezes é ela quem nos salva – não porque não dói, mas porque depois podemos tentar viver honestamente.
Diga-me, você teria coragem de abrir um envelope assim até o fim – e o que escolheria: fechar os olhos ou encarar a verdade, mesmo que doa?



